Na manhã da última quinta-feira a embarcação militar espanhola Reina Sofía atracou no porto de Catânia (sul da Sicília) com dezenas de imigrantes resgatados enquanto tentavam chegar à Itália vindos das costas da Líbia. A apenas alguns metros, os viajantes de um cruzeiro turístico de 10 andares contemplavam a operação de desembarque, os primeiros trâmites de identificação –uma fotografia e um número para cada imigrante– e os cuidados da Cruz Vermelha a menores e feridos. Uma operação que se repetiu em 84.000 ocasiões do início de 2016 até hoje e que por si só serviria para se ter uma ideia da magnitude do êxodo, não fosse pelo fato de que há outra muito mais dramática. Segundo a Organização Internacional das Migrações (OIM), quase 3.000 pessoas que fugiam da África, fosse por causa da guerra ou da fome, morreram no Mediterrâneo este ano. Desde que começou a crise dos refugiados na Europa não havia sido registrada uma cifra tão alta de mortes em um período tão curto.
Segundo explicou Joel Millman, porta-voz da OIM em Genebra, trata-se do “terceiro ano consecutivo em que os mortos superam 3.000, mas nunca tinha acontecido tão cedo no transcorrer do ano, antes do final de julho, o que é muito alarmante”. Quase 90% dessas mortes foram registradas no Mediterrâneo central, entre a Líbia e a Itália, e em praticamente todos esses casos as vítimas provinham de países da África subsaariana. De acordo com Millman,quase 2.500 dessas mortes ocorreram durante os últimos quatro meses, o que equivaleria a uma média diária de 20 afogados. Alguns jamais aparecem, e só se tem o testemunho dos companheiros de travessia que conseguiram salvar-se, em muitos casos, parentes ou amigos. Outras vezes, como sucedeu na quarta-feira, seus cadáveres aparecem no fundo de uma barcaça, como as 20 mulheres jovens e o homem que morreram por asfixia –a voracidade dos traficantes de pessoas os leva a amontoá-las no fundo de precárias embarcações imundas– ou pelas queimaduras do combustível.
Trata-se de uma tragédia que se repete. Os dados deste ano são alarmantes porque dão ideia de quanto pode ser o número de mortos quando 2016 terminar, mas não se deve esquecer que tanto em 2014 como em 2015 também se superou em muito a cifra terrível de 3.000 mortos. Muitos deles, como os da tragédia de Lampedusa, em outubro de 2013, serão enterrados em pequenos cemitérios da Sicília sob lápides anônimas.
A Organização Internacional para as Migrações também informou que mais de 242.000 imigrantes e refugiados entraram na Europa por mar este ano. Teme-se que o êxodo seja transferido paulatinamente do Mediterrâneo oriental (entre a Turquia e as ilhas gregas) para a rota, muito mais perigosa, entre a Líbia e a Itália. Segundo as autoridades italianas, as chegadas desde o início de 2016 superaram 84.000, um número idêntico ao alcançado no mesmo período do ano passado, o que para a OIM é indicativo de que os fluxos de imigrantes através da África em direção à Líbia –como parada prévia antes de embarcar para a Europa– ainda não sofreram grandes mudanças. Somente entre terça e quarta-feira desta semana foram resgatadas 4.200 pessoas no Canal da Sicília.
Reportagem de Pablo Ordaz
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/22/internacional/1469184421_996319.html
foto:http://www.esquerda.net/artigo/imigrantes-afundados-no-mediterraneo-fugiam-de-gaza/34143
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