Em 19 de março, três minutos
depois de decolar do aeroporto Campo de Marte, o monomotor de prefixo PR-ZRA
mergulhou sobre uma casa no bairro vizinho da Casa Verde, em São Paulo. Estavam
na aeronave Roger Agnelli, ex-presidente da mineradora Vale, sua mulher,
Andrea, seus filhos João e Anna Carolina, o genro Parris Bittencourt e a
namorada do filho, Carolina Marques. Todos morreram na queda, bem como o piloto
Paulo Roberto Bau. A tragédia poderia ter sido maior. Os moradores da casa
atingida escaparam pelos fundos. As causas do acidente ainda serão
investigadas, mas o episódio chamou atenção para o céu nublado pelo qual
trafegam, no Brasil, os "aviões experimentais".
Segundo
a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), pertencem a essa categoria modelos
de construção amadora que não passam por um processo regulamentado de testes
nem contam com todos os equipamentos obrigatórios nas aeronaves convencionais.
Era assim o avião de Agnelli. O ex-presidente da Vale havia montado em 2012 o
seu modelo CA-9, produzido pela empresa americana Comp Air Aviation.
"Agnelli comprou um kit de CA-9 e o montou adotando todas as regras e
normas vigentes, instalando os acessórios que considerou necessários para a boa
navegação, desempenho e conforto, sempre respeitando a legislação",
informa o Sitrex Group, que representa a fabricante no Brasil. O avião não
dispunha de caixa-preta, o que pode dificultar a apuração das causas da queda.
Aeronaves
experimentais têm preços baixos. A Comp Air, por exemplo, oferece kits a partir
de 40 000 dólares, ou cerca de 145 000 reais. Por causa disso, esses aviões
ganham cada vez mais os ares: segundo a Anac, há 5 158 deles no país, quase um
quarto da frota particular. A inspeção de uma aeronave experimental é de
responsabilidade do proprietário e do piloto, que assumem todos os riscos de
voo. Os aparelhos recebem uma licença de voo para "lazer, recreação,
demonstração ou desenvolvimento de tecnologias" - e não podem decolar de
áreas densamente povoadas sem autorização especial. Por essa regra, o CA-9 não
poderia ter deixado o Campo de Marte.
De
acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), para autorizar decolagens os
controladores de voo se baseiam nos dados do DCERTA, um sistema da Anac. Esse
sistema continha a documentação do avião e do piloto de Agnelli, mas não a
autorização para voo em áreas povoadas. Segundo a Anac, caberia à FAB
determinar se o Campo de Marte e seu entorno eram adequados à decolagem. Fica claro
que os órgãos competentes têm de alinhar seus procedimentos. A Anac admite que
aviões experimentais muito provavelmente decolam de maneira irregular no Brasil
com frequência. A agência estuda como aprimorar seu programa de segurança.
Responsável
por analisar os incidentes com aviões convencionais no país, o Centro de
Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) decidiu participar
da perícia no CA-9, com o objetivo de "trazer benefícios à Aeronáutica
brasileira". Segundo o centro, de 2005 a 2015 o Brasil registrou 166
acidentes em voos experimentais. Houve 98 mortes como a da família Agnelli.
Reportagem de Luiz Castro
fonte:http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/risco-no-ar-avioes-experimentais-respondem-por-14-da-frota-particular-e-98-mortes-em-10-anos
foto:http://www.airliners.net/photo/Aerocomp-Comp-Air/2218303/L/
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