07/12/2013

“Honduras é o país mais perigoso do mundo para o jornalismo”

Fundadora do curso de Jornalismo da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), em San Pedro Sula, a professora Patrícia Murillo denuncia a sequência de assassinatos de profissionais da comunicação – e a impunidade – como instrumentos utilizados pelo governo contra a informação. Militante do Partido Livre (Liberdade e Refundação), Patrícia expõe nesta entrevista como a mídia em seu país atua como correia de transmissão dos interesses da extrema direita, profundamente vinculados – e submissos – ao governo dos Estados Unidos.
A imprensa alternativa e a oposição têm denunciado a brutal perseguição dos jornalistas em Honduras? Qual é a atual situação?
É uma realidade dura e as estatísticas a refletem bem: 30 companheiros comunicadores foram assassinados no último período (desde o golpe de 2009), de todos os gêneros de jornalismo, até mesmo animadores de programas juvenis. A impunidade é absoluta em todos os casos. Isso dá uma ideia da brutal perseguição, da pressão e do cerco enorme a que vêm sendo submetidos os profissionais da imprensa, o que fez com que alguns tivessem até mesmo de sair do país e outros a se autocensurarem.  O mais grave é que estas ameaças vêm de alguns patrões, de donos dos meios de comunicação, que têm uniformizado o pensamento dos companheiros para que não digam o outro lado da notícia, para que ocultem a realidade. Em Honduras não há equilíbrio, não há igualdade informativa.
O que acaba representando uma mordaça...
Há mil maneiras de exercer o controle informativo. Quando se chega ao ponto de invadir a casa de alguns profissionais para roubar computadores e seus aparelhos de comunicação...
Não há qualquer limite.
Esta é a realidade de um país que não está em guerra, mas que é hoje o país mais perigoso do mundo para exercer o jornalismo. Em Honduras a liberdade de expressão está ferida, mas não está morta.
A questão da manipulação midiática também se dá em torno aos interesses das transnacionais da comunicação.
É algo criminoso na medida em que estão mantendo a oito milhões de hondurenhos mergulhados, alienados, encarcerados por este cerco midiático que buscam implementar em todo o mundo. É algo bestial, porque somos seres humanos, não somos animais nem robôs. Especialmente a juventude se lançou às ruas para protestar: aí estão os murais, os grafites, os blogs, as redes sociais. Quando a população se viu bloqueada pelos grandes meios, isso desmascarou a mídia. Isso não expôs somente os donos dos meios, mas os jornalistas, os intermediários, os responsáveis por manter o povo na alienação. Porque em Honduras esse tipo de mídia foi desmascarada antes do golpe e o povo tem sido muito criativo. Há muito teatro, há muita música, há muita arte popular, há muitas formas de expressão e jornalismo popular para se contrapor a esse cerco midiático, que não é novo. 
É uma resistência que vem de longe...
Na década dos 80, que Honduras era praticamente uma República alugada, eu trabalhava em Tegucigalpa onde estavam matando dirigentes hondurenhos. Tudo era controlado e manipulado pelos que atacavam a revolução nicaraguense, pelos que defendiam o exército salvadorenho, que atacava a seu povo e vinha descansar em Honduras. No entanto, os hondurenhos, em sua maioria, não haviam reagido. Apesar de todo esse perigo para exercer a comunicação, hoje o povo despertou e enfrenta os que acreditam que matando o mensageiro matam a verdade. Não é assim.
Qual a sua avaliação da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP)?


Estou muito preocupada com a atuação da Sociedade Interamericana de Imprensa, com sede em Miami. Quando a SIP sente que algum jornalista associado a ela é agredido ou visto com maus olhos, ela já corre para criminalizar o movimento sindical hondurenho. Mas não diz nada quando matam dezenas de jornalistas populares, pertencentes ou simpatizantes do Partido Livre, quando invadem estações de rádio ou destroem canais de televisão em nosso país.  Agindo desta forma, a SIP está revelando a sua verdadeira sina, que não á de velar pela liberdade de expressão dos povos, mas de manter o status quo dos donos da mídia a ela associados. Aqui e em toda a América Latina esses proprietários pertencem a trustes transnacionais acostumados a fazer negócios com os governos hondurenhos.

Reportagem de Leonardo Wexell Severo

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