12/12/2013

Cidades da China criam centros de abandono de bêbes

Em Shenzen, após deixar a criança no berço, a pessoa toca uma campainha que avisa que um novo bebê chegou ao local.



Em novembro deste ano, o Partido Comunista Chinês declarou, entre outras mudanças, que a política de filho único, estabelecida na década de 1970, será ajustada para promover o equilíbrio da população chinesa em longo prazo. O anúncio, considerado um avanço, não extingue as consequências dos mais de 40 anos da política, que perpetuou a prática do abandono de bebês e até o assassinato de filhos indesejados. 
O jornal South China Morning Post informou ontem (11/12) que a cidade de Shenzen, um pólo industrial com mais de 10 milhões de habitantes, deve abrir um centro de acolhimento para bebês abandonados em 2014. Os pais poderão se dirigir ao local e deixar o bebê, sem a necessidade de identificação ou justificativa. De acordo com autoridades locais, a iniciativa vai evitar que crianças sejam abandonadas nas ruas e em locais públicos, como banheiros, prática constante na região. Ainda segundo a publicação, pelo menos 90 bebês foram abandonados na cidade só em 2013. 
A criação do centro dividiu a opinião dos moradores da cidade, mas não é novidade no país. A cidade de Shijiazhuang, capital da província de Hebei, abriu seu centro de abandono de bebês em 2011, e já recebeu 170 crianças, segundo a rede britânica BBC. Xian, capital da província Shaanxi, no norte do país, também aderiu à iniciativa na semana passada. As autoridades confirmam que outras cidades estão estudando a possibilidade de montarem centros de acolhimento. 
O abrigo de Shenzen será localizado ao lado do Centro de Bem-Estar Social da cidade, que desde sua inauguração, em 1992, já recebeu mais de 3.500 crianças abandonadas. O centro não terá câmeras de monitoramento para garantir a privacidade aos pais. Após deixar a criança no berço, a pessoa deve tocar uma campainha, que avisa aos funcionários, com alguns minutos de atraso, que um novo bebê chegou ao local. 
O sistema lembra as “rodas de bebês”, usadas na Europa Medieval, onde as crianças indesejadas eram depositadas pela parte de fora e entravam nos estabelecimentos, em sua maioria igrejas e conventos, por meio de um sistema giratório. Alguns países da Europa, como a Alemanha, ainda dispõem de locais que recebem bebês rejeitados pelos pais. A ONU considera a prática uma violação dos direitos da criança. 
Crime
Na China, ter filhos fora do casamento é considerado um crime grave. Para fugir da condenação, mães solteiras costumam assassinar os filhos ou abandoná-los à própria sorte.
Uma pesquisa feita pelo departamento de saúde e família da região de Cantão (Guangzhou), onde a província de Shenzen está localizada, apontou migrantes, que mudam para a região para trabalhar em fábricas, como as responsáveis pelo maior número de abortos.
Em Boan, distrito de Shenzhen, desde 2009, pelo menos dez mães solteiras entre 16 e 23 anos - todas trabalhadoras migrantes -, foram condenadas por matarem seus filhos recém-nascidos.
Desequilíbrio
A política do filho único causou um desiquilíbrio de gênero no país. Por conta da preferência cultural por meninos, é comum que famílias abandonem ou matem bebês do gênero feminino.
Apenas em casos específicos, é permitido um segundo filho. Famílias rurais, por exemplo, tem o benefício se o primogênito for mulher. O mesmo ocorre se os dois pais forem filhos únicos. Neste caso, a concessão do benefício varia de acordo com a província.
Assim, em 2005, último ano em que o governo chinês forneceu informações demográficas sobre a questão, existia 119 homens para cada 100 mulheres. Estima-se que em algumas áreas essa proporção chegue a 130 homens para 100 mulheres. Um estudo recente da Chinese Academy of Social Sciences concluiu que, em 2020, 24 milhões de homens chineses não vão conseguir achar uma esposa por conta da desiquilíbrio de gêneros no país. 

Reportagem de Rosana Pinheiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita e pelo comentário!