27/04/2016

Chernobyl, trinta anos depois da tragédia


Ucrânia, Bielorrússia e Rússia lembram separadamente o 30º aniversário da tragédia de Chernobyl, a maior de toda a história da exploração civil de energia nuclear. Os três países eslavos envolvidos recordam o acidente de 26 de abril de 1986 cada um a seu modo, conforme suas diferentes referências políticas e econômicas.
Na Ucrânia, onde Chernobyl está localizada, os funcionários das centrais nucleares convocaram para esta terça-feira uma manifestação na frente do Ministério da Justiça, em Kiev, para reivindicar o bloqueio das contas bancárias da Ergoatom, a maior distribuidora de energia elétrica do país. Os trabalhadores alegam que o bloqueio das contas da empresa, a pedido de um dos credores da companhia, impedirá que ela pague o fornecimento de energia nuclear às centrais da Ucrânia, assim como o armazenamento dos resíduos e, eventualmente, o salário dos funcionários.
Chernobyl está em processo de encerramento de atividades e fechamento desde 2000. Em novembro será instalado o chamado arco, uma construção única em seu gênero, que deverá proteger o sarcófago construído sobre o quarto reator (o que sofreu o acidente) contra qualquer possível vazamento radioativo, segundo afirmou ao semanário Zérkalo Nedelii o diretor da central, Igor Gramotkin. O projeto do arco, destacou ele, custa 2,5 bilhões de euros (cerca de 10 bilhões de reais) e dele participam 28 países, além do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, que é o administrador do fundo de Chernobyl. Gramotkin explicou que o terceiro reator já pode ser considerado uma instalação não nuclear; o segundo e o primeiro blocos também passarão a essa categoria neste ano, quando se concluirá a eliminação de todo o combustível radioativo ainda existente dentro deles.
“Quando a decisão de fechar Chernobyl foi tomada, a Ucrânia não estava preparada para isso, seja do ponto de vista organizacional, seja técnico ou financeiro”, comentou o funcionário. O diretor da central nuclear disse também que, no ano passado, por ocasião do 29º aniversário do acidente, o presidente Petró Poroshenko criticou a falta de uma cooperação científica e técnica entre Rússia e Ucrânia em torno do caso da central atingida. “A segurança nuclear é um campo de atividade que está além das relações políticas”, afirmou.
A região de Chernobyl, segundo explicou, pode ser utilizada para duas diferentes atividades: o tratamento de materiais radioativos ou a construção de instalações para produção de energia alternativa, em especial energia solar. A ideia de se construir uma área verde no local da central é vista como inadequada devido ao alto teor de contaminação existente em torno dela, em um perímetro de dez quilômetros, afirmou.

Rússia e Bielorrússia

Na Rússia, quinze regiões foram afetadas pela nuvem radioativa de Chernobyl. A radiação continua muito elevada em alguns pontos que o Governo russo excluiu das zonas mais atingidas, segundo afirmou Alla Yaroshinskaya, ex-deputada da URSS e autora de várias obras sobre Chernobyl. Segundo ela, 554 localidades foram retiradas em 2015 da relação de territórios atingidos, o que significa a perda dos subsídios recebidos por seus habitantes. Yaroshinskaya cita a cidade de Novozyvkovo e outras áreas de Briansk, uma província onde se realizaram manifestações contra a decisão governamental. Em 1997, os habitantes da região se rebelaram quando as autoridades tentaram rebaixar o estatuto das regiões atingidas, e a Justiça lhes deu ganho de causa. Agora, isso foi negado, conta Yaroshinskaya. Em Moscou, o presidente da associação de Chernobyl, Andrei Grushenkov, afirmou que as autoridades municipais pretendem expulsar a associação Chernobyl Moscou (que tem 12.500 membros) dos locais que ocupa atualmente de forma gratuita em virtude de um acordo com o prefeito anterior da capital. Parte dos subsídios recebidos pelos cidadãos russos afetados por Chernobyl foram extintas desde 2004.
A Bielorrússia foi, proporcionalmente, o país mais atingido pelo acidente (23% da área do país, especialmente as regiões de Gómel e Magiliov, onde viviam 2 milhões de pessoas). Cerca de 1,4 milhão de pessoas (12% do total da população) viviam na zona contaminada (dado de 1 de janeiro), segundo a agência russa de notícias Tass. Apesar disso, a Bielorrússia parece ser o país mais disposto a enterrar o acidente: ela constrói, atualmente, a sua primeira central nuclear com tecnologia russa e planeja reinstituir a produção agrícola em uma região atingida pela tragédia, segundo afirmou nesta segunda-feira em Minsk o ministro das Relações Exteriores, Vladimir Makei. Na sua avaliação, “podemos chorar, sofrer e lamentar, mas é preciso tentar mudar a situação” e escolher entre organizar a ajuda humanitária entre os atingidos e “tentar recuperar esta terra para viver e cultivar produtos aptos para o consumo”.
A Bielorrússia acumulou conhecimento e informação considerados únicos na superação de tragédias semelhantes a Chernobyl, segundo seu presidente, Alexandr Lukashenko.
O presidente da Ucrânia, Petró Poroshenko, será o único dirigente eslavo a recordar os acontecimentos no próprio local, nesta terça-feira, em Chernobyl. Em Kiev, em uma exposição de documentos políticos relativos ao acidente se encontra um comunicado enviado pelo secretário do comitê regional do partido comunista da província de Kiev, Grigori Revenko, a seus superiores imediatamente após o ocorrido. No texto, Revenko afirma que “não há risco para a população da cidade (de Pripiat)”. Dezenas de milhares de pessoas tiveram de ser retiradas dessa localidade, que se transformou em um lugar fantasma.
Reportagem de Pilar Bonet
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/25/internacional/1461571241_768799.html
foto:http://www.zupi.com.br/30-anos-depois-acidente-nuclear-de-chernobyl/

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