A empresa americana EnviroFlight transforma larvas de mosca em ração para animais que são criados para o consumo humano.
Insetos são alimentos ricos em proteínas e minerais, de baixo custo, abundantes e — há quem garanta — até mesmo deliciosos. Em agosto deste ano, a Organização das Nações Unidas(ONU) lançou um programa incentivando o consumo e a criação desses animais. Segundo o órgão, esse seria um caminho eficaz de combate à fome. Mas só a ideia de mordiscar um grilo causa repulsa em muita gente, principalmente nos países do Ocidente. Para o engenheiro americano Glen Courtright, no entanto, é possível usar os insetos como arma contra a fome mundial, sem que seja necessário modificar o cardápio alimentar. Courtright é o idealizador de um projeto que produz ração para peixes, camarões e porcos usando larvas de mosca como ingrediente primário — e, de quebra, ainda ajuda a reduzir o volume de sobras industriais.
Para reinventar a utilidade dos insetos, o americano criou a EnviroFlight, uma empresa localizada em Ohio, nos Estados Unidos, que produz e vende o que eles chamam de “insect meal” (“refeição de insetos”, em tradução livre). O produto é feito com larvas desidratadas de uma mosca chamada black soldier flight (algo como “mosca soldado negra”, de nome científicoHermetia illucens). Em linhas gerais, a cadeia de produção é bastante simples: as larvas comem resíduos industriais e, quando “prontas”, viram ração de animais que são criados para o consumo humano — como peixes e porcos.
Reaproveitamento — As moscas black soldiers foram escolhidas para a empreitada porque suas larvas são numerosas, grandes e ricas em gordura e proteína. “Elas também são ótimas para recuperar o que normalmente desperdiçamos ou que valem muito pouco economicamente”, diz Courtright, em entrevista ao site de VEJA. Entre o que é usado para alimentar as larvas estão pequenos pedaços de frango que sobram de indústrias que fazem nuggets, sobras de fábricas de pães e biscoitos, e da produção de etanol — que, no caso dos Estados Unidos, é feito com milho. São utilizadas também sobras do processamento do peixe, como cabeça, rabo, pele e vísceras, e gordura e carboidratos que sobram da produção de cerveja.
Depois de passarem um tempo engordando, as larvas são jogadas em água ou vapor muito quente – para uma morte rápida – e vão para um forno industrial. Quando saem do forno, onde são desidratadas, elas são misturadas com ingredientes como soja, milho, vitaminas e mineiras, e se transformam em ração para animais, principalmente porcos e peixes. Essa “refeição de insetos” substitui alguns alimentos como vísceras de vacas, que costumam ser usados nas rações. “É mais limpo e tem mais proteínas”, diz Courtright.
Projeto — A proposta da EnviroFlight surgiu de uma preocupação tanto com a quantidade de lixo produzida no mundo quanto com o abastecimento de alimentos. “Dentro de 20 anos, a situação pode estar insustentável. Não que isso fosse acontecer no Brasil ou nos Estados Unidos, porque são dois países com agricultura forte. O problema vai ser maior na África e na Ásia”, afirma Courtright.
Atualmente, a empresa produz cerca de uma tonelada de “refeição de insetos” a cada dois dias. A meta é chegar a 1.000 toneladas por ano, mantendo um preço competitivo com os outros tipos de produtos utilizados para a alimentação de animais, como a farinha de peixe — feita com vísceras, cabeças, espinhas e restos do processamento do peixe.
A Enviroflight está se preparando para produzir em larga escala. Dentre os planos para um futuro, está um projeto de implantação na Europa e outros nos Estados Unidos. Porém, antes disso, é necessária a provação do FDA, órgão americano responsável pelo controle de alimentos e produtos medicinais. Até o momento, o produto só é comercializado com aprovações estaduais, e sob a classificação de “Genericamente reconhecido como seguro”. “O ponto principal é que não estamos usando restos estragados, mas restos de produção de alimentos”, diz Courtright.
Reportagem de Juliana Santos
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