09/04/2014

A Espanha perde 1.200 bolsistas brasileiros por uma trava administrativa

O sonho espanhol de acolher em suas universidades durante quatro anos 8.000 alunos que receberam bolsas do Governo brasileiro e do setor privado veio abaixo. O programa Ciência sem Fronteiras (CSF) começou em 2012-2013 com 1.678 bolsistas na Espanha e neste ano foram enviados àquele país apenas 404, segundo dados da Embaixada do Brasil em Madri. O número foi reduzido a um quarto depois que os alunos de graduação (a maioria), de doutorado e os pesquisadores foram obrigados a se submeter a uma avaliação de língua espanhola no Instituto Cervantes, ligado ao Ministério de Assuntos Exteriores espanhol, em uma data fixa perto da convocação. A decisão não levou em conta que muitos candidatos não tinham condições de ir fazer o teste.
“Houve um pequeno cataclismo que vamos corrigir para o próximo ano. Alguém deve ter pensado que o Brasil era do tamanho de uma comunidade autônoma espanhola e não da Europa”, argumenta o reitor da Universidade de Santiago de Compostela, Juan Casares Long, que preside a comissão de mobilidade da Conferência de Reitores (CRUE). “Não foi levado em conta que os alunos nem sempre têm disponibilidade para viajar, o padrão de vida é diferente...”, continua.
O Brasil impôs uma prova que não custa nada ao aluno, mas a decisão de centralizá-la no Instituto Cervantes foi da Espanha. O Brasil é o país com o maior número de sedes desta instituição no mundo – são oito. A primeira, em São Paulo, foi inaugurada em 1998. Fontes do Cervantes dizem que são “um mero instrumento a serviço do Governo do Brasil” e que existem cerca de 60 centros nos quais é possível ser submetido aos exames, “por isso, não há problemas de acessibilidade”. Não havia exames no primeiro ano, ao contrário de França, Alemanha ou Estados unidos, e foi “um fiasco”, continuam as fontes, porque o português e o espanhol não são tão semelhantes quanto se pensa. Uma equipe do Cervantes se dedica expressamente ao programa Ciência sem Fronteiras.
Os bolsistas incluem alunos de graduação que passam alguns meses na Espanha; doutorandos que devem desenvolver suas teses em três anos; doutores que pleiteiam estadias de até dois anos, ou tecnólogos, que ficam três meses. Por outro lado, jovens talentos e professores visitantes espanhóis podem vir ao Brasil por alguns meses.
O Governo brasileiro detectou no primeiro ano que devia “acompanhar” alguns alunos que “demonstraram dificuldades de adaptação devido ao baixo nível de proficiência em espanhol”, explicam fontes na embaixada. Desde então, argumentam, foi decidido aplicar a prova. Aqueles que alcançam um nível médio-baixo (A2) têm a oportunidade de receber aulas on-line gratuitas para atingir o nível B1.
Após o sacrifício, agora basta atingir um nível médio (B1, do marco comum europeu de referência de línguas) em outros organismos. “Está bem proteger o Cervantes, mas é preciso se ajustar porque as habilidades podem ser demonstradas de outras formas”, diz Casares Long.
Já existem 800 estudantes e pesquisadores brasileiros pré-selecionados para o curso 2014-2015, explica o reitor, que reconhece “um pequeno desastre”. Em um esforço para conquistar os brasileiros, em meados de março o ministro espanhol das Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, ofereceu ao chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, uma lista de centros de excelência espanhóis, durante uma visita do ministro a Madri.
O declínio neste ano é um revés para a estratégia de internacionalização do sistema universitário espanhol, mas também econômico. De acordo com cálculos do EL PAÍS, esses brasileiros teriam recebido pelo menos 10 milhões de euros para gastar na Espanha. No primeiro ano, 21 universidades espanholas quiseram entrar no projeto, e no segundo, 41 instituições. Para os próximos, as universidades já somam 58 – com uma oferta de 2.500 vagas – das quais o Brasil escolheu mais de vinte.
A redução é evidente. A Universidade de Cádiz, por exemplo, que acolheu 19 alunos no primeiro ano, teve de se contentar com três. “Em Santiago, passamos de cento e poucos para 20, então nós notamos”, lamenta o reitor galego.
O financiamento destas bolsas de estudo é público e privado. “O desafio é criar condições para aumentar ainda mais o investimento privado em pesquisa, inovação e desenvolvimento”, disse há um ano Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em um encontro organizado pelo EL PAÍS. Em quatro anos, o Brasil vai conceder 101.000 bolsas, o que explica que a concorrência com outros países para atrair esses bolsistas tem sido crescente. Os países que recebem mais estudantes, dos 28 com os quais o Brasil possui um convênio, são Estados Unidos, França, Canadá e Portugal (que suspendeu o programa no ano passado).

Reportagem de Elisa Silió
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2014/04/06/sociedad/1396817957_379950.html
foto:http://catracalivre.com.br/geral/universidades/indicacao/santander-e-universidade-de-la-rioja-disponibilizam-bolsas-de-estudo-na-espanha/

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