"O Dia das Crianças é uma data exclusivamente comercial, que busca levar as pessoas a consumir sem motivo. O que nós buscamos, então, é um contraponto, para que olhemos para a criança sem dar ênfase ao consumismo. Vamos aproveitar o dia para oferecer outro tipo de presente, vamos passear, dar atenção, fazer uma coisa diferente. Existem outros valores que não os bens materiais", alerta Ana Claudia.
Regulamentação da publicidade infantil, luta que já amadureceu e não saiu do papel
Uma das principais lutas do MILC e do Alana é a aprovação do Projeto de Lei 5.921/2001, que regulamenta a publicidade voltada ao público infantil. Em todos os países democráticos, a publicidade dirigida à criança tem uma regulamentação. Roseli acredita que o empecilho para aprovação da lei são as grandes corporações de mídia, que "impedem que os avanços democráticos se deem no Congresso". O PL chegou há mais de 20 dias à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, mas esta ainda não escolheu seu relator, processo que costuma demorar menos de cinco dias.
Conforme explicou o presidente da comissão, Décio Nery de Lima (PT-SC), como se trata de um PL de grande importância, muitos deputados demonstraram interesse em ser os relatores, mas que, conforme a sensibilidade do tema, é preciso escolher com calma o relator. Caso não haja consenso, ele mesmo viria a ser. A comissão, no entanto, ainda não tem prazo para apresentar o tão esperado nome.
Para o autor do projeto, Luiz Carlos Jorge Hauly (PSDB/PR), que retornou ao Congresso há poucos dias, o PL é um dos mais importantes para a formação da cidadania brasileira. Ele reforça os malefícios das propagandas aos menores de 12 anos. "A televisão é o maior instrumento de comunicação da história da humanidade, influenciando nas vidas, nas famílias, tanto que é uma das principais ferramentas das campanhas políticas. Enquanto a lei não é aprovada, uma criança é influenciada pelo consumismo e pela propaganda mais bem elaborada do mundo".
O Conselho Federal de Psicologia desenvolveu, inclusive, uma cartilha para o fim da publicidade dirigida às crianças. "Fazer isso com as crianças é pura covardia, já que elas não têm capacidade crítica. A sociedade capitalista investe em valores econômicos, mas não em valores éticos. Eu acho que [o atraso da aprovação do PL na Câmara] é uma piada com a opinião pública. Se os pais não conseguem investir em em fundamentos e valores durante a infância, depois fica muito mais complicado. A família não tem culpa de criar um consumista. Não tem como impedir que os comerciais cheguem até a criança. Isso é uma covardia para o processo civilizatória", declarou Roseli.
Gabriela Vuolo, coordenadora de Mobilização do Instituto Alana, reforça ainda a presença cada vez mais constante em diferentes meios, como nas histórias em quadrinhos e até no teatrinho apresentado na escola. Uma das ações do instituto para combater o consumismo, que acabou chegando a outros países neste ano, como a Austrália, é a feira de troca de brinquedos. O objetivo seria justamente apontar para o perigo da acumulação e a possibilidade de adquirir brinquedos por outras formas que não sejam a compra. Durante a feira, são as próprias crianças que negociam o que querem oferecer e o que desejam para si, e ainda exercitam o desapego e trocam experiências.
Reportagem de Pamela Mascarenhas
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