O sistema financeiro nacional fechou 2.611 postos de trabalho entre janeiro e outubro de 2013, andando na contramão da economia brasileira, que no mesmo período gerou 1,46 milhão de novos empregos. Tirando a Caixa Econômica Federal, que contratou 4.676 novos trabalhadores, o fechamento foi de 7.545 vagas. Além dos cortes, o sistema financeiro manteve a prática de rotatividade de mão de obra alta, mecanismo perverso que os bancos usam para reduzir despesas de pessoal.
Os dados constam na Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) divulgada na última quarta-feira (4) pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), que faz o estudo em parceria com o Dieese, com base nos números do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
"Apesar dos lucros bilionários e da mais alta rentabilidade do sistema financeiro internacional, os bancos brasileiros, principalmente os privados e o Banco do Brasil, seguem cortando postos de trabalho. E os bancos privados ainda empregam a rotatividade para reduzir a massa salarial", aponta Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT. "Por isso o principal desafio dos bancários é lutar contra as demissões, por mais contratações e pelo fim da rotatividade, como forma de proteger e ampliar o emprego."
Segundo o Caged, os bancos brasileiros contrataram 33.683 bancários entre janeiro e outubro e desligaram 36.294.
Rotatividade diminui salários
A pesquisa mostra que o salário médio dos admitidos pelos bancos entre janeiro e outubro foi de R$ 2.943,95, contra salário médio de R$ 4.655,70 dos desligados. Ou seja, os trabalhadores que entram no sistema financeiro recebem remuneração 36,8% inferior à dos que saem. Com isso, os bancos buscam reduzir suas despesas.
"Isso explica por que, embora com muita mobilização os bancários tenham conquistado 18,3% de aumento real no salário e 38,7% de ganho real no piso salarial desde 2004, a média salarial da categoria diminuiu. Esse é o mais cruel mecanismo de concentração de renda, num país que tem feito um grande esforço para se tornar menos injusto, mas permanece sendo muito desigual", ressalta Carlos Cordeiro.
Maior concentração de renda nos bancos
No Brasil, os 10% mais ricos no país, segundo estudo do Dieese com base no Censo de 2010, têm renda média mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Ou seja, um brasileiro que está na faixa mais pobre da população teria que reunir tudo o que ganha durante 3,3 anos para chegar à renda média mensal de um integrante do grupo mais rico.
No sistema financeiro, a concentração de renda é ainda maior. No Itaú, por exemplo, os executivos da diretoria receberam em 2012, em média, R$ 9,05 milhões por ano, o que representa 191,8 vezes o que ganha o bancário do piso. No Santander, os diretores embolsaram R$ 5,62 milhões no ano passado, o que significa 119,2 vezes o salário do caixa. E no Bradesco, que pagou R$ 5 milhões no ano aos seus diretores, a diferença é de 106 vezes.
Ou seja, para ganhar a remuneração mensal de um executivo, o caixa do Itaú tem que trabalhar 16 anos, o caixa do Santander 10 anos e o do Bradesco 9 anos.
Luta por crescimento com desenvolvimento
"Não é possível que os bancos continuem com essa política nociva de reduzir custos e cobrar juros e tarifas escorchantes para lucrar ainda mais, sem olhar para o impacto nos trabalhadores, nos clientes e na economia do país", defende Carlos Cordeiro.
"Precisamos transformar o crescimento em desenvolvimento econômico e social, o que passa por melhoria de salário e mais emprego, como forma de valorizar o trabalho, distribuir renda e melhorar a qualidade de vida da população", conclui o presidente da Contraf-CUT.
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