13/10/2011

Dados econômicos agitam a campanha de Cristina Kirchner na Argentina

A campanha eleitoral para as presidenciais argentinas do próximo dia 23 se desenvolve em tom menor e com a convicção fomentada por todas as pesquisas de opinião de que a presidente Cristina Fernández de Kirchner (foto esq.) renovará seu mandato sem muitos problemas. No entanto, os últimos dados econômicos introduziram uma certa inquietação e a presidente e seu governo começam a admitir que a segunda onda da crise econômico-financeira internacional poderá obrigá-los a tomar medidas de ajuste totalmente descartadas, pelo menos no discurso público, até poucas semanas atrás.
A incipiente preocupação do governo não se deve à pressão que possa estar exercendo a oposição, muito dividida e absorvida em debates internos, senão ao efeito combinado da baixa de preços de algumas matérias-primas, entre elas a soja, e a situação do Brasil, o grande vizinho, que já está tomando sérias medidas para desacelerar o crescimento, permitir aumentos muito controlados de inflação e proteger sua moeda, o real, contra o dólar, através de uma desvalorização de 18%. O governo brasileiro de Dilma Rousseff também se mostra muito menos tolerante do que foram os governos de Lula com os repentinos fechamentos das aduanas argentinas. Tudo isso, somado à crise europeia e ao frágil crescimento dos EUA, começa a disparar os alarmes na América Latina em seu conjunto e na Argentina em particular. E a mudar o discurso oficial da Casa Rosada.
A economia argentina já não aparece somente como "forte" e "preparada", a mensagem que dominou nos últimos três anos, mas começam a vazar mensagens lembrando que nenhum país pode permanecer à margem das crises globais. A economia, que cresceu em um ritmo formidável nos últimos anos, está muito melhor preparada do que esteve em épocas passadas, afirma-se, mas ainda assim poderá padecer dos turbilhões internacionais e precisar cortar alguns dos subsídios com que hoje fomenta o consumo.
A oposição parece incapaz de "perfurar" o debate político e colocar as previsões econômicas no centro da campanha. Nos últimos dias, por exemplo, a discussão interna entre os diversos grupos de oposição gira em torno de qual poderia ser a posição de cada um deles diante de uma eventual reforma constitucional, coisa que não está na ordem do dia.
A presidente, por sua vez, aproveitou os dias anteriores à proibição de participar de atos oficiais durante a campanha eleitoral "formal" para desenvolver uma formidável agenda de inaugurações, visitas a fábricas e anúncios de variadas obras públicas, tanto nas províncias como no entorno de Buenos Aires. Sua intensa atividade permitiu que estivesse presente em todos os meios de comunicação, rodeada de uma imagem de eficácia e obra realizada.
O lema principal da campanha de Fernández, presente em todos os cartazes e anúncios de televisão, é "Força Cristina", a mensagem que milhares de pessoas gritaram durante o enterro de seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, morto em 27 de outubro passado. Em muitos desses anúncios, a imagem da presidente aparece de costas e levantando os braços, diante de um público que a ovaciona e cheio de bandeiras argentinas. A foto, surpreendente porque não permite ver seu rosto, tem um forte impacto visual e reminiscências da estética dos grandes concertos de rock.
Menos impactantes são as que mostram a presidente com o candidato a vice-presidente, Amado Boudou. O nome do candidato faz que os cartazes que o mostram em grandes caracteres, salientados com uma foto de frente de Cristina Fernández, podem enganar os turistas e provocar algumas brincadeiras, mas não entre os argentinos, dos quais já não chama a atenção.

Reportagem de Soledad Gallego-Díaz para o jornal espanhol El País
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2011/10/13/dados-economicos-agitam-a-campanha-de-cristina-kirchner-na-argentina.jhtm
foto:estadao.com.br
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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