09/06/2015

Renomadas e gratuitas, universidades alemãs atraem cada vez mais alunos estrangeiros

Certa noite, na cozinha de sua casa na zona rural do Estado da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, Hunter Bliss disse à sua mãe, Amy Hall, que pensava em se candidatar a uma vaga em uma universidade na Alemanha.
Hall pensou se tratar de uma brincadeira e riu, dizendo que, se ele fosse admitido, teria seu apoio.
"Quando Hunter foi aceito, comecei a chorar", conta ela, que é mãe solteira. "Estava feliz por ele, mas tinha medo de deixá-lo ir para tão longe de casa."
Nesta época do ano, muitos pais americanos veem seus filhos saírem do ninho para dar início aos estudos universitário, mas nunca foram tantos aqueles que têm como destino este país em um outro continente e a mais de 7,7 mil quilômetros de distância.
A razão disso está no acesso a uma educação de qualidade e gratuita, como a oferecida pelas universidades alemãs, uma combinação que atrai cada vez mais jovens americanos e de outros países.
Nos últimos três anos, o número de alunos americanos matriculados em universidades alemãs aumentou 20%, para 4,6 mil.
Enquanto a Alemanha aboliu a cobrança de matrícula para alunos do país e estrangeiros, neste mesmo período, o total das dívidas contraídas por estudantes dos Estados Unidos para pagar pela universidade aumentou para US$ 1,3 bilhões (R$ 4,9 bilhões).

Grande economia

Bliss hoje estuda Física na Universidade Técnica de Munique, uma das mais renomadas da Europa, e, a cada semestre, paga uma taxa de US$ 120.
Este valor inclui um cartão para usar o transporte público gratuitamente na capital da Baviera.
O seguro saúde de estudantes na Alemanha custa cerca de US$ 87 ao mês, bem menos do que sua mãe pagaria por um plano de saúde nos Estados Unidos.
Para cobrir a taxa, o seguro e outros gastos, como alojamento e alimentação, ela envia a Hunter entre US$ 6 mil e US$ 7 mil por ano, o que no seu país não seria suficiente para cobrir o custo da universidade mais próxima de casa, a Universidade da Carolina do Sul.
Mesmo com uma bolsa, o preço de estudar nesta universidade americana não seria menor do que US$ 10 mil ao ano. E o custo de alojamento, livros e outros gastos tornariam esta cifra ainda mais alta.
Por isso, Bliss só precisou de um pouco de ajuda da matemática para convencer sua mãe a deixá-lo ir para a Alemanha.
"Você quer pagar tudo isso ou só isso?", disse ele para Hall, acrescentando que isso permitiria economizar cerca de US$ 60 mil ao fim de quatro anos.

Diferença notável

Katherine Burlingame também está aproveitando as vantagens financeiras de estudar na Alemanha.
Formada pela Universidade Estatal da Pensilvânia, ela está cursando um mestrado em Cottbus, no leste do país, por menos de US$ 570 por mês, incluindo alojamento, transporte e plano de saúde.
Além disso, recebe uma bolsa mensal do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD, na sigla em alemão) de US$ 815, com a qual cobre seus gastos.
"Fiquei surpresa quando me dei conta de que, assim como os alemães, também podia estudar gratuitamente", diz Burlingame.
"Os processo de admissão é bem simples, e não cobram matrícula. Quando descobri isso, pensei: 'que incrível!'."
Em comparação, no ano acadêmico de 2014-2015, as universidades privadas americanas cobraram de seus alunos mais de US$ 31 mil em matrícula e mensalidades. Em algumas, este custo supera US$ 50 mil.
Já as universidades públicas cobram US$ 9 mil daqueles que residem em seus Estados, mas quem vem de fora precisa desembolsar US$ 23 mil, segundo o College Board, uma organização sem fins lucrativos.
Enquanto isso, a única coisa que o estudante tem de pagar na Alemanha é uma taxa semestral, que raramente supera US$ 170, para financiar a associação estudantil e outras atividades; com frequência, esse valor inclui o direito a usar o transporte público.
E a barreira imposta pelo idioma não é um problema. Burlingame não precisa, por exemplo, falar alemão para fazer seu mestrado, no qual tem aulas com alunos de 50 nacionalidades. O curso é ministrado inteiramente em inglês.
Hoje, na Alemanha, há mais de 1.150 programas acadêmicos inteiramente em inglês, como resultado da Declaração de Bolonha, de 1999, que estimulou a livre circulação de estudantes da União Europeia e transformou o inglês em língua franca nas universidades dos seus países membros.
No entanto, de acordo com estudantes e especialistas, conhecer o idioma alemão é indispensável para aproveitar ao máximo a experiência. E, em alguns casos, um certificado de domínio desta língua ainda é pré-requisito para alguns cursos ou bolsas.

Quem ganha com isso?

A um custo médio de US$ 14,6 mil por estudante para o país, resta a pergunta: o que a Alemanha ganha com isso?
Só em Berlim, por exemplo, há 25 mil estudantes estrangeiros, o que gera um custo anual de US$ 364,3 milhões, que é pago pelos contribuintes.
"Mas, para nós, não deixa de se atraente que pessoas de outros países tragam conhecimento e experiências que acabam criando postos de trabalho quando estes estudantes têm ideia para abrir um negócio e ficam em Berlim para concretizá-la", diz o secretário para assuntos de ciência da cidade, Steffen Krach.
E, segundo Sebastian Fohrbeck, da DAAD, metade dos estudantes estrangeiros decide permanecer na Alemanha.
"Mesmo sem cobrar matrícula, basta que cerca de 40% fiquem por cinco anos, pagando impostos, para recuperarmos os custos. Ou seja, o sistema funciona bem", explica Fohrbeck, para quem a imigração de pessoas qualificadas é uma boa solução para um país com uma população cada vez maior de aposentados e com cada vez menos jovens entrando no mercado de trabalho.
Fohrbeck vê os estudantes estrangeiros como uma possível solução para o problema demográfico da Alemanha: "Reter estes estudantes é a forma ideal de imigração: eles têm os diplomas necessários, não têm problemas com o idioma e em conhecer a cultura".

Isso pode durar?

Segundo Krach, os estudantes alemães não têm com o que se preocupar, porque cidades como Berlim ampliaram muito suas vagas em universidades e há espaço para todos.
Wolfgang Hermann, da Universidade Técnica de Munique, acredita ser possível que, no futuro, os estudantes estrangeiros tenham que pagar para garantir que as universidades alemãs possam competir globalmente.
Mas tanto estudantes quanto educadores alertam que a eventual introdução de mensalidades baratas - que Hermann estimou em um valor entre US$ 5,4 mil e US$ 11 mil -, poderia impedir que estudantes talentosos de algumas regiões do mundo estudassem na Alemanha.
E, em Berlim, o governo local garante que, no momento, não planeja passar a cobrar. "Não vamos cobrar mensalidades de estudantes estrangeiros", assegura Krach.
"Não queremos que a possibilidade de entrar na universidade dependa do status social nem que o intercâmbio entre países dependa unicamente de aspectos financeiros."
Nos Estados Unidos, a mãe de Bliss se pergunta por que seu país não pode oferecer a seu filho uma educação de qualidade a um preço acessível.
"Sinto que ele tem uma educação maravilhosa, de forma completamente gratuita. Por que não podemos fazer o mesmo aqui?"
Fohrbeck, da DAAD, acredita que os Estados Unidos e outros países podem aprender algo com a experiência alemã.
"Se um país educa bem sua força de trabalho, isso beneficia todo o país."

Reportagem de Franz Strasser
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/06/150608_universidades_alemanha_gratuitas_rb#orb-banner
foto:http://www.correiodoestado.com.br/noticias/universidades-alemas-buscam-pesquisadores-e-alunos-no-brasil/162953/

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