Plataforma de Apoio aos Refugiados faz balanço de um mês e meio de trabalho em “contra-relógio”. Há 85 casas disponíveis “no imediato”. Uma formação específica. E várias empresas a contribuir.
Eles
ainda não chegaram, mas a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) continua a
crescer. O salão nobre da reitoria da Universidade de Lisboa pareceu pequeno
para o primeiro balanço. Desde que foi constituída, “em apenas um mês e meio”, a PAR conseguiu ter, “para
receber no imediato”, 85 habitações prontas para igual número de famílias, o
equivalente a 420 refugiados. Rui Marques, que nesta quarta-feira foi eleito em
assembleia-geral coordenador da organização que nasceu da sociedade civil, diz
que o caminho que está a ser trilhado vai para “além da boa-vontade”: “Está a
ser desenvolvido um trabalho sério, consistente e profissional.”
Desde
logo, os técnicos das instituições que vão acolher e integrar refugiados, as
chamadas “instituições anfitriãs” — institutos religiosos (26%), associações e
fundações (25%) e instituições particulares de solidariedade social (19%) são
as mais representadas até agora — vão receber formação específica, basta que se
inscrevam para tal.
A
plataforma de e-learning, da Escola
Superior de Educação Paula Frassinetti, uma das muitas parceiras da PAR, foi
apresentada. O programa, feito “em contra-relógio”, envolve especialistas
de várias instituições de ensino superior, da Universidade Católica à
Universidade de Coimbra, e contém 14 módulos que abordam, por exemplo, questões
do gênero, saúde mental e trauma — porque muitos dos que chegarão vêm de zonas
de conflito —, ética do acolhimento e diálogo inter-religioso.
“Os
técnicos das instituições de acolhimento poderão complementar as competências
que já têm com uma formação específica, pensada para quem vai receber e ajudar
a integrar refugiados”, explicou Rui Marques, desafiando as instituições a
mobilizarem os seus colaboradores. As “aulas” (sobretudo à distância) acontecem
em Novembro e Dezembro.
Para
além das 68 instituições anfitriãs a postos “no imediato” para receber 420
pessoas — cada instituição anfitriã deve ser capaz de garantir, através dos
seus recursos e/ou mobilizando os recursos de outros parceiros, alojamento,
alimentação, apoio de saúde, educação, aprendizagem do português e ajuda na
integração laboral dos adultos que compuserem o agregado familiar — há outras
que manifestaram interesse em enquadrar famílias. A PAR admite para já vir a
ter capacidade para receber 136, qualquer coisa como 660 pessoas.
“Em todas as salas de aula, esta discussão”
Mas outras contas se fizeram no salão da universidade: representantes de várias
empresas e organizações que aderiram à PAR nos últimos dias subiram ao palanque
para explicar com o que se estão a comprometer. Por exemplo: a Porto Editora
fez saber que fornecerá kits para ensino da língua portuguesa como língua não
materna — materiais destinados a crianças, adultos e também aos professores que
se têm voluntariado para ensinar os refugiados; a Fundação PT informou que
podem contar com telemóveis e serviços; a Microsoft Portugal disse que deu um
dia extra de voluntariado aos seus colaboradores e que garante o financiamento
dos custos de acolhimento de uma família. A Fundação Islâmica de Palmela
garantiu que tem apartamentos para 150 refugiados, disponibilizados pelos
elementos da comunidade.
“Inspiradora”,
foi a palavra usada por Pedro Calado, o alto-comissário para as Migrações, para
descrever esta PAR.
Como
membro do Grupo de Trabalho para a Agenda Europeia da Migração, coordenado pelo
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, criado pelo Governo em 3 de Setembro, o
Alto-Comissariado das Migrações tem entre as suas missões a de fazer a
“concertação com a sociedade civil” na resposta aos refugiados e a de
contribuir para “informar a opinião pública” e evitar a “disseminação de
preconceitos”. Quer, por isso, “levar a todas as salas de aula do país esta
discussão” dando “aos números, casos, rostos, vidas concretas”. E vai haver
também uma campanha na televisão.
A
preocupação com os “mitos e medos” que se disseminam entre a opinião pública
foi muito referida também por Rui Marques. O dia serviu de resto para
apresentar uma revista chamada Refugiados, a ser
distribuída por vários jornais nacionais, e que tem como objectivo precisamente
“evitar más interpretações e ideias contrárias à realidade que têm surgido nos
últimos tempos”.
Questões
como “há ou não uma invasão?”, ou “por que é que os refugiados têm telemóveis?”
têm resposta nesta publicação que Rui Marques quer que chegue ao maior número
de portugueses (e, já agora, se um smartphone é importante "para quem vai de
férias", para aceder a mapas, a informação de restaurantes e para
comunicar com a família, “para quem foge da guerra é vital”: “Pode aceder a
mapas, informação de comboios e centros de apoio, pode comunicar com família e
amigos que ainda estão na terra-natal ou encontrar pessoas que atravessaram o
Mediterrâneo e se perderam...”).
Chegam na próxima semana?
O trabalho de triagem das pessoas que serão acolhidas, e em qual dos países que
concordaram em receber refugiados, é feito pelas autoridades italianas e
elementos da União Europeia, em Itália, onde se encontram dois oficiais de
ligação de Portugal. O processo está a demorar mais do que o previsto, disse na
segunda-feira ao PÚBLICO uma fonte do Governo.
Já
uma fonte da Comissão Europeia citada pela agência Lusa, nesta quarta-feira,
adiantou que os próximos voos de recolocação em diferentes países da Europa, incluindo
Portugal, deverão decorrer na próxima semana. Mas a mesma fonte admitiu
eventuais atrasos burocráticos.
Rui
Marques não sabe, contudo, se o primeiro grupo de refugiados que chegará ao
país irá ocupar algum dos lugares da PAR. Há mais respostas, lembra.
Portugal
está “praticamente” pronto para acolher 4500 refugiados, afirmou também esta
tarde o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, no final de uma reunião com o
Conselho Econômico e Social. “É um esforço que está proporcionado aquilo que é
a dimensão do país, as suas condições econômicas e portanto compara muitíssimo
bem com o esforço que outros países europeus estão a fazer”, afirmou, citado
pela Lusa, no mesmo dia em que a Comissão Europeia lembrou, em comunicado, que
já propôs alterações aos orçamentos de 2015 e 2016, tendo aumentado em 1,7 mil
milhões de euros os recursos consagrados à crise dos refugiados (o que
significa disponibilizar um total de 9,2 mil milhões). “Os Estados-membros
devem agora disponibilizar os recursos nacionais complementares."
Reportagem de Andreia Sanches
fonte:http://publico.uol.com.br/sociedade/noticia/curso-para-quem-vai-receber-refugiados-inclui-trauma-e-etica-de-acolhimento-1711209
foto:http://www.averdade.com/pagina/seccao/4/noticia/11128
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