Chikungunya tem um potencial para provocar epidemia maior e mais grave do que todas as que foram causadas pela dengue no País até hoje. O vírus é mais agressivo, se espalha de forma mais rápida, é suspeito de causar mais mortes e, a exemplo do zika, pode ser transmitido da mãe para o feto durante a gestação, afirmam especialistas ouvidos pelo Estado. “Há ainda muitas perguntas a serem respondidas, mas não há dúvidas de que a epidemia por esse agente pode provocar estragos até então nunca vistos com a dengue”, diz o epidemiologista André Ricardo Ribas Freitas, da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose.
Dados preliminares da mortalidade em Estados atingidos pela chikungunya neste ano indicam uma mudança no patamar das taxas de mortalidade, afirma Freitas. Se comprovado, esse aumento deverá repetir um padrão que já foi identificado em outros lugares que também tiveram epidemia de chikungunya, como Ilhas Maurício, Reunião e Ahmedabad, na Índia. No caso da Ilha Reunião, foram identificados 33 casos a mais de mortes, a cada 100 mil habitantes. “Quando chikungunya chegou ao Brasil, em 2014, o que se dizia era que o vírus era menos letal do que dengue. A experiência mostra o contrário”, completa o epidemiologista.
O professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Brito, tem avaliação semelhante. “O cenário é muito preocupante. Sobretudo em razão do potencial de mortes provocadas pela doença.” No Estado de Brito, Pernambuco, foram relatados até o momento 369 casos de mortes associadas a arboviroses (aí incluídos dengue, zika e chikungunya). Dos registros suspeitos, 145 foram investigados e em 110 foi identificada a presença do chikungunya. O número supera em muito a maior marca contabilizada em Pernambuco, em 2013: 37 óbitos.
“Em outros países, as taxas de morte são de 1 caso para cada 1 mil pessoas doentes”, diz Brito. Pode parecer pouco, mas não diante do potencial de ataque da doença. “Em todas as comparações que são feitas com dengue, o chikungunya se mostra mais agressivo”, completa. A começar pela rapidez na transmissão.
O Aedes aegypti apresenta comportamento diferente para transmissão de chikungunya, dengue e zika. O tempo de incubação (o período entre o mosquito ter contato com o vírus e ser capaz de transmiti-lo) é menor no caso da chikungunya, quando comparado com dengue. O mosquito leva em torno de 6 a 11 dias para passar a transmitir dengue. No caso do chikungunya, bastam de dois a cinco dias. “Isso faz com que a velocidade da expansão da epidemia seja muito mais rápida do que a de dengue”, conclui o epidemiologista.
Além de um período de incubação menor, o chikungunya é transmitido com maior facilidade do que dengue. O Aedes aegypti não transmite o vírus em todas as picadas. Em palestra dada no Ministério da Saúde, a pesquisadora do Laboratório de Doenças Febris Agudas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Patrícia Brasil, afirmou que o mosquito transmite o chikungunya em 70 a cada 100 picadas realizadas. Uma eficiência impressionante, quando comparada com a que ele apresenta para dengue (40 infecções a cada 100 picadas) e para zika (20 infecções a cada 100 picadas). “Isso também aumenta o risco de expansão da epidemia”, disse a pesquisadora.
Suscetibilidade. Para completar, a chikungunya provoca mais sintomas do que dengue. “Cerca de 30% dos casos de dengue são sintomáticos”, conta Brito. Para chikungunya, a estimativa é de que 90% dos pacientes apresentem sintomas. Dos afetados, cerca de 25% desenvolvem a forma crônica da doença.
“Daí a necessidade de se prevenir contra a infecção”, afirma Brito. Ele observa que, ao contrário do que ocorre com dengue, a maior parte da população brasileira é suscetível ao chikungunya. “Há um grande número de pessoas sob risco.” Patrícia concorda. “O fato de ter uma população inteira que nunca teve contato com o vírus aumenta muito o risco de uma epidemia de grandes proporções.”
O chikungunya chegou ao Brasil em 2014 e, contrariando previsões de que rapidamente se alastraria, provocou surtos localizados na Bahia. Aos poucos ele foi se pulverizando e atualmente está presente em 41% dos municípios brasileiros, em todos os Estados do País. A epidemia já castiga o Nordeste. Em 11 Estados, o número de casos da doença é superior a 80 casos por cada 100 mil habitantes. No Rio Grande do Norte, a proporção é de 702 casos por 100 mil.
Gestante. A transmissão do chikungunya da gestante para o feto ocorre geralmente nos últimos três meses de gestação. “Daí a necessidade de a grávida se proteger contra picadas do mosquito durante todo o pré-natal. Não apenas nos primeiros três meses”, diz Brito.
A transmissão da mãe para o bebê fora do período inicial da gravidez não provoca má-formação. O bebê, no entanto, pode nascer com problemas graves de saúde, causados principalmente pela ação do vírus no sistema nervoso.
Reportagem de Lígia Formenti
fonte:http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,aedes-passa-chikungunya-em-7-de-cada-10-picadas,10000093619
foto:http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/dia-a-dia/noticia/2015/12/aedes-aegypti-saiba-como-o-mosquito-mais-temido-da-atualidade-surgiu-no-brasil-4928429.html
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