Havia tempo que a palavra recessão estava descartada do dicionário brasileiro. Mas, os últimos indicadores divulgados nesta semana, como a prévia da inflação acima da meta estabelecida pelo Banco Central, e uma redução dos ganhos salariais em grandes capitais, fizeram os economistas perderem a timidez para falar sobre o assunto. “Já estamos entrando em uma recessão, num ligeira recessão”, diz o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos interlocutores da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula.
“O desempenho da economia no segundo trimestre será negativo”, diz Belluzzo que prevê demissões nas empresas até o final do ano, o que pode promover um terceiro trimestre estagnado, portanto, dentro do que o mercado costuma chamar de “recessão técnica”, quando a economia não cresce por dois trimestres seguidos. No caso de três consecutivos, se configura a recessão clássica.
O setor industrial já vem registrando saldo negativo de emprego (mais demissões que contratações) há três meses. A construção civil também começou a contabilizar cortes de pessoal no mês de junho, segundo o último levantamento do Ministério do Trabalho.
Ao todo, foram criadas 25.300 vagas, a menor geração de vagas formais registrado para o mês desde 1998, observa o Departamento de Estudos Econômicos do banco Bradesco.
Nesta quinta-feira, dia 24, a pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)mostrou, ainda, um recuo nos salários em quatro grandes capitais entre maio e junho: em Recife, por exemplo, houve queda de 1%, em Belo Horizonte, -2,2%, no Rio de Janeiro, -0,5%, e em São Paulo,-1,6%.
Alessandra Ribeiro, sócia da consultoria Tendências, diz que o cenário vai ficar bastante delicado a partir de agora. “Além de um PIB negativo no segundo trimestre, os dados dos primeiros três meses do ano podem ser revisados para baixo, o que já nos colocaria em recessão técnica”, afirma.Entre janeiro e março deste ano, o país cresceu 0,2%, mas se o dado for revisto para baixo, o desempenho será negativo.
Ribeiro lembra que os números ruins de junho levaram todas as consultorias a revisarem para baixo o crescimento do PIB do país neste ano. A Tendência, por exemplo, passou de 1,3% para 0,6%. O próprio Governo já havia reduzido sua expectativa, de 2,5% para 1,8%, conforme projeção do Ministério do Planejamento.
A inflação persistente, acima da meta de 6,5%, já pesa nos custos das empresas, que devem promover novas demissões. O Bradesco projeta um cenário de elevação gradual da taxa de desemprego ao longo do segundo semestre, com uma taxa média de desemprego de 5,2% neste ano e de 5,7% em 2015.
Os números revelam que o setor empresarial se mantém em compasso de espera, um quadro típico dos anos eleitorais. Quem tem investimentos a fazer, prefere esperar a troca de comando para definir sua estratégia de atuação.
Estagflação
A economia estagnada com inflação em alta cria um círculo vicioso que é o pesadelo de todo governante. Com preços mais altos, o consumidor adia a compra. Sem vender, os empresários adiam seus planos de investir. Sem investimento, não há incentivo para novas contratações. E diante dessa perspectiva, o trabalhador fica mais cauteloso, portanto, menos animado para se endividar.
Na terça-feira, dia 22, o IBGE divulgou a prévia da inflação de julho que se mantém nos 6,51% em 12 meses, embora apontando para uma desaceleração.
Para aumentar o labirinto, a inflação alta faz o Banco Central manter os juros altos, o que encarece o custo do dinheiro para o empresário e o consumidor.Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na última quinta-feira, o BC assegurou que manterá a taxa básica de juros em 11%, admitindo uma inflação persistente neste ano e no ano que vem, maior inclusive do que havia sido projetada no mês passado.
A margem de manobra para virar esse jogo, no curto e médio prazo, é mínima e o quadro de estagnação com inflação, ou estagflação se torna inexorável. “Esse quadro de estagflação pode durar por seis meses. Mesmo com a entrada de um novo presidente”, diz Fabio Silveira, da GO Associados, que não dá tanta importância ao eventual status de recessão. “É só um nome. O fato é que a economia está parada”, completa.
Se houver alguma injeção de ânimo importante, os resultados econômicos mais positivos só vão aparecer em 2016, calcula Silveira, que prevê uma expansão de apenas 0,5% para o PIB deste ano. Mas para isso, é preciso oferecer um farto leque de opções para o crescimento do setor produtivo, que garanta o aumento da oferta e das exportações, que perderam o vigor de outrora com o fim do ciclo de valorização das commodities. Leia-se facilidades para investir, redução de burocracias, e apoio na busca de novos mercados para exportar. Medidas que são colocadas de pé apenas no longo prazo.
Reportagem de Carla Jiménez
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2014/07/26/economia/1406330435_624350.html
foto:http://danilomedina.com.br/2009/06/08/brasil-em-recessao/
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