24/03/2012

Após mortes em escola da França, a dificuldade dos professores em abordar o tema com alunos

Como explicar, entender e perdoar um ato de extrema violência e insanidade? Como abordar a questão com alunos que assim como toda a sociedade francesa e internacional ficou perplexa? E mais do que isso, como impedir que a revolta e a dor provocadas por estas mortes não alimente o racismo, o desejo de exclusão e a vingança?


O minuto de silêncio decidido pelo presidente da República, Nicolas Sarkozy, às 11h da última terça-feira (20), nas escolas, colégios e liceus, não causou polêmica na rede de ensino nacional. Saudado pela federação UNSA-Education, pela associação de pais de alunos PEEP e pelas escolas católicas, ele foi considerado “apropriado” tanto por Daniel Robin, do sindicato de professores do segundo grau SNES-FSU, quanto por Christian Chevalier, do SE-UNSA.
“A ideia é conscientizar toda a comunidade escolar de que esse é um ato odioso”, disse o primeiro. “O fato de que a comunidade do setor educacional está se unindo simbolicamente tem um sentido”, afirmou o segundo. “Mostra a repulsa a essa violência gratuita e é o mínimo que se pode fazer pelas famílias das vítimas”, completou. No entanto, muitos professores receberam com preocupação, se não com reticência, o pedido do presidente da República e de seu ministro da Educação Nacional, Luc Chatel. E não foi só no ensino primário.

“Como responder às perguntas dos alunos?”, questiona um professor de história e geografia de um colégio de Seine-Saint-Denis, que prefere permanecer anônimo. “Os adolescentes precisam de respostas claras sobre as circunstâncias da chacina. Senão, deixa-se o campo livre para suas angústias. E ainda não temos essas respostas!” Um professor da 3ª série [alunos de 14 anos], no mesmo departamento, teve uma reação parecida. “Estou emocionado demais para abordar o tema em classe”, ele conta.
“É o tipo de iniciativa que se discute na sala dos professores”, explica Romaric Roudier, professor de matemática em um liceu, também em Seine-Saint-Denis, “e isso sempre termina da mesma maneira: cada um, em sua classe, é livre para fazer... ou não fazer o que quiser. Vou conversar a respeito com meus alunos, ver se há uma necessidade por parte deles.”

“Espaço de expressão”

No primeiro grau, o mesmo estado de espírito prevalece: a vontade de ser solidário e o temor de não saber responder às perguntas dos alunos. “A resposta do Estado frente à tragédia é oficializar a necessária solidariedade que todos nós devemos demonstrar”, observa Sébastien Sihr, do sindicato SNUipp-FSU. “Para as crianças, dentre as quais algumas terão ouvido falar da chacina em casa ou na televisão, o minuto não basta”, ele diz. “É também papel da escola abordar questões da atualidade e confiamos em nossos colegas para explicar a situação, com benevolência e palavras simples”.

Encontrar as “palavras simples”: é exatamente essa a dificuldade. “Há certas coisas que não se consegue explicar nem explicitar, só se deve aprender a receber sua intensidade”, afirma Ostiane Mathon, professora primária em Paris. “O silêncio pode contribuir para isso. E se algumas crianças têm necessidade de falar, também me parece bom lhes deixar um espaço de expressão. Há poucas respostas para muitas perguntas. São estas últimas que é preciso conseguir entender. E se algumas crianças não querem nem silêncio, nem palavras, acho que é preciso respeitar isso também. Não impor nada, mas abrir espaços de acolhimento”.

“A única vez em que fiz respeitar um minuto de silêncio em classe foi na ocasião dos atentados de Madri, e guardo uma lembrança pesada dele”, conta uma professora de jardim de infância do departamento de Morbihan. “Meus alunos me parecem novos demais para abordar essa tragédia... a menos que eles mesmos falem a respeito. Somente então me sentirei em meu papel, o de atender a suas expectativas”.

No dia 12 de janeiro de 2010, o ministro Luc Chatel já havia pedido por um minuto de silêncio em memória de Hakim, 18, morto depois de ser agredido em sua escola, em Val-de-Marne. Um minuto “em todos os liceus e colégios da França”, ao qual “as escolas primárias também podiam se associar voluntariamente”.

Reportagem de Mattea Battaglia e Aurélie Collas para o jornal francês Le Monde
Tradução de Lana Lim
foto:band.com.br

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