A Câmara do Uruguai aprovou
na noite de ontem (31) a legalização e a regulamentação da venda da
maconha. Agora, o projeto segue para o Senado.
Se aprovado, o país será o primeiro do mundo a
adotar tal medida.
O projeto, apoiado pelo presidente esquerdista José
Mujica, prevê a criação de um órgão do governo para realizar o controle do
Estado sobre a importação, o plantio, o cultivo, a colheita, a produção, a
aquisição, o armazenamento, a comercialização e a distribuição da maconha e
seus derivados.
A legislação prevê a criação de um Instituto
Nacional de Canabis para controlar a produção e distribuição da droga, impor
sanções aos infratores e formular políticas educacionais para alertar sobre os
riscos do uso de maconha.
Após o devido registro, os usuários poderão comprar
até 40 gramas mensais de maconha nas farmácias, mas também será permitido o
cultivo para consumo próprio ou em clubes de fumantes.
O polêmico projeto é rejeitado por 63% da
população, segundo recente pesquisa do instituto Cifra.
Em outros países, como Holanda, Espanha e alguns
estados dos Estados Unidos, é permitida apenas a produção, o cultivo em clubes
ou o consumo com restrições de maconha, de acordo com os casos.
O texto foi aprovado após mais de 13 horas de
caloroso debate, com 50 votos a favor e 46 contra, graças ao partido governista
Frente Ampla (FA), que conseguiu impor uma maioria suficiente na Casa,
impedindo a oposição de bloquear a proposta.
Como o governo tem uma maioria confortável no
Senado, a expectativa agora é de uma aprovação fácil.
O projeto uruguaio foi lançado em junho de 2012
,como parte de uma série de medidas para combater o aumento da violência.
Mujica, ex-guerrilheiro de esquerda, diz que a lei
vai controlar o comércio de maconha sob diretrizes rigorosas, ajudar a combater
as quadrilhas de tráfico de drogas e enfrentar pequenos crimes.
Para evitar tornar o país um destino de turismo de
drogas, apenas os uruguaios seriam autorizados a usar maconha.
"A venda de maconha por parte do Estado para
os consumidores registrados é algo inédito em nível mundial", disse à
agência France Presse Ivana Obradovic, que liderou o estudo de políticas
públicas e sua avaliação no Observatório Francês sobre Drogas e Toxicomanias
(OFDT).
Até agora, há modelos de legislação nos quais se
permite o cultivo pessoal com fins recreativos, como no caso dos estados do
Colorado e de Washington, nos Estados Unidos, da Espanha -com clubes sociais de
maconha- e da Holanda, conhecida desde 1976 por seus históricos "coffee
shops", lojas que vendem drogas.
Polêmica
O projeto uruguaio causou polêmica em meio à comunidade internacional,
que nos últimos anos realizou um intenso debate sobre o assunto.
O governo uruguaio segue o plano da Comissão Global
de Política de Drogas -integrada pelos ex-presidentes do Brasil Fernando
Henrique Cardoso, da Colômbia César Gaviria e do México Ernesto Zedillo, entre
outros- que defende que a guerra aberta contra as drogas fracassou.
FHC elogiou recentemente o projeto uruguaio, já
que, segundo o ex-presidente, "não parece concentrar esforços em lucrar, e
sim na promoção da saúde e da segurança pública".
Um pouco mais cautelosa, mas igualmente aberta ao
debate sobre a legalização da droga é a posição da Organização de Estados
Americanos (OEA), que em um recente relatório estabeleceu diferentes cenários
para o futuro: um centrado na melhoria da saúde pública, outro na segurança e
um terceiro em uma experiência com a regulação.
No dia 22 de julho o secretário geral da OEA, José
Miguel Insulza, visitou o Uruguai para apresentar o projeto e disse a
jornalistas que acredita que o país sul-americano está "em condições de
testar políticas novas em matéria de drogas".
Por outro lado, o Órgão Internacional de Controle
de Entorpecentes (OICS), organismo da ONU, manifestou sua
"preocupação" com o projeto uruguaio, por considerar que viola os
tratados internacionais sobre controle de drogas, ratificados pelo país
sul-americano.
Outros críticos dizem que a medida corre o risco de
contribuir para atrair os uruguaios para drogas mais pesadas e pode irritar
outros países latino-americanos que lutam contra a violência relacionada às
drogas, como Colômbia e México.
O Uruguai é um dos países mais seguros da América
Latina e é considerado um pioneiro na legislação liberal.
"Estamos brincando com fogo", disse o
deputado Gerardo Amarilla, membro do Partido Nacional, conservador, opositor ao
projeto de lei.
"Você pode controlar a produção e venda, o que
vai ocasionar seus próprios problemas, que terão de ser abordados", disse
o deputado Julio Bango, um aliado de Mujica em favor da legislação. "Ou
você pode ter o que você tem agora, que é o caos."
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