26/03/2014

Um clima cada vez mais extremo


Ondas de calor, secas, ciclones, inundações... O ano de 2013 foi um bom exemplo de como os fenômenos meteorológicos extremos impactam as comunidades e regiões inteiras. O tufão Haiyan arrasou regiões do centro das Filipinas, Oklahoma (EUA) sofreu o maior tornado jamais observado antes, nevadas sem precedentes açoitaram Israel, Jordânia e Síria. A declaração anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre o estado do clima mundial, apresentada ontem em Genebra, alerta que se estão acentuando os episódios climáticos extremos e insiste: isso ocorre porque a ação do homem está por trás das mudanças do clima.
tendência de aquecimento mundial a longo prazo continua ganhando forma nas estatísticas. O ano de 2013 foi, com o de 2007, o mais quente desde que se tem registro. Mas, além disso, segundo destaca o relatório da OMM, 13 dos 14 anos mais quentes ocorreram no século XXI. Cada uma das três últimas décadas foi mais quente que a anterior (o recorde foi 2001-2010). A média de temperatura registrada na terra e na superfície dos oceanos no ano passado foi de 14,5 graus centígrados, ou seja, aumentou meio grau em relação à média dos anos 60, 70 e 80. Dados que se traduzem em recordes: a Austrália registrou o ano mais quente da história; a Argentina, o segundo.
É possível atribuir todos ou parte desses fenômenos ao aquecimento global? Jessica Blunden, cientista da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) e uma das autoras do estudo, afirma que “sempre houve, e sempre haverá, fenômenos meteorológicos e climáticos extremos e variações naturais decorrentes de fatores como El Niño e La Niña”, mas recorda que o Painel Intergovernamental de especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), declarou em setembro que o aquecimento é “inequívoco” e que a “influência humana está clara”.
“Vemos muitos casos nos quais os episódios extremos ocorrem tal e qual os cientistas haviam previsto em razão da mudança climática”, explica Blunden, por e-mail. “Por exemplo, em diferentes zonas em todo o mundo foram previstas ondas de calor mais extremas, chuvas abundantes e secas mais intensas, e agora estamos vendo que esses fenômenos ocorrem. Infelizmente, não é tarefa fácil analisá-los enquanto se processam e atribui-los à mudança climática”, acrescenta. Para explicar isso, Blunden cita um estudo que incorpora o relatório da OMM sobre as temperaturas recorde registradas na Austrália em 2013.
O trabalho, realizado por cientistas da Universidade de Melbourne (Austrália), utilizou nove modelos climáticos para avaliar se as mudanças na probabilidade de que se registrassem temperaturas extremas durante o verão australiano se deviam à influência humana. Eles demonstraram que o recorde de 2013 como ano mais quente “teria sido praticamente impossível sem os gases que retêm o calor de origem humana, o que comprova que é muito mais provável que alguns fenômenos extremos ocorram por causa da mudança climática”. Nesse caso, diz Blunden, “o estudo estabelece um vínculo direto entre a mudança climática e esse calor sem precedentes”.
O secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, também afirmou ontem durante a apresentação do informe que “muitos dos fenômenos meteorológicos extremos que se produziram em 2013 correspondiam às consequências em termos de mudança climática que se esperava que a atividade humana provocaria”. Exemplos: “Precipitações mais fortes, um calor mais intenso e um maior número de danos causados por tempestades afetando as marés e por inundações costeiras, como resultado do aumento do nível do mar”. O tufão Haiyan seria o melhor exemplo disso, acrescentou.
Manuel de Castro, catedrático da Universidade de Castela-Mancha e um dos autores espanhóis do relatório do IPCC, garante que há alguns fenômenos extremos que se relacionam com maior certeza com a mudança climática, “sobretudo quando falamos de ondas de calor, já que se tem uma clara evidência de que há uma tendência crescente”, diz. Entre outros episódios, como chuvas torrenciais e ciclones tropicais, “há menos evidências, embora isso não queira dizer que não possam ser imputados ao aquecimento global”. “É uma explicação plausível, mas não se pode garantir cem por cento enquanto não tivermos mais evidências”, acrescenta.
Com um cenário desses, os sistemas de previsão meteorológica serão essenciais, afirma Blunden. “Especialmente pelo crescimento de megacidades muito povoadas, geralmente situadas em zonas costeiras vulneráveis a ciclones, cheias e inundações.” E acrescenta: “Graças às previsões, a índia pôde remover cerca de 1 milhão de pessoas antes do ciclone tropical Phailin, e reduziu enormemente a perda de vidas”.

Reportagem de Elena G. Sevillano
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2014/03/24/sociedad/1395695472_016895.html
foto:http://www.greenitbrasil.com.br/?tag=aquecimento-global

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