31/03/2012

França ultrapassa os limiares de alerta de poluição do ar


Várias cidades têm desrespeitado as normas da comunidade europeia. Bruxelas se prepara para acionar o Tribunal de Justiça Europeu.Sol e calor durante o dia, frio à noite, falta de ventos... Todas as condições estão reunidas para que a França registre picos recordes de poluição atmosférica. Desde o início do mês de março, o limiar de alerta para a poluição por partículas finas - 80 microgramas por metro cúbico (#g/m3) – foi ultrapassado quatro vezes, sendo três dias consecutivos (24 a 26 de março) na área metropolitana de Paris.
A administração de Paris reduziu em 20 km/h a velocidade nas estradas da região. Se esse limite de poluição ainda for ultrapassado, Martine Monteil, secretária da zona de defesa de Paris, anuncia que outras medidas poderão ser aplicadas, sobretudo “a via perimetral da Île-de-France para os caminhões de transporte internacional”.
A situação é alarmante: desde o início do ano, foram registradas 23 ultrapassagens de limites de poluição autorizadas pela comunidade europeia (50#g/m3) na capital. Bruxelas autoriza somente 35 delas dentro de um ano.
Um perigo para a saúde
Essas partículas representam um perigo para a saúde. Para a Dra. Isabella Annesi-Maesano, diretora de pesquisa no Instituto Nacional de Saúde e de Pesquisa Médica (Inserm), que coordena o grupo de trabalho sobre a poluição pelas partículas do ar do Comitê Superior de Saúde Pública, “350 mil mortes prematuras seriam registradas por ano dentro da União Europeia por causa da poluição atmosférica”. Diferentes estudos avaliam que há uma perda de 6 a 9 meses de vida para as populações expostas.
Na França, outras regiões metropolitanas – Lyon, Marselha, Grenoble – costumam ultrapassar os limites de poluição. Nos últimos dias, as regiões de Nord-Pas-de-Calais, Normandia e Borgonha não foram poupadas. Embora o tráfego rodoviário seja apontado como uma das causas, especialmente o dos veículos movidos a diesel, o adubamento agrícola e as atividades industriais também contribuem para essa poluição.
O comissário europeu para o Meio Ambiente, Janez Potocnik, quer fazer de 2013 o “Ano do Ar”, pedindo por um endurecimento das leis dentro da União no domínio da qualidade do ar, sendo que a França faz parte dos 16 maus exemplos da Europa. No dia 19 de maio de 2011, Bruxelas decidiu convocar o país para o Tribunal de Justiça Europeu “por desrespeito aos valores-limites da qualidade do ar aplicáveis às partículas em suspensão”.
“O projeto de requisição ainda está sendo analisado pela Comissão para permitir uma abordagem padronizada para todos os Estados que não respeitem os limites”, explica Robert Flies, porta-voz para o meio ambiente da Comissão Europeia. Portugal e Itália já estão à espera de seu julgamento. Assim que este for conhecido (nas próximas semanas), a Comissão deverá então transmitir sua requisição para o Tribunal de Justiça a respeito da França. A Espanha e a Bélgica terão o mesmo destino.
Para respeitar a regulamentação sobre a qualidade do ar, a Suécia, a Alemanha, a Áustria, o Reino Unido, a Dinamarca, a Itália e a Holanda já criaram “zonas de baixas emissões”, restringindo o acesso de determinados veículos poluentes a suas metrópoles. Nesses perímetros, a redução das emissões diretas de partículas é significativa. Ela atinge 40% na Suécia.
Para dar garantias a Bruxelas, o governo francês estabeleceu como meta diminuir em 30% as partículas no ar até 2015. Como parte da Grenelle do Meio Ambiente, foi lançada uma chamada para projetos, em julho de 2010, para incentivar as cidades com mais de 100 mil habitantes a experimentar zonas de ações prioritárias para o ar (ZAPA). Oito metrópoles deverão apresentar suas propostas ao longo do mês de junho.
Medidas fiscais
Os ambientalistas acusam a França de ter favorecido, através de incentivos fiscais, a compra de veículos a diesel, grandes emissores de partículas finas, sobretudo para satisfazer as montadoras nacionais. “Temos o parque automobilístico mais ‘dieselizado’ do mundo”, acusa Denis Baupin, vice-prefeito (partido Europe Ecologie Les Verts) de Paris encarregado do Plano para o Clima.
Eva Joly, candidata ecologista para as eleições presidenciais, denuncia “a inação do governo” diante “dessa tragédia sanitária”, pedindo-lhe para implementar a via perimetral das cidades para os caminhões em trânsito, criar na França uma Agência do Ar e acabar com qualquer vantagem fiscal para uso do diesel. “Em vez de agir, o governo prefere pedir às pessoas que se protejam”, protesta a candidata.


Reportagem de Rémi Barroux e Sophie Landrin para o jornal francês Le Monde
Fonte:http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2012/03/28/franca-ultrapassa-os-limiares-de-alerta-de-poluicao-do-ar.htm
Tradutor: Lana Lim
foto:noticias.terra.com.br

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