Como consequência das mudanças climáticas, as catástrofes naturais serão cada vez mais frequentes e com maior poder de destruição. Essa é a análise da coordenadora de emergência das Nações Unidas e responsável pela ajuda humanitária nas Filipinas, Luiza Carvalho. Para a brasileira, a comunidade internacional tem a obrigação de se preparar melhor para esse tipo de desastre.
Nas Filipinas desde setembro de 2012, Luiza é a responsável por gerenciar as ações imediatas de assistência humanitária aos 3,5 milhões de deslocados do tufão Haiyan, que atingiu o país no último dia 8 de novembro. A fase mais inicial de alívio imediato aos desabrigados deve durar pelo menos seis meses.
De seu escritório na capital Manila, a brasileira conversou com o site Opera Mundi e fez um balanço das ações de emergência quase um mês após o tufão, chamado no país de Yolanda. Ela comentou sobre os desafios e ainda sobre possíveis áreas que até hoje não receberam qualquer tipo de assistência. O governo filipino estima que sejam necessários de três a cinco anos para a reconstrução das áreas impactadas e a retomada do cotidiano das cerca de 15 milhões de pessoas afetadas.
“A questão climática é muito séria e definitiva. De fato, temos que tomar uma decisão de um acordo mundial de respostas mais rápidas. A intensidade dos furacões é diretamente associada às mudanças climáticas”, comentou ao destacar que 80% da população filipina vivem em regiões costeiras.
País é assolado por furacões
Com 100 milhões de habitantes, as Filipinas localizam-se no Anel de Fogo do Pacífico, com 40 mil quilômetros de extensão, na conjunção de rachaduras de placas tectônicas que formam um cinturão de mais de 400 vulcões, sem contar que é alvo constante da confluência de massas de ar quente e frio que vêm da China. Este ciclone tropical atingiu a velocidade de até 300 km/h antes de alcançar a costa do país.
“O país é assolado por furacões e tufões 24 meses por ano. É uma tragédia, sem dúvida, a maior deste e dos últimos anos. Estamos contabilizando 5.500 mortes, mas provavelmente este número deve aumentar”, afirmou.
Mesmo acostumadas com eventos climáticos e com um sistema arquitetado de monitoramento e prevenção, as autoridades filipinas foram pegas de surpresa pelo tufão em razão do alto nível de elevação da água em algumas áreas, como em Tacloban, na ilha de Leyte. Enquanto em algumas áreas o aumento do nível das águas foi de três metros, em Tacloban, subiu 10 metros e com muita velocidade.
“O país adota um sistema de cluster, uma organização por setor de resposta, mas o que eles não estavam esperando de fato era a grande elevação da água. Algumas pessoas foram encontradas a 10 km de onde estavam originalmente”, comentou a representante da ONU.
“O que o pessoal está bastante chateado foi por não ter conseguido prever as águas. Foi o que detonou a maior tragédia com o maior número de mortes. O aumento de água foi bastante significativo e a devastação de Tacloban foi total”, admitiu ao destacar que os sistemas de controle não haviam indicado alerta de tsunami na região.
Logística
Neste momento, quase um mês depois do tufão, mais de 600 pessoas da ONU estão trabalhando nas áreas afetadas e, como forma de gerar postos de trabalho, 500 filipinos foram contratados para ajudar na limpeza dos escombros em escolas e hospitais.
Junto com o governo das Filipinas, as Nações Unidas têm liderado o processo de resposta e assistência com mais de 30 organizações não-governamentais que atuam no país. “Agora estamos na fase de apoio às comunidades desamparadas”, disse.
Os impactos causados pelo super tufão têm perfis diferentes, por isso, a ONU e o governo filipino definiram as prioridades separando o território do país em cinco partes. A ONU ainda analisa a possibilidade de abrir mais um ponto em Borongan, na ilha de Samar.
Apesar de a geografia do país ser bastante acidentada e, portanto, exigir uma complexa logística, Luiza Carvalho analisa que a resposta aos eventos têm melhorado muito. “Uma semana antes do furacão, já começamos a nos reunir com o governo e estabelecer as medidas imediatas. Sabíamos que alguma coisa estava se gerando e com indício bastante claro de que seria um furacão e que Tacloban seria a área de maior densidade demográfica a ser afetada. Começamos a fazer a locação dos recursos e itens de primeiras necessidades”, relatou.
A capacidade de resposta dos governos locais, especialmente em Tacloban, foi bastante reduzida, pois dos 2.500 funcionários da prefeitura, apenas 60 puderam trabalhar nos primeiros socorros. Muitos haviam sido vítimas diretas do furacão ou tiveram sua família afetada. “O próprio prefeito ficou sem casa e teve que despachar fora da cidade”.
Uma das grandes dificuldades foi a queda de energia e a incapacidade de aviões C-30 aterrissarem no aeroporto, pois dependiam apenas da luz do dia para realizar o desembarque de mantimentos. Apenas três dias após a tragédia, o governo norte-americano conseguiu restabelecer a eletricidade no aeroporto.
Localidades ainda sem assistência
Todas as comunidades à beira do mar receberam o alerta e autoridades filipinas emitiram decretos municipais de evacuação imediata de áreas que poderiam ser afetadas. Como as pessoas não estavam obedecendo, houve até prefeitos que emitiram ordem de prisão no estado de Capiz. “Quando perguntamos a um prefeito local por quê tinha feito isso, ele disse: ‘esse é meu último ano de governo, não quero que fique nenhuma morte na minha consciência’. São ações drásticas e questionáveis... mas a insegurança de um evento desse pode levar a impactos tão sérios”, comentou Luiza.
Ela ainda admite que podem haver locais que ainda não recebem nenhum tipo de ajuda humanitária, como as áreas mais remotas. “Temos uma preocupação sobre as áreas das montanhas de Antique, na ilha de Capiz, onde está a cidade de Roxas e as ilhas que são de agrupamento ao norte”.
Neste último domingo (01/12), um grupo da ONU auxiliado por um navio inglês deixou a cidade de Roxas para fazer uma ronda e tentar localizar vítimas e afetados. Já para as montanhas de Antique, a ONU solicitou helicópteros do Japão para complementar e fazer uma análise da região.
Segundo a brasileira, ainda não é possível ter uma dimensão da população que carece de qualquer assistência.
Reportagem de Fabíola Ortiz
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