Campo de Calais |
O desmonte do acampamento de imigrantes conhecido como "Selva" nesta semana, em Calais, no norte da França, agravou a crise de refugiados no país e levou muitos deles às ruas da capital, Paris.
A maioria das pessoas vêm de países como Afeganistão, Eritreia, Sudão, Somália e Chade, e aguardavam na região uma oportunidade de cruzar o Canal da Mancha e se estabelecer no Reino Unido.
De acordo com a secretária de segurança de Paris, Colombe Brossel, cerca de 2 mil pessoas teriam deixado Calais e muitos seguiram para as ruas da capital, onde ficam em acampamentos improvisados, ou em colchões nas ruas.
Estimativas de órgãos como o Escritório de Acolhida e de Acompanhamento de Imigrantes sugerem que pelo menos 3 mil pessoas estariam vivendo atualmente nas ruas de Paris - a maioria homens jovens. Mas não há números oficiais.
Eles se concentram em uma área da cidade ao longo da Avenida Flandre, próxima às estações de metrô Stalingrad e Jaurès, perto do Parque de la Villette, e também em parte do canal Saint-Martin. A prefeitura instalou banheiros e torneiras de rua nas proximidades.
A região passou a ser associada a uma "favela" por muitos moradores do bairro. Alguns dos residentes se dizem exasperados, enquanto outros admitem se tratar de um drama humanitário.
A secretária municipal de Segurança admitiu que o fechamento do campo em Calais provocou aumento no número de moradores das ruas parisienses.
"Desde o início desta semana, o acampamento em Paris está crescendo com pessoas que certamente vêm de Calais", afirmou.
Transferência
Como parte da operação para desmontar o acampamento em Calais, considerado a maior favela da Europa, o governo francês transferiu parte dos refugiados para Centros de Acolhimento e de Orientação espalhados por todo o país.
Mas muitos optaram por escapar do controle das autoridades e ir a Paris com o objetivo de retornar a Calais quando a situação se acalmar, para tentar entrar ilegalmente na Inglaterra.
Outros evitaram os centros de acolhimento porque temem ser expulsos e reenviados aos países por onde entraram na Europa e onde tiveram que deixar suas impressões digitais. Grécia e Itália são os mais comuns, e nesses casos eles seriam obrigados a pedir asilo, conforme estipula o acordo de Dublin.
O governo francês assegurou, no entanto, que a solicitação de asilo poderia ser feita na França, apesar da entrada ter ocorrido em outro país europeu.
Dados oficiais do governo apontam que cerca de 6,5 mil pessoas viviam na "Selva" em Calais. Já ONGs estimavam o número em mais de 8 mil. De acordo com o ministério do Interior, a maioria - cerca de 5,6 mil - foi transferida para abrigos em todo o país.
Medo
A BBC Brasil conversou com inúmeros imigrantes de diferentes nacionalidades nos acampamentos em Paris.
Questionados sobre a passagem por Calais, muitos negam e preferem afirmar que teriam vindo da Itália e chegado a Paris há algumas semanas.
"As pessoas têm medo de dizer a alguém que estavam em Calais. Eles não sabem se a pessoa é da polícia ou trabalha para o governo", disse Alamin, um imigrante do Sudão que dorme nas ruas em Paris há cerca de um mês.
Alamin afirma ser jornalista e ter deixado o Sudão após o fechamento do jornal para o qual trabalhava. Ele conta ainda que sofria perseguição política. Com um livro na mão, mostra com orgulho sua carteira de membro da biblioteca do bairro e diz que veio à França para estudar.
Polícia
O temor dos imigrantes foi reforçado com uma operação policial realizada nesta sexta-feira para verificar a situação administrativa de pessoas nos acampamentos.
O aumento recente no número de pessoas nesses locais em Paris é evidente para quem trabalha na ajuda aos refugiados. Associações que oferecem ajuda alimentar aos imigrantes, por exemplo, afirmam que o volume de refeições distribuídas cresceu nos últimos três dias.
"Faz dois anos que essa área é uma vergonha. O acampamento foi aumentando progressivamente e nos últimos seis meses sempre há muita gente. Isso aqui é um mini-Calais, é uma catástrofe humanitária", diz a francesa Florence Roy, que auxilia os imigrantes e realiza um documentário sobre o problema.
"Não é possível dizer que ninguém veio de Calais nos últimos dias, mas isso não é um fenômeno novo", diz Roy.
Em pouco mais de um ano, cerca de 30 acampamentos em Paris já foram desmontados pelas autoridades - a grande maioria na região norte da cidade.
O último foi em setembro, quando cerca de 2 mil pessoas foram retiradas do mesmo local onde há hoje um novo acampamento. Isso porque logo após as operações de expulsão, os imigrantes retornam a essas regiões.
Nos últimos meses, os acampamentos têm se formado rapidamente e cada vez com mais pessoas.
Segundo o governo, desde o agravamento da crise de refugiados entre 50 e 80 imigrantes chegam diariamente a Paris.
Primeiro centro
Autoridades municipais e o governo francês têm discursos distintos em relação ao que ocorre em Paris atualmente.
A prefeitura afirma que "há incontestavelmente um fluxo importante de imigrantes em Paris nos últimos dias". Já a ministra da Habitação, Emmanuelle Cosse, declarou que não há "chegadas maciças" de pessoas que estavam em Calais.
Nos próximos dias, a prefeitura de Paris irá abrir o primeiro abrigo para imigrantes na cidade. Mas a capacidade do local, de 400 pessoas, já está defasada em relação ao número de imigrantes nas ruas.
O ministro do Interior, Bernard Cazaneuve, declarou ontem.
Reportagem de Daniela Fernandes
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37805121#orb-banner
foto:http://www.eldiario.es/desalambre/campamento-refugiados-Calais-relacionado-Paris_0_452154875.html
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