14/02/2015

Sem limpeza completa da Guanabara, velejadores temem o lixo como rival em 2016


Nem os ventos, nem a maré, nem a destreza dos velejadores. Para Torben Grael, dono de cinco medalhas olímpicas e treinador-chefe do time brasileiro, o lixo pode definir quem subirá ao pódio nos Jogos do Rio-2016. Em entrevista à BBC, ele mostrou preocupação com algo que vem tirando o sono de muitos competidores e talvez se confirme como um pesadelo na Olimpíada.
A promessa de coleta e tratamento de 80% do esgoto despejado na baía da Guanabara não deve ser cumprida. No fim do mês passado, o secretário do Ambiente do Estado do Rio foi categórico: “Isso não vai acontecer. Aliás, o estabelecimento dessa meta até hoje não entendi muito bem como foi feito”, afirmou André Corrêa.
Dias depois, o comitê da Rio-2016 afirmou que o compromisso assumido na candidatura brasileira estava mantido. Foi seguido pelo secretário da Casa Civil. Mas ambientalistas, atletas e membros do governo não acreditam que isso aconteça de fato. Segundo relatório da Coppe/UFRJ, a cidade não chegará aos 80% de esgoto tratado, e a água na baía só estará limpa em 2026, se os esforços continuarem a ser feitos. O governo diz que hoje o tratamento chega a 50% da rede.
Não é a primeira vez que governantes admitem a falha no cumprimento da meta de despoluição da Guanabara. No ano passado, o prefeito Eduardo Paes disse lamentar “que não tenhamos conseguido usar os Jogos para limpar completamente a baía”.
Outras promessas de campanha da Rio-2016 também devem ficar pelo caminho. No dossiê, era previsto investimento para a regeneração completa da lagoa de Jacarepaguá e aumento da balneabilidade das praias de 50% para 80%. As obras na lagoa, que deveriam ter sido iniciadas em 2013, não saíram do papel por problemas na licitação apontados pelo Ministério Público —falta de estudo de impacto ambiental e suspeita de esquema de cartel. Segundo o UOL, o Rio já admite que não conseguirá cumprir a limpeza até os Jogos.
Competidores de diversos países têm se mostrado preocupados com a qualidade da água da cidade olímpica, não só para as provas de vela, mas também para a maratona aquática e o triatlo, que terão suas disputas em Copacabana. Após conquistar a prata nos 10 km no Pan de 2007, Poliana Okimoto teve vômito e diarreia. Seu médico creditou o fato à quantidade de água ingerida por ela durante a prova. Por conta do mal estar, a nadadora teve de desistir da prova que disputaria na piscina.
No evento-teste olímpico da vela, em agosto, o australiano Nathan Outteridge, ouro em Londres-2012, relatou ter encontrado nos treinos até um cachorro morto e uma mesa de jantar, além de muitas sacolas plásticas boiando. Até o ex-nadador holandês Pieter van den Hoogenband engrossou o coro de críticas ao publicar em seu Instagram fotos feitas por um praticante de stand up paddle na baía.
O governo do Rio afirma que a qualidade da água não colocará em risco a saúde dos atletas e que o impacto do lixo flutuante será minimizado com o uso de ecobarcos e ecobarreiras. As embarcações “varreram” 439 toneladas de lixo da baía só em 2014. As barreiras são colocadas nas fozes dos rios e impedem a entrada dos objetos na Guanabara. Todas essas, no entanto, são medidas paliativas.
Após o Carnaval, Corrêa deve se encontrar com Torben para discutir o que efetivamente poderá ser feito para evitar que os atletas sejam derrotados pelo lixo em 2016. Já população deve ter de conviver com ele por mais tempo.

Texto de 
fonte:http://esportefino.cartacapital.com.br/guanabara-vela-lixo-2016/
foto:http://www.tudoeturismo.com.br/denuncia/baia-de-guanabara-uma-historia-que-precisa-mudar

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