Nem os ventos, nem a maré, nem a destreza dos velejadores. Para Torben Grael, dono de cinco medalhas olímpicas e treinador-chefe do time brasileiro, o lixo pode definir quem subirá ao pódio nos Jogos do Rio-2016. Em entrevista à BBC, ele mostrou preocupação com algo que vem tirando o sono de muitos competidores e talvez se confirme como um pesadelo na Olimpíada.
A promessa de coleta e tratamento de 80% do esgoto despejado na baía da Guanabara não deve ser cumprida. No fim do mês passado, o secretário do Ambiente do Estado do Rio foi categórico: “Isso não vai acontecer. Aliás, o estabelecimento dessa meta até hoje não entendi muito bem como foi feito”, afirmou André Corrêa.
Dias depois, o comitê da Rio-2016 afirmou que o compromisso assumido na candidatura brasileira estava mantido. Foi seguido pelo secretário da Casa Civil. Mas ambientalistas, atletas e membros do governo não acreditam que isso aconteça de fato. Segundo relatório da Coppe/UFRJ, a cidade não chegará aos 80% de esgoto tratado, e a água na baía só estará limpa em 2026, se os esforços continuarem a ser feitos. O governo diz que hoje o tratamento chega a 50% da rede.
Não é a primeira vez que governantes admitem a falha no cumprimento da meta de despoluição da Guanabara. No ano passado, o prefeito Eduardo Paes disse lamentar “que não tenhamos conseguido usar os Jogos para limpar completamente a baía”.
Outras promessas de campanha da Rio-2016 também devem ficar pelo caminho. No dossiê, era previsto investimento para a regeneração completa da lagoa de Jacarepaguá e aumento da balneabilidade das praias de 50% para 80%. As obras na lagoa, que deveriam ter sido iniciadas em 2013, não saíram do papel por problemas na licitação apontados pelo Ministério Público —falta de estudo de impacto ambiental e suspeita de esquema de cartel. Segundo o UOL, o Rio já admite que não conseguirá cumprir a limpeza até os Jogos.
Competidores de diversos países têm se mostrado preocupados com a qualidade da água da cidade olímpica, não só para as provas de vela, mas também para a maratona aquática e o triatlo, que terão suas disputas em Copacabana. Após conquistar a prata nos 10 km no Pan de 2007, Poliana Okimoto teve vômito e diarreia. Seu médico creditou o fato à quantidade de água ingerida por ela durante a prova. Por conta do mal estar, a nadadora teve de desistir da prova que disputaria na piscina.
No evento-teste olímpico da vela, em agosto, o australiano Nathan Outteridge, ouro em Londres-2012, relatou ter encontrado nos treinos até um cachorro morto e uma mesa de jantar, além de muitas sacolas plásticas boiando. Até o ex-nadador holandês Pieter van den Hoogenband engrossou o coro de críticas ao publicar em seu Instagram fotos feitas por um praticante de stand up paddle na baía.
O governo do Rio afirma que a qualidade da água não colocará em risco a saúde dos atletas e que o impacto do lixo flutuante será minimizado com o uso de ecobarcos e ecobarreiras. As embarcações “varreram” 439 toneladas de lixo da baía só em 2014. As barreiras são colocadas nas fozes dos rios e impedem a entrada dos objetos na Guanabara. Todas essas, no entanto, são medidas paliativas.
Após o Carnaval, Corrêa deve se encontrar com Torben para discutir o que efetivamente poderá ser feito para evitar que os atletas sejam derrotados pelo lixo em 2016. Já população deve ter de conviver com ele por mais tempo.
Texto de Mariana Lajolo
fonte:http://esportefino.cartacapital.com.br/guanabara-vela-lixo-2016/
foto:http://www.tudoeturismo.com.br/denuncia/baia-de-guanabara-uma-historia-que-precisa-mudar
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