Morreu na noite de ontem (27), aos 87 anos, o escritor Millôr
Fernandes (foto acima). Desenhista, dramaturgo, poeta e jornalista, ele faleceu em sua casa,
no Rio de Janeiro, em decorrência de falência múltipla de órgãos. O velório será
realizado hoje (29), no Rio de Janeiro.
Nascido em 16 de agosto de 1923, no Meier, bairro do Rio de Janeiro, Millôr
deveria ter se chamado Milton Viola Fernandes. Porém, por causa de uma
caligrafia duvidosa, foi registrado como Millôr - fato só descoberto por ele aos
17 anos.
Em 15 de março de 1938, deu o primeiro passo na carreira de jornalista,
assumindo o ofício de repaginador, factótum e contínuo no semanário “O
Cruzeiro”. No mesmo período, Millôr ganhou um concurso de contos na revista “A
Cigarra” utilizando o pseudônimo Notlim. Posteriormente, ao assumir a direção da
publicação, passou a assinar seus artigos, publicados na seção "Poste Escrito",
como Vão Gogo.
Três anos mais tarde, em 1941, o jornalista voltava a colaborar com “O
Cruzeiro”, dando início aos 18 anos da coluna "O Pif-Paf" e ao momento áureo da
revista, que passou dos 11 mil exemplares tradicionais a 750 mil.
Sucesso no país, Millôr dividiu o primeiro lugar na Exposição Internacional
do Museu da Caricatura de Buenos Aires com o desenhista norte-americano Saul
Steinberg, em 1955.
Dois anos mais tarde, suas obras ganhavam uma exposição no Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro.
Em 1962 abandonou o pseudônimo Vão Gogo e assumiu o nome Millôr em seus
trabalhos. Ele deixou “O Cruzeiro” no ano seguinte, após uma polêmica causada
pela publicação do texto "A Verdadeira História do Paraíso", criticada pela
Igreja Católica.
Em protesto à sua demissão, Millôr lança em maio de 1964 a publicação
quinzenal “O Pif-Paf”, utilizando como jargão editorial "não temos prós nem
contras, nem sagrados nem profanos". (Quinze anos mais tarde, ainda com o país
sob a ditadura militar, a revista seria apontada como o ponto inicial da
imprensa alternativa no Brasil pelo serviço de informações do Exército.)
O Pasquim
Após passagens pelo jornal português “Diário Popular” e pela revista “Veja”,
Millôr participou em 1969 da fundação do jornal “O Pasquim”. Ao seu lado,
estavam os cartunistas Jaguar e Ziraldo e os jornalistas Tarso de Castro e
Sérgio Cabral.
Tendo o humor como foco,, o semanáro adotou tom politizado e criticava a
repressão da ditadura. Nesse período, a publicação tornou-se um dos maiores
fenômenos do mercado editorial brasileiro, ultrapassando a marca de 200 mil
exemplares.
Millôr assumiu a editoria do “Pasquim” a partir de novembro de 1970, mês em
que a redação inteira do jornal foi presa após publicar uma sátira do quadro
"Independência ou Morte", do pintor Pedro Américo. Graças a Millôr, o jornal
manteve sua circulação, o que frustrou o objetivo dos militares – os jornalistas
presos foram liberados em fevereiro do ano seguinte.
Em 1975, Millôr deixou "O Pasquim" após escrever o editorial de seu número
300, intitulado "Sem censura". Nele, o cartunista informava ao leitor que desde
24 de março daquele ano o jornal se encontrava livre da censura prévia. Porém,
encerrava seu expediente afirmando que "sem censura não quer dizer com
liberdade".
A última edição da primeira fase do "Pasquim" foi publicada em 11 de novembro
de 1991, tendo como único integrante da equipe original o cartunista Jaguar.
Colaborador da revista "Veja" de 1968 a 1982 e de setembro de 2004 a setembro
de 2009, Millôr processou o veículo da Editora Abril quando seu conteúdo foi
colocado na internet - fato não previsto no contrato de seu primeiro período
como colunista. O autor pedia uma indenização de R$ 500 mil.
Além das publicação na mídia diária, Millôr se notabilizou como autor de
peças teatrais, como "Liberdade, Liberdade", "É..." e "Bons Tempos, Hein?!". Nas
letras, publicou dezenas de prosas, como "Trinta Anos de Mim Mesmo", "Novas
Fábulas Fabulosas" e "Millôr Definitivo - A Bíblia do Caos".
Em 2000, lançou o site "Millôr Online", espaço utilizado para pesquisa de
textos antigos e publicação de novos materiais. A última atualização ocorreu em
junho de 2011.
Relembre algumas destas frases inesquecíveis de Millôr Fernandes:
"Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem".
"A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de
todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades".
"Viver é desenhar sem borracha".
"As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando
seu estoque de verdades".
"Não devemos resistir às tentações: elas podem não voltar".
"Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela
não dura muito".
"Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de
coisas a que dizer adeus".
"Não é que com a idade você aprenda muitas coisas; mas você aprende a
ocultar melhor o que ignora".
foto: exame.abril.com.br
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