Realmente, não poderia deixar de publicar esta reportagem hoje. São os "defensores" da ética que estão sob suspeita. Mesmo que ninguém mereça ser condenado previamente é desanimador esta triste realidade do Senado brasileiro.
Um em cada três integrantes dos Conselhos de Ética da Câmara e do Senado está
sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), onde tramitam os processos
contra deputados e senadores. Dos 63 congressistas (entre titulares e suplentes
indicados pelos partidos) que compõem atualmente os dois colegiados que terão a
missão de encaminhar os processos de cassação contra os parlamentares envolvidos
com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, 20 são alvos de inquérito ou ação penal na
corte máxima da Justiça brasileira.
Esses parlamentares, regimentalmente incumbidos de “zelar pela observância
dos preceitos” do Código de Ética e atuar na “prestação da dignidade do mandato
parlamentar”, respondem a 57 investigações no Supremo. As acusações vão de
crimes contra a administração pública e contra a Lei de Licitações, passando por
corrupção e apropriação indébita previdenciária.
No Senado, onde o Conselho aguarda a definição de novo presidente para
começar a investigar a conduta do senador Demóstenes Torres (GO), oito de seus
23 integrantes têm ao menos uma pendência judicial. Em cinco casos, os ministros
do Supremo já encontraram elementos contra dois senadores – o atual
vice-presidente e presidente em exercício do colegiado, Jayme Campos (DEM-MT), e
o presidente do PMDB, Valdir Raup (RO) – para transformá-los em réus.
Suplente do Conselho, Raupp responde a quatro ações penais por crimes
eleitorais, contra o sistema financeiro e desvio de verba (peculato). Presidente
em exercício do colegiado, Jayme Campos é acusado, em seu processo, de ter
falsificado documentos. Ele ainda tem contra si outros três inquéritos (fase
preliminar de investigação que pode resultar na abertura da ação penal) por
crimes contra a Lei de Licitações, de responsabilidade e contra a administração
pública em geral.
Provável presidente
Indicado ontem pelo PT para presidir o Conselho de Ética,
Wellington Dias (PT-PI) também é investigado em dois inquéritos. Um dos
procedimentos apura a responsabilidade do ex-governador piauiense no rompimento
de uma barragem no interior do estado, em 2009, que deixou nove mortos e 2 mil
desabrigados. A suspeita é de crime contra a vida e prevaricação (quando uma
autoridade se omite de suas funções).
Em maio daquele ano, cerca de 2,6 mil famílias chegaram a ser removidas por
causa da iminência de rompimento da barragem. Mas, após vistorias das equipes de
engenharia do governo, que afastaram o risco, foram autorizadas a voltar para
casa. Dias depois, ocorreu a tragédia. As famílias buscam indenizações na
Justiça. O outro inquérito investiga o envolvimento de Wellington Dias em
denúncias de irregularidades na construção de um trecho do metrô de Teresina,
também durante sua gestão.
Inversão de papéis
A composição do atual Conselho de Ética abriga também quem, até outro dia,
estava do outro lado do balcão. Caso do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que
teve sua cassação recomendada duas vezes pelo colegiado em 2007, e escapou da
perda do mandato nas duas ocasiões graças aos votos secretos em plenário. Renan
tem atualmente duas pendências no Supremo. Uma delas apura se um lobista pagou,
em nome do senador, pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem o peemedebista
tem uma filha. Essa denúncia rendeu o primeiro pedido de cassação contra ele. Na
ocasião, um dos principais algozes dele no colegiado foi justamente o senador
Demóstenes Torres, em uma inesperada inversão de papéis.
Naquele ano, Renan foi alvo de cinco representações no Conselho de Ética do
Senado. Além da denúncia de ter contas pagas por um lobista, também avançou no
Conselho a acusação de que ele usou laranjas na compra de veículos de
comunicação em Alagoas. O alagoano preservou o mandato, mas teve de renunciar à
presidência da Casa. Nos bastidores, Renan trabalha para voltar ao comando do
Senado no próximo ano.
Mais um representante da alta cúpula do PMDB igualmente na lista de
integrantes do Conselho de Ética e de processados no STF é o ex-líder do governo
Romero Jucá (RR).
Orçamento
Outros senadores envolvidos em denúncias recentemente também aparecem na
lista dos integrantes do Conselho de Ética sob investigação no Supremo. Gim
Argello (PTB-DF) foi obrigado a renunciar à relatoria da proposta orçamentária,
em 2010, após ser acusado de direcionar emendas do orçamento para entidades
fantasmas. Gim é investigado em dois inquéritos – um por crime contra a Lei de
Licitações e outro por apropriação indébita e lavagem de ocultação de bens.
O senador Mário Couto (PSDB-PA), que responde a inquérito por
crime eleitoral no STF, teve seu nome envolvido nos últimos meses em
investigação movida pelo Ministério Público do Pará, que trata de indícios de
irregularidades diversas, como fraudes em licitações e nas folhas de pagamento
de servidores da Assembleia Legislativa, entre 2003 e 2007, período em que a
Casa era presidida pelo tucano. Em janeiro, o Ministério Público Estadual entrou
no Tribunal de Justiça paraense com uma ação civil pública pedindo o bloqueio de
bens do senador e outras 15 pessoas, sob a acusação de ter cometido improbidade
administrativa.
Reportagem de Edson Sardinha, Mario Coelho e Mariana Haubert
fonte:http://congressoemfoco.uol.com.br/um-terco-dos-conselhos-de-etica-na-mira-do-stf.html
foto:ojovemcidadao.blogspot.com

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