As construções palestinas contam a história do mundo. Com cidades que datam de milhares de anos, como Jericó, – a mais velha do mundo, com 10 mil anos – e áreas como o Vale do Jordão, um dos pontos onde a agricultura surgiu, caminha-se sobre berço da civilização. Há muitos locais sagrados. Muçulmanos, católicos e judeus têm nas cidades palestinas pontos simbólicos de seus principais profetas, o que leva a um grande fluxo de turistas na região. Mesmo em datas nas quais não há festividades religiosas, as cidades estão cheias de turistas, que buscam conhecer a origem de seus profetas e renovar sua fé.
É na Terra Santa, porém, que há 65 anos, desde a ocupação dos territórios palestinos pelo Estado de Israel, ocorre uma das políticas de limpeza étnica e expulsão da população originária mais brutais de que se tem notícia.
A poucos metros da Jerusalém histórica, que recebe milhares de turistas de todo o mundo diariamente, mas estranhamente invisível aos olhos destes, se localiza o bairro palestino de Silwan. Das 5 mil casas existentes, 800 tem ordem de despejo de Israel, que deseja se livrar dos palestinos sob o pretexto de assentar israelenses e realizar a construção e um parque ecológico. No entanto, há uma fonte de água que passa pelo bairro e o abastece, da qual Israel quer obter o controle.
Até o fechamento dessa edição foram demolidas quinze casas, mas se todas forem demolidas, 40 mil pessoas serão afetadas. Além das famílias perderem suas casas, Israel as força a pagar os custos da demolição. Caso a família não tenha dinheiro para isso, ela é obrigada a demolir sua casa por conta própria.
Segundo relatório publicado esse ano pela Anistia Internacional sobre a questão palestina, em mais de 60% da Cisjordânia – classificada como área C e onde Israel exerce pleno controle – o exército demole regularmente as casas palestinas.
Nas vilas de Umm al-Kheir, al-‘Aqaba, Khirbet Tana, Humsa e Hadidiya, 604 estruturas, como casas, currais e cisternas de água foram destruídas, forçando o êxodo de 870 palestinos de seus lares e afetando mais 1,6 mil. Os colonos israelenses continuam a agredir os palestinos, pressionando para que eles saiam de suas terras, sem que sofram qualquer conseqüência por isso.
Plano Prawer
Israel demonstra sua disposição em continuar a ocupar o território palestino ao propor um plano de desenvolvimento econômico chamado Plano Prawer, que previa o confisco de 200 mil hectares do deserto de Negev e a destruição de 40 aldeias de beduínos (pastores nômades que tiram seu sustento da atividade agrícola e do trato com animais). Israel alega que as aldeias beduínas são ilegais e, à medida que os beduínos são expulsos, vai construindo novas colônias e bases militares na Cisjordânia. Se concretizado, o plano iria tirar 70 mil beduínos de suas terras.
O primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyahu, entretanto, retirou o projeto após diversos protestos palestinos. Especialistas alegavam que, se a onda de manifestações continuassem, o plano poderia ter gerado uma terceira intifada. Apesar de tudo isso, o governo da Autoridade Palestina não toma providências. Pelo contrário, ignora o problema completamente, até mesmo quando ele ocorre em Ramallah, a capital palestina.
Samarh Darwish, dirigente da União dos Comitês de Trabalhadores Agrários da Palestina (UAWC) afirma que “a Autoridade Palestina vive uma ilusão aqui em Ramallah, com essa aparente paz. Eu e meu marido temos uma casa em uma área de Ramallah que é considerada parte de Jerusalém por Israel, e por isso os palestinos não podem comprar casas com licença. Isso significa que elas podem ser demolidas a qualquer hora. Pagamos 100 mil dólares naquela casa, são as economias de uma vida. É justo que ela possa ser demolida assim”.
Essas questões dificultam a vida dos palestinos inclusive no nível pessoal. Muitos casais decidem se vão casar após olhar as carteiras de identidade e avaliar se isso não será um entrave à vida diária. “Meu marido tem carteira de identidade de Jerusalém e eu da Cisjordânia, então sou proibida de ir a Jerusalém. Quando nossa família quer ir a Belém, ao chegarmos no check point do muro, tenho que descer do carro para que minha família possa passar por Jerusalém, e eu pego uma van, que dá a volta por uma estrada muito perigosa, para poder chegar em Belém”, diz Samarh.
Reportagem de José Coutinho Júnior
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