As empresas de saneamento básico no Brasil desperdiçam cerca de
40% da água que distribuem, um nível quase quatro vezes superior ao de países
como Alemanha e Japão. É o que aponta o levantamento Manual sobre Contratos de
Performance e Eficiência para Empresas de Saneamento em Brasil, realizado
pela GO Associados a pedido da International Finance Corporation (IFC),
instituição de desenvolvimento do Banco Mundial voltada ao setor privado, em
parceria com o governo da Espanha. O documento foi divulgado nesta quinta-feira
27, em São Paulo.
Esse
nível de desperdício tem se mantido praticamente estável nos últimos dez anos,
com algumas operadoras de saneamento atingido índices superiores a 80%. O
estudo estima que o Brasil precisa reduzir o desperdício em ao menos dez pontos
percentuais para chegar aos níveis de perdas semelhantes aos países
desenvolvidos.
Segundo o documento, a redução do desperdício de água entre 2009 e
2025 poderia gerar ganhos de até 37,27 bilhões de reais ao final de 17 anos. A
estimativa considera uma redução de 50% das perdas, caindo dos atuais 37,4% de
desperdício de média nacional para 23,2% - a média da Sabesp para contratos com
financiamento internacional. “O investimento anual no saneamento no Brasil fica
em 10 bilhões de reais [pelas empresas]. O controle das perdas é o
equivalente a três anos de investimentos. É um impacto grande”, diz Gesner
Oliveira, ex-presidente da Sabesp e sócio da Go Associados.
Se as empresas do setor eliminassem as perdas também na energia, aponta o levantamento, poderia haver
ganhos também. No cenário mais
otimista da pesquisa, com uma redução de 25% do desperdício, os lucros poderiam
chegar a 6,25 bilhões de reais. No mais conservador, com 15%, ficariam em 3,67
bilhões.
Os
estados com maior desperdício são Amapá e Acre, com mais de 70% de perdas.
Entre os mais eficientes estão o Distrito Federal, Espírito Santo e o Paraná,
com menos de 30%. São Paulo e Rio de Janeiro possuem níveis entre 30% e 40%. “A
eficiência na distribuição de água não ganhou a atenção da classe política, mas
esse é um ponto importante para a sustentabilidade. Ao reduzir o nível de
perdas, haverá mais água disponível”, afirma Oliveira.
Segundo o
estudo, a Cosama (Amazonas) teve o maior desperdício (80,7%) entre as
operadoras estaduais. A SAERB (Rio Branco), com 76,5%, foi a menos eficiente no
âmbito municipal. Já a Sanepar (Paraná) foi a mais eficiente nos estados
(21,2%) e a Sanasa (Campinas) nos municípios (18,0%). Foram analisadas as 52
maiores empresas brasileiras em termos de população atendida, estaduais e
municipais. “Com menos perdas, não é preciso fazer muitos investimentos na
ampliação da captação. O investimento para reduzir as perdas pode ser menor que
um grande aporte de expansão”, diz Fernando Marcato, um dos responsáveis pelo
estudo.
Contratos por desempenho
O estudo defende que as empresas de saneamento tentem reduzir a
perda física de água (vazamentos nas ruas, por exemplo), contratando empresas
privadas especializadas para identificar a melhor forma de reduzir o
desperdício e também executar as soluções, além de repassar a tecnologia
utilizada à empresa de saneamento.
Esses
contratos seriam por desempenho e não remuneração fixa. A ideia é estimular o
agente privado a entregar o serviço e as metas do contrato. O modelo, diz o
texto, ajudaria a driblar um dos maiores problemas associados aos baixos
índices de investimento no setor de saneamento: a baixa capacidade dos
operadores de se financiar. “Essa limitação está relacionada às condições
econômico-financeiras ainda precárias dos operadores, que, por sua vez, se
justificam em função da baixa eficiência operacional e de gestão. Ou seja, os
altos custos dessas empresas e a baixa capacidade de geração de receitas
diminuem a capacidade das operadoras de obter recursos financeiros”, aponta o
estudo.
Segundo o
documento, das 26 empresas estaduais de saneamento, apenas sete possuem
condições adequadas para captação de financiamentos. Com os contratos de
desempenho, a concessionária reduziria o aporte de recursos para reduzir as
perdas, pois a contratada realizaria os investimentos. A empresa seria paga com
a receita extra gerada pela economia com as perdas.
O modelo
seria, porém, mas difícil de financiar, acredita Rogerio Pilotto,
executivo-sênior de investimentos para infraestrura da IFC. “É difícil porque
tem um componente técnico, um risco em relação ao serviço ser prestado pela
empresa de engenharia. Um banco normal tem dificuldade de avaliar esse risco
porque está acostumado a estudar balanços e não o componente de engenharia.”
Em setembro de 2012, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que oito em cada dez casas brasileiras
têm água encanada (84,6%), o equivalente a 51,8 milhões do total de domicílios.
Reportagem de Gabriel Bonis
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