
Um exame mais restrito, focado apenas nos torturadores que puderam
ser plenamente identificados por nome completo e cargo, tem resultado
semelhante. Nessa amostra mais detalhada, com 238 identificados, os
militares são 130 (54,62%); os civis, 101 (42,43%); e os de vínculo
desconhecido, apenas 7 (2,94%). Nesse recorte, a corporação que mais
torturou foi o Exército: eram seus oficiais e praças 38,65% (92) dos
acusados por presos políticos de tortura (e 70,76% dos militares
acusados de torturadores). Em segundo lugar nessa contagem, ficaram as
Polícias Civis, com 74 acusados (31%). Outras instituições ficaram bem
atrás dos dois líderes nessa contagem de torturadores totalmente
identificados. As Polícias Militares, por exemplo, aparecem com 19
acusados.
"Competição gera tortura", diz a pesquisadora norte-americana Martha
Huggins, da University of Tulane e autora de trabalhos sobre os
torturadores brasileiros como Trabalhadores da Violência: Torturadores e Assassinos Brasileiros (Emp. UnB, 2002), e Polícia e Política: Estados Unidos/Brasil (Cortez,
1998). "Existia forte competição entre as forcas de segurança, como
Exército, Polícias Civis e Militares, Oban (Operação Bandeirante),
DOI-Codi, durante a ‘guerra suja’ brasileira. O ‘ganhador’ em tal
competição era a força que conseguia a informação rápida sobre o
‘terrorista’ e a localização dos seus associados. A Polícia Civil tinha
função burocrática e grande prática em conseguir informação rápida."
Antes da ditadura, já existiam no Brasil órgãos civis de vigilância
política, como os Departamentos (ou Delegacias) de Ordem Política e
Social, vinculados às polícias estaduais. O regime militar criou em 1967
a Polícia Federal, uma corporação civil fortemente voltada para a
repressão política. Depois do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em 13 de
dezembro de 1968, e com o recrudescimento das ações de guerrilha urbana,
porém, a repressão civil se subordinou mais fortemente ao comando dos
militares.
A partir de 1969, por meio da Operação Bandeirante, em São Paulo,
depois pelos Destacamentos de Operações de Informações-Centros de
Operações de Defesa Interna (DOI-Codis) - que centralizaram
regionalmente a repressão sob comando do Exército -, civis se
subordinaram mais diretamente à ditadura. A maior parte das denúncias
contra torturadores se concentrou na primeira metade dos anos 70,
durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici, considerado o
mais fechado e sangrento do período ditatorial.
"Foi fácil usar as Polícias Civis para interrogar e torturar, porque
elas já tinham muita prática nessa área", afirma Martha. "Os policiais
civis tinham uma posição burocrática legitimada para fazer
interrogatórios e porque tiveram uma história de torturar."
Paralelamente ao envolvimento civil nas torturas, destaca-se na
análise do perfil dos torturadores brasileiros a alta proporção de
oficiais entre os militares. Pouco menos de um terço dos torturadores
ligados à Marinha, Exército, Aeronáutica e Polícias Militares, entre os
que foram identificados por nome completo (ou nome de guerra) e patente,
era praça (ocupava posto de soldado, cabo, sargento ou suboficial). Os
demais eram 125 oficiais. Desses, 85 (68%) ocupavam postos de capitão a
tenente-coronel ou seus equivalentes na Marinha (capitão-tenente,
capitão de corveta e capitão de fragata) e na Aeronáutica. São citados
como torturadores 12 coronéis (ou seu equivalente naval, capitães de mar
e guerra) e até dois oficiais generais.
Reportagem de Wilson Tosta
fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,entre-os-torturadores-40-eram-civis,1146345,0.htm
foto:http://mariadapenhaneles.blogspot.com.br/2013/10/a-ditadura-mascarada-e-violencia-dos.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário!