São 330 mil hectares da província argentina de Río Negro que seu governador anterior considerava improdutivos. A maior empresa de alimentos da China, a estatal Heilongjiang Beidahuang, quer transformá-los em um pomar para garantir a provisão de alimentos durante 20 anos. A Río Negro e a companhia oriental assinaram no ano passado um acordo pelo qual a província na Patagônia alugará essas terras a agricultores para que a empresa invista ali em irrigação. Mas o projeto foi congelado por um recurso judicial apresentado por políticos e ecologistas temerosos de seu impacto ambiental.
Precisamente a Argentina sancionou na semana passada uma lei que limita a
compra de terras por parte de estrangeiros a 15% de seu território. Essa norma
não restringe o aluguel de terras, que é um dos mecanismos que outros países
usam para ficar com o produzido em território latino-americano, segundo um
recente relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
Agricultura (FAO na sigla em inglês).
A FAO advertiu sobre "intensos processos de concentração e estrangeirização
de terras" na América Latina. A organização compara a situação com a da década
de 1970 e indica que por enquanto em apenas dois países, Argentina e Brasil,
ocorre o fenômeno de "acaparamento" de terras por parte de outros países para a
produção de alimentos. Concretamente, China, Coreia do Sul, Arábia Saudita e
Catar negociam ou já concretizaram a compra ou aluguel de terras nessas duas
potências agrícolas. Em um mundo em que a população aumenta e também a
desertificação, os alimentos são cobiçados.
"Há um ressurgimento maciço do interesse por investir em terras na região",
disse o consultor da FAO Saturnino Borras, em um recente seminário da entidade
em Santiago do Chile. Desde 2003 o aumento do preço das matérias-primas
agrícolas, mas também de minérios e hidrocarbonetos, atraiu investidores
privados e países estrangeiros.
O relatório da FAO configura uma lista de países com "alta" concentração em
mais de cinco produtos agrícolas: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Uruguai,
México, Nicarágua, Panamá, República Dominicana e Guiana. Outra relação se
refere aos países com "alta" presença de investimento estrangeiro. Nela figuram
todos os países mencionados, com exceção do Panamá, e alguns outros mais, como
Bolívia, Equador, Paraguai e Peru. Em 2010, o então presidente brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva, estabeleceu que os estrangeiros não podem dominar mais de
25% do território. No Brasil, Bolívia, Paraguai, Equador e Venezuela estão em
curso reformas agrárias.
"Os governos da região devem encontrar formas de garantir que os processos de
concentração e estrangeirização de terras não tenham efeitos negativos sobre a
segurança alimentar, o emprego agrícola e o desenvolvimento da agricultura
familiar", opinou Fernando Soto-Baquero, funcionário da FAO.
Reportagem de Alejandro Rebossio
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2011/12/28/estrangeiros-alugam-terras-latino-americanas-para-se-beneficiar-da-riqueza-do-solo.jhtm
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
foto:visitingargentina.com
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