27/10/2016

Juros do cartão chegam a 480%. "Os mais caros que existem, não faz sentido", diz especialista


As taxas de juros cobradas pelos bancos nas operações de cartão de crédito rotativo voltaram a subir em setembro, atingindo 480,3% ao ano, um novo recorde da série histórica do Banco Central, iniciada em março de 2011. No mês de agosto, os juros médios estavam em 475% ao ano. Os juros cobrados no cheque especial também subiram 3,8%, para 329,9% ao ano, outro recorde nessa série histórica que teve início em julho de 1994.
O aumento é considerado abusivo pela professora da faculdade de Ciências Econômicas da Uerj, Maria Beatriz de Albuquerque David. ”São os juros mais caros que existem, não faz sentido”, afirma. Para ela, nem o nível de endividamento do Brasil justifica os altos níveis de juros. “O Santander Brasil acabou de mostrar que teve um aumento nos lucros. Essa precaução é excessiva.”
Segundo ela, a argumentação dos bancos é de que as instituições emitiram muito crédito na última década. ”Deram muito cartão de crédito sem comprovar renda, por causa de políticas de expansão de crédito. Agora eles se seguram para recuperar as perdas. Hoje, o cartão é a forma de pagamento mais importante. Foi uma tentativa dos bancos de abrir para uma clientela que não tinha acesso. Agora fazem o caminho oposto.”
A professora também afirma que o motivo dos juros brasileiros serem um dos maiores do mundo, é o fato de o sistema financeiro do país não ser preparado para emissão de crédito. “Não é um sistema financeiro, temos na verdade um sistema bancário bancado por títulos do governo, que são muito seguros. Isso representa um ganho sem risco para os bancos. Então, emprestar por qual motivo?”
O caminho para a regulamentação desses juros seria a ação do Banco Central. Mas, de acordo a professora, o BC não quer se envolver nesse processo. “Dessa forma, os bancos cobram o que querem. E é quem paga em dia ou resolve dividir sua fatura, sendo adimplente, que financia esses grandes ganhos. Quem não paga torna a dívida uma bola de neve”, ressalta. O BC, para a professora da Uerj, evita se envolver por não considerar a regulamentação parte de suas funções. “O BC não quer intervir. Quer apenas controlar a inflação.”
Na opinião de Maria Beatriz, a única maneira de evitar esses juros seria a competição entre os bancos, necessidade que justificou a abertura do setor bancário ao capital estrangeiro nos anos 90. No entanto, isso fez com que os bancos rapidamente se adaptassem à realidade financeira do país. “Isso resultou nos bancos realizando as políticas que já eram realizadas aqui antes, então não adianta.”
“Uma forma do consumidor não ser prejudicado pelos juros é não se endividando”, afirmou a professora. Outra possibilidade é renegociar a dívida. “As corporações que sofrem com esses juros ainda podem entrar com ação de inconstitucionalidade na justiça, pedindo para que os juros sejam regulamentados. A atividade desses bancos é considerada crime de usura pela Constituição, ou seja, juros sobre juros”, conclui.

Reportagem de Felipe Gelani
fonte:http://www.jb.com.br/economia/noticias/2016/10/26/juros-do-cartao-chegam-a-480-os-mais-caros-que-existem-nao-faz-sentido-diz-especialista/
foto:https://www.proteste.org.br/institucional/imprensa/press-release/2015/rotativo-do-cartao-de-credito-chega-a-748-67-ao-ano-constata-proteste

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