O Vaticano foi publicamente confrontado ontem, pela primeira vez, a respeito de abusos sexuais de crianças por sacerdotes, em uma audiência da ONU em Genebra.
Autoridades da Santa Sé ouviram perguntas duras e diretas - por exemplo, por que não liberam todas as informações que têm a respeito, e o que estão fazendo para prevenir abusos futuros.
O acerbispo Silvano Tomasi, enviado do Vaticano à ONU, disse que tais crimes "jamais poderiam ser justificados", que todas as crianças devem ser "invioláveis" e que "prevenir abusos é uma preocupação real e imediata".
Em homília também nesta quinta, o papa Francisco declarou que escândalos de abusos são "a vergonha da Igreja".
"Há tantos escândalos que não quero nomeá-los individualmente, mas todos os conhecem", disse.
'Segredos'
O Vaticano havia recusado, anteriormente, um pedido do Comitê da ONU pelos Direitos das Crianças (CRC, na sigla em inglês) por arquivos relacionados às denúncias; a Santa Sé também foi acusada de responder de forma inadequada a alegações de abusos.
Em Genebra, a integrante do CRC, Sara Oviedo, afirmou que "a Santa Sé não estabeleceu nenhum mecanismo para investigar os acusados de abusos sexuais, nem para processá-los judicialmente".
Mas vítimas dizem esperar que a audiência, transmitida ao vivo nesta quinta-feira, forçará a Igreja Católica a abrir "segredos".
No mês passado, o papa Francisco anunciou a criação de uma comissão de combate ao abuso sexual de crianças por sacerdotes.
A Santa Sé é signatária da Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças, documento de valor legal. Mas, após submeter relatório inicial à convenção, em 1994, o Vaticano não prestou contas a respeito até 2012 - quando já estava fortemente abalado por denúncias de pedofilia em diversos países.
Integrantes do CRC questionaram o fato de a Igreja ter transferido padres suspeitos de abusos, bem como alegações de que alguns casos foram encobertos.
Outro questionamento diz respeito à visão de que os abusos seriam uma ofensa moral, e não um crime.
"Será que a Santa Sé acredita que a pedofilia é algo que possa ser superado?", questionou o CRC. "A melhor maneira de prevenir novas ofensas é revelando as antigas", prosseguiram os representantes da ONU.
'Cidadãos, não funcionários'
Tomasi disse que é importante notar que os padres "não são funcionários públicos do Vaticano, mas cidadãos de seus países e submetidos às leis de seus próprios países".
Agregou que nenhuma profissão está imune à presença de agressores sexuais, mas admitiu que esse comportamento é especialmente "sério" em sacerdotes, "já que essas pessoas ocupam cargos de grande confiança e são chamados a proteger todos os elementos da pessoa humana, incluindo sua saúde física, emocional e espiritual".
O bispo Charles Scicluna, ex-promotor-chefe do Vaticano para casos de abusos, insistiu que "não era política da Santa Sé estimular acobertamento (de casos)".
Mas, acrescentou, "a Santa Sé entende que há coisas que precisam mudar".
Ao mesmo tempo, observadores do encontro se queixaram da falta de respostas específicas por parte da Igreja.
"Quando vocês tornarão públicas suas estatísticas (sobre abusos)?", questionou, via Twitter, a ONG de proteção a crianças CRIN.
Barbara Blaine, presidente de um grupo que representa americanos abusados por padres, disse à BBC que a audiência desta quinta-feira trouxe "esperança a vítimas ao redor do mundo".
Mas, acrescentou, "também mostrou como representantes da Igreja se recusaram a responder perguntas; como alegam ser abertos e transparentes, mas não cumprem" o que pregam.
fonte:http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2014/01/16/painel-da-onu-confronta-vaticano-sobre-abuso-sexual-de-criancas.htm
foto:http://projetoquartzoazul.blogspot.com.br/2011/07/nasa-e-vaticano-de-olho-nos-ceus.html
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