14/06/2011

Empresas estão gastando em equipamento, não em funcionários


Será este o novo rumo das relações trabalhistas? 







As empresas em busca de um bom negócio não estão vendo um em novos funcionários.Os trabalhadores estão ficando mais caros enquanto equipamentos estão ficando mais baratos, e a combinação está encorajando as empresas a gastarem em máquinas, em vez de gastarem em pessoas.
“Eu quero ter o mínimo de pessoas possível tocando nossos produtos”, disse Dan Mishek, diretor-gerente da Vista Technologies, em Vadnais Heights, Minnesota. “Tudo deve ser o mais automatizado possível. Nós não podemos competir em custos trabalhistas com países como a China, especialmente quando os trabalhadores estão ficando cada vez mais caros.”A Vista, que faz produtos de plástico para fabricantes de equipamentos, gastou US$ 450 mil em tecnologia no ano passado. Durante o mesmo período, ela contratou apenas dois funcionários, cujos salários e benefícios combinados somam US$ 160 mil.Dois anos após o início da recuperação, a contratação ainda está dolorosamente lenta. A economia está produzindo tanto quanto produzia antes da recessão, mas com 7 milhões de vagas de trabalho a menos. Desde o início da recuperação, os gastos das empresas em equipamentos cresceram 2% e os gastos em software cresceram 26%, segundo o Departamento de Comércio. Uma recuperação tão alta do capital e uma recuperação tão lenta do trabalho só foram registradas uma vez antes –após a  recessão de 1982.Com a queda dos preços dos equipamentos e incentivos fiscais subsidiando os investimentos em capital fixo, essas tendências provavelmente continuarão. “As empresas estão apenas respondendo aos incentivos”, disse Dean Maki, economista chefe para os Estados Unidos da Barclays Capital. “E o capital tem ficado muito mais barato em relação à mão-de-obra.”De fato, os preços de equipamentos e software caíram 2,4% desde o início da recuperação, graças em grande parte à manufatura no exterior.  Os custos trabalhistas, por outro lado, subiram 6,7%, segundo o Departamento do Trabalho. O aumento dos custos de indenização é movido em grande parte pelos benefícios de saúde mais caros, de forma que os trabalhadores felizardos por terem um emprego não estão exatamente se sentindo mais ricos.Os lucros corporativos, por sua vez, estão atingindo altas recordes, e as empresas estão  guardando dinheiro. Muitas das empresas que estão considerando contratar dizem que têm medo devido aos futuros custos incertos de planos de saúde e outros benefícios. Mas com a bênção de seus contadores, essas mesmas empresas estão comprando tratores, computadores e outros bens baratos, subsidiados por incentivos fiscais. “Nós tivemos uma oportunidade de comprar equipamento com grande desconto”, explicou Mishek sobre sua decisão de investir mais em equipamento do que em funcionários. “Agora que a economia melhorou um pouco, fazia sentido realizar uma atualização.”Contratar funcionários apresenta alguns custos escondidos, assim como despesas com salários e benefícios, acrescentou Mishek. “Eu temo o processo pelo qual temos que passar quando trazemos alguém”, ele disse. “Quando temos uma vaga de trabalho atualmente, nós recebemos uma enxurrada de currículos de pessoas nem um pouco qualificadas: pessoas com erros ortográficos em seus currículos, que nunca trabalharam no setor e que querem mudar de carreira, sair do setor imobiliário e coisas assim. É uma distração imensa esse processo seletivo.”Selecionar  os currículos leva três dias. Então ele precisa separar tempo para entrevistar os candidatos e gasta US$ 150 em cada exame antidrogas.Assim que um trabalhador é contratado, essa pessoa precisa completar um programa federal de segurança obrigatório, que a Vista paga US$ 7 mil por ano para uma empresa realizar. Finalmente, os melhores funcionários da Vista passam vários meses  treinando o novo contratado, reduzindo sua própria produtividade.“Você não precisa treinar máquinas”, observou Mishek. Os economistas geralmente vibram com gastos em capital fixo e apoiaram os incentivos fiscais para investimento em capital fixo, como a depreciação dos bônus, que permite às empresas descontar o custo pleno das compras imediatamente, em vez de terem que esperar vários anos. Isso porque o capital fixo e a mão-de-obra podem ser complementares: uma empresa que compra um novo caminhão frequentemente também contrata um novo motorista.Mas com o aumento dos custos de contratação, empresas como a Vista estão encontrando formas de usar o capital para substituir os trabalhadores cujas funções são relativamente rotineiras. “Se você faz algo que pode ser executado de modo programático, por um algoritmo, você será substituído rapidamente”, disse Claudia Goldin, uma economista de Harvard.Para piorar ainda mais, grande parte do equipamento usado para substituir os trabalhadores americanos é feito por trabalhadores no exterior, o que significa que os gastos em capital fixo estão indo para o exterior. Das quatro peças de equipamento compradas pela Vista no ano passado, apenas uma foi produzida domesticamente. As outras vieram de Israel, Suíça e da Alemanha. (“Eu tento não comprar produtos chineses tanto no trabalho quanto em casa”, disse Mishek.)É claro que a mudança para uma produção mais automatizada já ocorria antes da Grande Recessão. E a longo prazo, tecnologia melhor cai de preço, melhora o padrão de vida e ajuda o trabalhador a passar para empregos mais bem remunerados. Foi o que aconteceu com a mecanização do campo, que há um século empregava 41% dos trabalhadores americanos. “Nós não temos 11 milhões de desempregados no campo atualmente porque, com o tempo, os trabalhadores rurais e seus filhos se transferiram para diferentes setores”, diz William C. Dunkelberg, economista-chefe da Federação Nacional das Empresas Independentes. “Nós geralmente não sofremos esse tipo de choque, apesar disso deslocar muitos trabalhadores ao mesmo tempo.”Tecnologias melhores podem gerar melhores oportunidades de emprego, mas apenas se as pessoas puderem atualizar seus conhecimentos rápido o bastante para se qualificarem. Isso é algo difícil de fazer a curto prazo, especialmente quando tantos trabalhadores deslocados precisam passar por uma reciclagem ao mesmo tempo.“As pessoas não parecem chegar com o conhecimento certo para trabalhar na manufatura moderna”, disse Mishek, notando que os candidatos frequentemente são deficientes em computação, matemática, ciências e contabilidade. “Parece que a tecnologia evoluiu mais rápido que as pessoas.”Alguns economistas apóiam políticas que poderiam recuar um pouco dos gastos em capital fixo.Andrew Sum, um economista da Universidade do Noroeste, defende incentivos fiscais para contratação, semelhantes aos para investimento em capital fixo. O Congresso aprovou um crédito fiscal para contratação seguindo as mesmas linhas no ano passado, mas ele ainda não foi publicado e alguns dizem que foi mal concebido. A proposta estaria circulando novamente em Washington.Austan Goolsbee, chefe do Conselho dos Consultores Econômicos do presidente, e muitos outros economistas dizem que os preços relativos de mão-de-obra e capital não são o verdadeiro problema. O maior obstáculo é que as empresas odeiam investir quando o crescimento econômico está tão baixo.A demanda precisa crescer para que os empregadores fiquem mais à vontade com vários tipos de investimento, humanos ou não, disse Dunkelberg.Considere o exemplo do boom dos anos 90, ele disse: naquela época, como agora, o capital fixo estava ficando rapidamente mais barato em relação à mão-de-obra, e naquela época, como agora, as empresas estavam investindo mais em capital fixo do que em mão-de-obra. Mas as empresas estavam investindo tanto dinheiro que os gastos em pessoal também cresceram muito. Com uma torta econômica muito maior, poucos se importavam com a forma como as fatias eram cortadas.


Resportagem de Catherine Rampell para o jornal norte-americano The New York Times
Tradução: George El Khouri Andolfato
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2011/06/10/empresas-estao-gastando-em-equipamento-nao-em-funcionarios.jhtm
foto: abrhnacional.org

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