O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tenta de todas as formas possíveis manter os generosos subsídios dos bens oferecidos na Venezuela. Com problemas de fluxo de caixa e temeroso pela convulsão social que pode ocorrer caso sejam cortados, o chefe de Estado decidiu reforçar ainda mais os controles. É o esforço mais recente para evitar que os produtos regulamentados ultrapassem a larga fronteira com a Colômbia – quase 2.200 quilômetros –, onde são cotados a preço de mercado e são o objeto de desejo mais apreciado pelos revendedores pelos lucros que produzem.
Na última quarta-feira, Maduro convocou uma transmissão obrigatória por rádio e televisão do país para anunciar uma luta sem trégua contra o contrabando, para a qual pediu a colaboração do todos os venezuelanos. “Invoco e convido toda a população para apoiar todas as medidas. Eu preciso de seu apoio”, disse, rodeado de alguns ministros e do novo superintendente Nacional de Preços Justos, Andrés Eloy Méndez.
Maduro também aproveitou para reforçar o relato chavista segundo o qual a oposição defende os contrabandistas e pretende eliminar os controles da economia, que o chavismo defende com ardor, para privilegiar as margens de lucros dos empresários.
Os controles, que não são criação do chavismo, sempre foram limitados aos produtos da cesta básica, mas Maduro deu um passo além ao aprovar uma Lei de Custos e Preços Justos que regula tudo o que se comercializa e fixa margem máxima de lucro. Deste aprofundamento das regulamentações provém o problema de abastecimento que assola a Venezuela desde 2013 e que o Governo tenta combater importando tudo o que os meios de produção privados não produzem ou nacionalizam por falta de divisas. Há 11 anos o Estado controla a compra e venda de dólares.
O modelo parece estar fazendo água pela falta de dinheiro – os economistas asseguram que o Governo conta somente com reservas líquidas para pagar até três meses de importações – mas o Executivo, consciente de que os subsídios são seu gancho eleitoral, preferiu colocar em prática todo o tipo de medidas antes de liberar a economia.
Maduro, nesta quarta-feira, tentou convencer o público de que sua luta é justa e mostrou, através de ligações diretas com unidades móveis da rede de televisão oficial colocadas nas províncias fronteiriças, o sucesso da luta contra os contrabandistas, iniciada em 11 de agosto com o fechamento noturno da fronteira. Do estado de Táchira, o vice-presidente Jorge Arreaza mostrou pilhas de alimentos básicos das marcas favoritas dos venezuelanos, enquanto o chefe operacional das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, Vladimir Padrino López, anunciou a quantidade de caminhos clandestinos inutilizados.
Maduro também revelou que aplicará um sistema de identificação biométrico em supermercados e víveres para evitar que em uma mesma semana seja possível adquirir alimentos básicos em lugares diferentes. Essa versão do cartão de racionamento cubano não é um anúncio novo. Em abril tentou-se aplicar um programa piloto na rede de víveres do Estado, mas nunca passou do período de testes. Com a água no pescoço, o Governo decidiu assumir o custo apelando para uma de suas bandeiras propagandísticas. O chavismo se orgulha de ter contratado o sistema eleitoral mais moderno e seguro do mundo porque combina um sistema de identificação biométrico com o voto eletrônico. “Isso vai ser como foi a máquina de captar impressões digitais no sistema eleitoral: uma medida antifraude”, prometeu o presidente. Ainda não está claro quando esta medida começará a valer, mas antes o Superintendente de Custos e Preços Justos, Andrés Eloy Méndez, disse que no final do ano os venezuelanos deverão colocar sua impressão digital na hora da compra.
O Governo sabe que a tentação de comercializar produtos regulados na Colômbia ou fora dos supermercados é grande. Por essa razão Maduro ordenou sua equipe a aprofundar as investigações para descobrir os peixes grandes do contrabando e confiscar suas posses. “Galpões, locais, caminhões, veículos, tudo”, detalhou. Essas advertências serviram como transição para explicar outras medidas que englobam essa cruzada oficial contra o contrabando. Nos próximos dias o Executivo aplicará um sistema para controlar a logística e a distribuição de todos os produtos.
Cada medida justificou a visão de mundo do chavismo governante que há quinze anos luta para destruir a lógica da oferta e da demanda. Maduro disse que como presidente “defenderá o direito dos venezuelanos de viver em paz”. Dirigindo-se para a câmera, no final de seu pronunciamento, ameaçou: “Que as máfias saibam que não vão nos vencer nem por cansaço, nem por aborrecimento. Não puderam e nem poderão com nosso amor por esse povo”.
Reportagem de Alfredo Meza
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/21/internacional/1408593874_231518.html
foto:http://lainfo.es/pt/2014/08/09/ative-plano-para-combater-o-contrabando-na-venezuela/
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