08/03/2016

Participação feminina na política no Brasil é menor do que no Irã



Ainda que muitos avanços tenham sido conquistados, a participação das mulheres na política segue com índices pífios em Bauru, assim como no Brasil. Segundo dados da organização internacional União Interparlamentar, em 2015, de um em um total de 190 países, o Brasil ocupava a 116.ª posição no ranking de representação feminina no Congresso Nacional.

Mas, mais do que estarem presentes na política e em outras funções de liderança, a mulher também tem o desafio de se autoafirmar dentro destes ambientes, dominados pelo universo masculino. Em recente entrevista, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Dias Toffoli, destacou que o Brasil precisa avançar quanto à participação da mulher na política, já que a representatividade é menor do que em países muçulmanos e no Irã, em que habitantes do sexo feminino, normalmente, têm direitos civis cerceados.

“No Brasil, a mulher já está inserida praticamente na metade da força de trabalho brasileira, mas, na política, ainda representa pouco mais de 10% dos mandatos na Câmara e no Senado”, destaca o ministro. De acordo com a procuradora Especial da Mulher no Senado Federal, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), o mapa da Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que, no continente americano, o Brasil só tem mais mulheres no parlamento do que o Haiti, Belize e São Cristóvão.

Em Bauru, a participação da mulher no Legislativo é ainda menor: não chega a 6% do total. Nesta legislatura, entre 17 parlamentares, a Câmara conta apenas com a vereadora Telma Gobbi (PDT).

Entre as décadas de 1960 e 1970, as primeiras vereadoras da cidade foram Guiomar Ferrari de Oliveira e Celina Lourdes Alves Neves, que assumiram cadeiras como suplentes. Efetivamente eleita, Majô Jandreice assumiu o cargo só no início da década de 1990.

Depois dela e antes de Telma, houve apenas outras duas vereadoras: Catarina Carvalho e Chiara Ranieri. Vale destacar, ainda, que Bauru nunca teve uma prefeita eleita – mesmo com um eleitorado composto por 52% de mulheres.

Representatividade

A vice-prefeita Estela Almagro avalia que este fenômeno se repete a cada eleição porque a maioria delas ainda não se vê representada na figura de uma líder feminina. “A maioria dos lares ainda convive com lógica cultural e educacional machista. A presidenta da República, por exemplo, foi conduzida ao cargo a reboque do sucesso do governo Lula e da expectativa de continuidade deste governo. Há a soma de uma série de valores, mas ela não é fruto, isoladamente, do avanço da participação da mulher na política”, pondera.

Para Estela, nem mesmo a Lei das Eleições – que estabelece um mínimo de 30% de mulheres candidatas em cada partido ou coligação – será capaz de resolver o problema. “É um mecanismo importante, mas o que faz com que a maioria dos homens ganhem as eleições é o fato de eles ainda estarem com o poder efetivo dos partidos políticos. São eles que têm acesso ao financiamento das campanhas, que continuará vindo das empresas”, pontua.

Embora a participação feminina no País tenha crescido 71% nas eleições de 2014 em relação a 2010, elas representaram apenas 28,93% do total de 21.582 candidatos a todos os cargos em disputa, segundo dados da Justiça Eleitoral.

‘Universo masculino’

Em profissões dominadas por homens, o ingresso de mulheres em cargos de liderança tende a ser ainda mais difícil. Somente em 2016 a Delegacia da Polícia Federal de Bauru ganhou uma chefe do sexo feminino, Karen Cristina Dunder. Além dela, a instituição local conta apenas com mais uma delegada. Já a Polícia Militar de Bauru conta com cerca de 40 mulheres em atuação.

A tendência, contudo, é que estes espaços sejam cada vez mais ampliados, inclusive com a ajuda da militância de coletivos feministas existentes na cidade, muitos deles vinculados também ao combate ao racismo e a movimentos culturais.

Desde o dia 2 de março até o final do mês, a prefeitura de Bauru desenvolve uma série de atividades em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Na programação, está o “Encontro Municipal Entre Nós Mulheres”, que será realizado hoje na sede da OAB Bauru para homenagear mulheres que tem profissões tradicionalmente masculinas. Os eventos, que seguem até o final do mês, incluem oficinas, troca de livros, teatro, feiras de artes e artesanato, apresentações de dança, rodas de conversa, palestras, filmes, dia de beleza, café e caminhadas.

‘Mulheres em cargos de liderança têm sua capacidade posta à prova’


Inseridas em ambientes de trabalho machistas – salvo raríssimas exceções, as mulheres em cargos de liderança tem sua capacidade de gestão sempre posta à prova, conforme analisa militante feminista e professora doutora de psicologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Nilma Renildes da Silva.

Ela cita a análise da filósofa Marilena Chaui, concordando que muitas mulheres se empoderaram mais com o Bolsa Família do que com as conquistas feministas históricas, mas analisa que este ganho financeiro não resultou, ao final, em igualdade de direitos. “A condição destas mulheres melhorou, mas elas continuam assumindo os tradicionais trabalhos da mulher, que são o de mãe, doméstica, dona de casa. Quando elas assumem cargos de poder e de decisão, há uma desconfiança generalizada de que elas não serão capazes”, argumenta a psicóloga.

Para a presidente do Conselho Municipal de Políticas para as Mulheres, Gisele Moretti, trata-se de um preconceito que emana também de boa parcela das mulheres, que receberam uma educação machista e, muitas vezes, não reconhecem os espaços que podem ocupar na sociedade.

“A mulher tem uma grande força, porém, o efetivo empoderamento ainda está em curso – ela ainda não tomou consciência do papel que é capaz de desempenhar. Na política, por exemplo, a grande maioria ainda não consegue conquistar a confiança do eleitorado e nem mesmo internamente, entre os membros dos próprios partidos”, frisa, defendendo que Bauru deveria ter, ao menos, três vereadoras do sexo feminino.


Por outro lado...

Bauru conta, há 15 anos, com uma empresa conduzida apenas por mulheres. Trata-se da administradora de condomínios N&A, que é gerida pela proprietária Giorgia Savi, 46 anos, com a colaboração de diretoras, atendentes e recepcionistas – todas do sexo feminino.

“É uma escolha consciente. A mulher tem mais paciência e mais tato para lidar com os conflitos que são frequentes neste ramo. Desde o início foi assim e sempre deu muito certo”, analisa. Ao todo, são dez mulheres que trabalham na sede da administradora. Parte do quadro de funcionários que trabalha nos prédios geridos pela empresa, contudo, é formada por homens, entre porteiros, faxineiros e supervisores.


Fique de olho!

No dia 31 de março, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai levar ao ar, em rede nacional de rádio e televisão, uma campanha para estimular a participação feminina nas eleições municipais de outubro.




Reportagem de Tisa Moraes
fonte:http://www.jcnet.com.br/Internacional/2016/03/participacao-feminina-na-politica-no-brasil-e-menor-do-que-no-ira.html
foto:http://www.blogdafloresta.com.br/mais-mulheres-na-politica-chega-ao-interior-do-amazonas/

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