11/12/2014

Por falta de manutenção, franceses desperdiçam mais de 20% da água potável do país

Atualmente, apenas 0,6% da rede da França é renovada por ano; serviço de águas é dominado por inciativa privada, mas Paris remunicipalizou empresa.


Cinquenta anos depois da lei de regulamentação da água, criada em dezembro de 1964, a França ainda enfrentas sérios problemas no sistema hidráulico. O maior deles é o desperdício. Segundo o relatório deste ano do Observatório dos Serviços Públicos de Água e Saneamento (Onema), mais de 20% de toda a água encanada do país, que é potável, é perdida por causa de vazamentos. O motivo por trás de tanto gasto é um velho conhecido dos profissionais do setor: a insuficiente manutenção de equipamentos.
Atualmente, apenas 0,6% da rede do país é renovada por ano. Neste ritmo, trocar completamente todo o sistema levaria 160 anos. Porém, a vida útil dos equipamentos varia entre 30 e 80 anos, dependendo da natureza de cada um. Mas, ao invés de acelerar o processo de manutenção, as empresas francesas diminuem cada vez mais os investimentos para este tipo de serviço. As entidades responsáveis pelos consertos denunciam baixas de até 10% na demanda em 2014, após uma diminuição de 4% no ano anterior.
A solução apontada pelo Onema é aumentar levemente a conta de água residencial para conseguir investimentos suficientes para a manutenção. Para dobrar os € 800 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) disponíveis para este fim, seria necessário um aumento de € 4, por ano, aos € 400 consumidos em média, por domicílio, no país. O serviço de água na França, no entanto, não é considerado caro: ele consome apenas 0,8% do orçamento das famílias, atrás das despesas como internet/telefonia, que representa 2,8% do orçamento.
Em Paris, a situação é melhor. De acordo com o Escritório Nacional da Água e dos Meios Aquáticos, o desperdício é de 8%. “As canalizações da capital são visitáveis e facilmente acessíveis para serem renovadas”, explica Célia Blauel, assessora da prefeitura de Paris encarregada de meio-ambiente e águas em entrevista. “Também investimos em dispositivos de consumo de água à distância, instalados em 99% dos hidrômetros parisienses, que permitem obter informações rápidas sobre o consumo e alerta em caso de vazamento”, esclarece a responsável.
Remunicipalização do serviço
Mas tanto investimento só foi possível depois de uma reviravolta na gestão da água da capital francesa, que passou, há pouco mais de cinco anos, por uma remunicipalização. A partir dos anos 70, quase toda distribuição hidráulica do país passou a ser de responsabilidade do setor privado. O serviço foi dividido entre seis grandes empresas. Este modelo, entretanto, passou a ser questionado devido à má gestão dos recursos e denúncias de corrupção que começaram a surgir na década de 90. A negligência em relação a vazamentos provocou desconfiança, já que, do ponto de vista comercial, vazamento e consumo significam a mesma coisa: lucro para a empresa.
Seguindo os passos de outras cidades como Grenoble, Rennes e Nice, a capital francesa decidiu voltar à gestão pública. Foi então criada a Eau de Paris (Água de Paris), um organismo que administra especificamente a distribuição na cidade. Célia Blauel, que também é presidente da Eau de Paris, afirma que a mudança foi fundamental. “O resultado da remunicipalização é globalmente positivo. O modelo de Paris é um sistema único, muito observado tanto na França quanto no exterior. É uma nova escola de gestão de água, um símbolo bem-sucedido da reconversão para gestão pública”.
Um relatório publicado pela Unidade de Pesquisa Internacional sobre o Serviço Público (PSIRU), em novembro deste ano, concluiu que reconversões deste tipo são uma tendência no mundo todo: mais de 180 cidades de 35 países diferentes teriam voltado para a gestão pública. As críticas mais frequentes da administração privada são a falta de transparência, má qualidade do serviço, aumento de tarifas e falta de investimento em melhorias. Uma reconversão resolveria os problemas, já que “os recursos financeiros que antes eram lucros e benefícios de acionistas podem finalmente ser reinvestidos no serviço”, alega o relatório.
Apesar dos benefícios, a grande maioria da distribuição de água no território francês ainda é controlada pelo setor privado. Veolia, GDF e Suez, as três maiores empresas do setor, controlam juntas 69% da distribuição nacional. Ao optar por uma política focada no curto prazo e sem manutenção adequada, o desperdício de água no país, já bastante alto, corre o risco de aumentar consideravelmente nos próximos anos.

Reportagem de Amanda Lourenço
texto/imagem: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/38778/por+falta+de+manutencao+franceses+desperdicam+mais+de+20+da+agua+potavel+do+pais.shtml

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