02/05/2012

Na falta de água potável, 150 países passam a usufruir dos mares



O governo iraniano anunciou no início desta semana a construção de uma usina de dessalinização destinada a abastecer a cidade de Semnan – 200 mil habitantes – situada à beira do deserto, no nordeste do país. A água será retirada do Mar Cáspio e transportada, depois de ser tratada, por uma tubulação de 150 quilômetros de comprimento que deverá atravessar a cordilheira de Alborz. O custo desse projeto está estimado em US$ 1 bilhão (R$ 1,88 bilhão).
Beber do mar: na falta de água doce, há cada vez mais países – 150, até o momento – recorrendo a essa solução. Não seria de fato a resposta do futuro, uma vez que há cada vez mais secas, que a população tem aumentado e que as tecnologias nesse domínio avançaram muito nos últimos vinte anos? "Não é a panaceia, mas é um procedimento útil em caso de escassez", diz com um sorriso Miguel Angel San, diretor de desenvolvimento e de inovação da Degrémont, filial da Suez Environnement.
No 6º Fórum Mundial da Água, realizado em Marselha no mês de março, todos os industriais do setor, fossem de Cingapura, de Israel ou do Japão, exibiam o mesmo ar de satisfação. Todos atestavam uma atividade em ascensão, ou até de um crescimento exponencial.
Atualmente, 66,5 milhões de metros cúbicos de água doce são produzidos em média no mundo a cada dia a partir de água do mar ou salobra, 8,8% a mais que em 2010. Os profissionais da Associação Internacional de Dessalinização (IDA) e da Global Water Intelligence registraram quase 16 mil usinas de dessalinização no mundo em 2011, 5% a mais que em 2010.
Diante das mudanças climáticas, do aumento do consumo por pessoa, do recrudescimento da poluição... tratar a água do mar torna-se uma opção plausível. Ainda mais pelo fato de que certos governos veem ali outra vantagem estratégica: garantir a independência de seus abastecimentos em relação a vizinhos com quem nem sempre eles se dão muito bem, protegendo-se assim de possíveis conflitos.
Então o que poderia conter a ascensão dessa atividade em plena ascensão? "A dessalinização tem dois problemas: o contexto econômico – a crise interrompeu diversos projetos em 2009-2010, que vêm sendo retomados desde então – e a aceitabilidade ambiental", responde Jean-Michel Herrewyn, diretor-geral da Véolia Eau. "É uma indústria que consome muita energia e que tem um impacto sobre a vida marinha. Até então o setor havia concentrado mais seus esforços no primeiro aspecto".
A Véolia é uma das gigantes do setor, com 800 usinas no mundo que produzem 9 milhões de metros cúbicos por dia. A Degrémont é outra; a filial da Suez construiu mais de 250 instalações dotadas de uma capacidade total de 2,7 milhões de metros cúbicos por dia, o suficiente para fornecer água a 10 milhões de habitantes.
"A energia representa mais da metade do custo da dessalinização", resume Miguel Angel San. "Mas os procedimentos mudam muito rapidamente. Incluindo o pré-tratamento e o bombeamento, nosso consumo é de 3,4 kWh por metro cúbico com a tecnologia da osmose inversa, ou seja, 10% a menos que três ou quatro anos atrás."
Os profissionais da IDA estabeleceram para si como meta reduzir 20% de suas necessidades energéticas, o que pode permitir diminuir as emissões de gases de efeito estufa, mas que atende, sobretudo, a uma exigência econômica.
Não é um acaso que a dessalinização industrial tenha se desenvolvido primeiramente nos países do Golfo, ricos em petróleo e em gás. São eles que, em sua maior parte, continuam a explorar as técnicas de destilação por evaporação e condensação: essas instalações consomem tanta energia que geralmente vêm acompanhadas de uma usina térmica.
O princípio, antigo, permite que se obtenha uma salinidade inferior a 10 miligramas por litro (uma água de superfície contém em média pelo menos o dobro disso). Além disso, a técnica da osmose inversa conquistou em alguns anos 66% da atividade da dessalinização, pois ela consome menos energia. Esse procedimento permite conter sob o efeito da pressão mais de 99,9% dos sais dissolvidos na água graças a um filtro membranoso. A água obtida dessa maneira deve então ser remineralizada antes de ser distribuída.
Para atender às exigências da Austrália, a quem ela já forneceu cinco usinas, a empresa Degrémont instalou um parque eólico ao lado da de Melbourne, a segunda maior instalação no mundo de osmose inversa segundo Miguel Angel San, com 450 mil metros cúbicos por dia.
Mas, por enquanto, não é possível do ponto de vista técnico fazer essas chaleiras gigantes funcionarem através de energias renováveis.
O custo da dessalinização, que é alto demais, torna-a inacessível aos países em desenvolvimento que mais precisariam dela. Seu impacto também é pesado no plano ambiental. Mesmo com um trabalho de resfriamento, a água permanece a uma temperatura vários graus acima da temperatura do mar no qual ela é lançada. Ela também é mais salgada e contém diversos resíduos químicos. Além disso, essa indústria não agrada aos defensores do meio ambiente que preferem recomendar o fim do desperdício, um uso racional e uma melhor distribuição de água.
"Sempre pensei que a minimização do impacto sobre o meio marinho condicionaria o desenvolvimento da dessalinização", garante Jean-Michel Herrewyn. "São os movimentos ambientalistas que hoje freiam diversos projetos na Califórnia e na Flórida. Nós continuamos trabalhando no tratamento de resíduos. Mas o descarte zero por enquanto é uma ilusão, ou então seria preciso dobrar o preço de custo ..."
Mas para ele o futuro está mais no avanço do tratamento das águas residuais do que na dessalinização: "Um setor duas ou três vezes mais dinâmico!"

Reportagem de Martine Valo para o jornal francês Le Monde
Tradutor: Lana Lim

foto:evolucaosustentavel.blogspot.com

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