26/06/2014

A OMS exige “medidas drásticas” para combater o ebola


A epidemia do vírus ebola que afeta Guiné, Serra Leoa e Libéria avança com grande velocidade. Do dia 16 de junho até ontem, o total de casos nesses três países da África Ocidental cresceu 20%, passando de 528 para 635, enquanto o de mortos subiu 8,9% (passou de 337 para 367). Essa elevação na incidência da doença, detectada pela primeira vez na região em março, levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a temer que o vírus “se internacionalize ainda mais”, segundo um comunicado. O perigo é evidente: da Guiné, o vírus já passou para dois países vizinhos, e, nessa região densamente povoada, com grande mobilidade e onde as famílias e etnias estão divididas entre vários Estados, a epidemia “está fora de controle”, afirma a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
A OMS determinou que a próxima reunião sobre a doença, com a participação de autoridades locais, doadores e agentes com atuação na região, acontecerá em Acra, capital da vizinha Gana, nos dias 2 e 3 de julho, um sinal de preocupação com ao avanço do vírus através de novas fronteiras.
“O alarme pelo surto do vírus ebola é um desafio para os três países afetados”, disse a OMS em nota à imprensa, defendendo “medidas drásticas” para frear a expansão da doença.
Não é só a agência sanitária da ONU que manifesta preocupação. A MSF – que trabalha ativamente na região junto com equipes locais, da OMS, do Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC) e do seu equivalente americano, o CDC (Centro para o Controle de Doenças) – faz um diagnóstico ainda pior. Bart Janssens, diretor de operações da ONG, é taxativo: “Com a contínua aparição de novos focos na Guiné, em Serra Leoa e na Libéria, há um risco real de que ela continue se expandindo”, disse.
O problema é que é difícil transformar essa necessidade de providências em ações práticas. O vírus ebola não tem tratamento nem vacina. O melhor que se pode fazer é identificar os afetados o mais rapidamente possível, isolá-los, tratar os seus sintomas e fazer um rigoroso acompanhamento das pessoas que estiveram em contato com os pacientes. E isso que se tem feito até agora. “A sociedade civil e as autoridades políticas e religiosas estão fracassando em assumir a escala da epidemia, com poucas figuras relevantes lançando mensagens que promovam a luta contra a doença”, disse Janssens.
Esse é o primeiro passo para tentar controlar a propagação do vírus, mas ele enfrenta vários inconvenientes. Para começar, os primeiros sintomas da infecção – febre, dor muscular, de cabeça, fraqueza e irritação na garganta – são inespecíficos. O mesmo pode acontecer com uma gripe, outra doença viral (a princípio, vários falsos positivos de ebola foram atribuídos a pessoas com uma enfermidade chamada febre de Lassa), ou a malária, por exemplo. Por isso os pacientes demoram a procurar os hospitais.
Além disso, até agora os surtos de ebola ocorriam na África Central (República Democrática do Congo e Uganda, sobretudo), razão pela qual a população não sabe o que enfrenta. E quem tem essa noção muitas vezes evita comparecer a um posto de saúde por medo do estigma associado à doença, algo que já começa a impregnar as zonas afetadas, segundo alerta a MSF.
A ONG destaca outro aspecto: “O desconhecimento sobre como se transmite a doença tem feito com que as pessoas continuem comparecendo a funerais [de possíveis vítimas fatais] em áreas onde não há medidas de controle”. Isso facilita o contato com os cadáveres, que são uma fonte de contágio – razão pela qual a medida recomendada nesses casos é a cremação, mas isso se choca com as tradições locais.
Diante dessa situação, a única medida possível é reforçar as equipes deslocadas para a zona e tentar detectar e isolar os pacientes o mais rapidamente possível. O ebola é diagnosticado por um exame de sangue que busca o material genético do vírus nas pessoas. Os sintomas mais chamativos (as famosas hemorragias internas e externas) só aparecem no final do processo.
A OMS anunciou o envio de 150 profissionais adicionais à região. A MSF, que tem 300 pessoas já mobilizadas na zona, afirma que seria preciso dispor de muitos profissionais de saúde a mais, principalmente médicos treinados para tratar esse tipo de enfermidade. É uma luta contra o relógio, naquela que já é a pior epidemia de ebola desde aquela que levou ao descobrimento do vírus, em 1976.

Reportagem de Emilio De Benito
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/26/sociedad/1403788441_227928.html
foto:http://www.lexpressguinee.com/fichiers/blog16-999.php?pseudo=rub2&code=calb4122&langue=fr

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