21/12/2016

Por que você não deve ameaçar seu filho dizendo que o Papai Noel não vai trazer presentes

Artigo de Mónica Serrano Muñoz, psicóloga colegiada M-26931. Terapeuta familiar, especializada em desenvolvimento pessoal e acompanhamento da maternidade consciente e criação respeitosa. Diretora do programa de formação de especialistas em maternidade e criação "Maternidade Feliz, Criação Respeitada". 

No período que antecede o Natal há muitos clássicos, mas certamente o que leva a medalha de ouro é a típica ameaça de pais, avós e outros familiares feita às crianças e que se traduz na temida frase: "Se você se comportar mal, o Papai Noel não vai te trazer brinquedos". O fato é que o objetivo é amedrontar as crianças da casa para que se comportem bem.
Os fins justificam os meios? É bom fazer essas ameaças para conseguir o que de outra forma parece que não conseguiríamos? A psicóloga Mónica Serrano acredita que é um erro usar essa "técnica" se queremos que nossos filhos se comportem bem. Ela considera que é um modo de agir que rompe muitas coisas boas dentro do pensamento das crianças: "A figura do Papai Noel representa a ilusão infantil de receber, em forma de presentes, a amabilidade e o carinho adulto de uma maneira mágica. Dura apenas alguns anos, porque o mistério é quebrado com a evolução cognitiva, resultando no fim do pensamento mágico", explica.
"No entanto, é muito comum que os mais velhos, com uma perspectiva centrada no adulto, utilizem esses personagens como moeda de troca para fazer com que as crianças se comportem como eles desejam". Essa ameaça focada nos presentes não só afeta a possível recepção dos mesmos como também transmite a ideia de que o Papai Noel é um ser mágico não tão amigável quanto a priori poderia parecer e, por isso, "o transforma em juiz que premia ou castiga de acordo com a conduta da pessoa, em um ser capaz de sentenciar e penalizar as crianças", acrescenta a especialista.
Tudo isso tem consequências na vivência da criança e na relação com os pais, pois todos eles acabarão sabendo quem é realmente o Papai Noel. Assim, uma vez superado o pensamento mágico, essas figuras ilusórias representam as figuras materna e paterna. Portanto, a psicóloga acredita que as ameaças e chantagens centradas nos presentes trazem experiências negativas no desenvolvimento da pessoa em sua infância.
Consequências negativas de ameaçar com um Papai Noel vingativo
1. Quando se ameaça uma criança dizendo que o Papai Noel não vai dar presentes se ela não "se comportar bem", está sendo negado o fato de que ela é um ser valioso em si mesmo, independentemente de como se comporte. Estamos condicionado o amor à criança ao seu comportamento. Dado que essa figura mágica representa, na realidade, os pais, quando a usamos como ameaça estamos transmitindo a ideia de que nosso amor não é incondicional, mas que está sujeito ao comportamento da criança.
2. Relacionado ao que acaba de ser mencionado, as chantagens e ameaças desse tipo, embora em muitos casos nunca cheguem a se concretizar, afetam negativamente a autoestima da criança. Essas ameaças transmitem à criança a ideia de que ela não é merecedora de receber presentes, que deve se esforçar para merecê-los, que seu valor pessoal não é suficiente para receber esses presentes. Realmente, as ameaças e chantagens com os presentes de Natal transmitem à criança a mensagem: "você não é importante".
3. As ameaças em nome do Papai Noel incitam as crianças a obedecer em função do medo de perder os presentes, o que limita muitíssimo o diálogo, a compreensão mútua e a ação segundo o critério próprio. A criança que tem de ceder a esse tipo de chantagem obedece cegamente, perdendo assim a oportunidade de aprender a partir da confiança de seus pais ou da confiança em seu próprio critério.
4. Além disso, essas chantagens orientam a criança a funcionar com base em obter recompensas ou evitar punições. Esse aprendizado é pouco autêntico, muito centrado na situação e muito pouco estável no longo prazo.
5. Finalmente, a criança que recebe ameaças de sanções por parte do Papai Noel assimila etiquetas totalitárias de tipo "bom"–"mau" como forma de categorizar as pessoas. A pergunta típica: "Você foi bom este ano?", indica que há crianças que o foram e outras que não e os diferencia em "merecedores de presentes" e "não merecedores de presentes", assumindo, assim, que as crianças que ganham menos presentes são piores do que aquelas que ganham mais. Isso é, ademais, algo cruel porque nem todos os pais têm o mesmo poder aquisitivo, e constrói uma mensagem que vai calando na sociedade na forma de que quem tem mais (em termos materiais) é uma pessoa melhor, contribuindo assim para a justificação das desigualdades sociais a partir de uma falsa moral.
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/14/opinion/1481728636_903502.html
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