21/06/2013

Protestos pelo Brasil: mais de 1 milhão nas ruas do País

Brasília



Após um início pacífico, a maior manifestação em Brasília desde a eclosão da onda de protestos pelo país teve momentos de grande tensão nesta quinta-feira, quando um grupo esteve prestes a invadir o Ministério de Relações Exteriores (Itamaraty) e chegou a provocar um foco de incêndio na entrada do prédio. A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-lo.

Também houve confrontos em frente ao Congresso, quando manifestantes tentaram furar o bloqueio policial. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, 127 pessoas receberam atendimento médico em meio aos tumultos, além de dez policiais.
Por volta das 18h30, cada centímetro do gramado em frente ao Congresso já parecia ter sido ocupado, e muitos manifestantes ainda estavam a caminho. Quem chegava ao local pelas vias laterais do Eixo Monumental tomava um susto ao se deparar com as 35 mil pessoas que, segundo a Polícia Militar, se aglomeravam no desnível diante do edifício. Alguns choravam, emocionados.
Desta vez, para impedir que, como na segunda-feira, os manifestantes ocupassem a laje e a garagem do Congresso, a polícia se reforçou. Unidades da cavalaria guardavam as laterais, enquanto a tropa de choque se posicionou nas rampas.
O esquema também vedava o acesso à Praça dos Três Poderes e ao Palácio do Planalto, aos fundos.
Panela de pressão
Diferentemente dos últimos protestos na cidade, em que estudantes compunham imensa maioria, nesta quinta o grupo era mais diverso.
Havia engravatados recém-saídos do trabalho, indígenas, movimentos sociais (entre os quais sem-terra, sem-teto e ativistas da causa LGBTT), associações de professores e torcidas de times locais. Comunistas balançavam bandeiras vermelhas, e pequenos grupos puxavam gritos nacionalistas ou que tinham, entre os principais alvos, a Copa do Mundo, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT) e o Congresso.
Uma das únicas palavras de ordem que tiveram adesão geral pedia a saída do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Uma bateria ditava o ritmo dos coros.
Com o tempo, a multidão crescia ainda mais. E, contida naquele espaço, como uma panela de pressão, parecia prestes a explodir.
Até que grupos tentaram furar em dois pontos a barreira policial diante do Congresso.
Bombas atiradas por manifestantes explodiam a todo instante nos pés dos agentes, que continham tentativas de furar o bloqueio com cassetete e jatos de spray de pimenta. A maioria dos manifestantes vaiava os autores dos disparos de mosteiros.
Defesa da violência
Mas diferentemente das últimas manifestações na cidade, um grupo expressivo defendia publicamente as ações violentas - aos pedidos de "sem violência", retrucavam gritando "sim, violência" ou "sem moralismo".
Quando o conflito na barreira policial se acirrou, a força valeu-se pela primeira vez de bombas de gás lacrimogêneo, lançando-as num extenso raio que chegava até o fundo do gramado.
Conforme a nuvem se espalhava, os manifestantes fugiam, subindo os barrancos laterais na direção do Palácio do Itamaraty. De longe, a movimentação da massa humana parecia transcorrer em câmera lenta.
A polícia, concentrada no Congresso, logo se viu acuada pelo grupo diante do ministério.
Confrontos
Dezenas de manifestantes mergulharam no espelho d'água diante do órgão, que abriga um jardim aquático projetado por Burle Marx. Enquanto alguns escalaram a escultura Meteoro, de Bruno Giorgi, símbolo do ministério, outros atiraram pedras nas vidraças do edifício.
Confiante, parte do grupo tentou avançar pela entrada principal do prédio, usada somente por autoridades estrangeiras em visitas oficiais. Algumas dezenas de policiais resistiam, mas eram progressivamente empurradas para trás.
Poucos conseguiam furar a barreira e adentrar o ministério, mas logo eram capturados e expulsos. Uma bomba atirada por manifestantes dentro do ministério provocou grande estrondo ao explodir.
Quando a invasão parecia iminente, cerca de dez policiais da tropa de choque que haviam entrado no palácio pelos fundos surgiram na entrada e lançaram bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral na multidão.
Na correria, alguns manifestantes caíram no espelho d'água. A polícia retomou o controle do local. Alguns grupos então acenderam fogueiras nos arredores, engrossando ainda mais a névoa de fumaça.
Depois da ação policial, houve nova dispersão. Enquanto milhares de manifestantes voltaram para o Congresso, outros caminharam alguns quilômetros até o Eixão, principal via expressa da cidade, e o fecharam.
No trajeto, segundo o jornal Correio Braziliense, alguns atiraram pedras em outros ministérios. O jornal diz que um grupo também tentou apedrejar os vitrais da catedral de Brasília.
A polícia, então, passou a perseguir pequenos focos de manifestantes pela Esplanada dos Ministérios, atirando bombas de gás lacrimogêneo inclusive em grupos que não os confrontavam.
A situação só se normalizou perto da meia-noite, quando o gramado do Congresso ficou quase deserto.




São Paulo



A manifestação organizada para comemorar a a revogação do aumento da tarifa dos transportes públicos em São Paulo colocou em evidência a divisão entre militantes ligados a partidos políticos e manifestantes contrários à presença deles nos protestos.

Segundo o instituto de pesquisas Datafolha, cerca de 100 mil pessoas participaram da marcha nesta quinta-feira. Ela se concentrou principalmente na Avenida Paulista e se dispersou sem a intervenção da Polícia Militar.
Lideranças de esquerda, inclusive do PT da presidente Dilma Rousseff, determinaram que seus militantes marcassem presença nos protestos de quinta-feira.
Até então, a participação dessas agremiações vinha sendo mais tímida. A maior parte dos militantes que integraram marchas anteriores eram de partidos como PSTU e PSOL.
Nesta quinta-feira, enquanto o maior grupo de manifestantes se concentrava na Praça do Ciclista - local escolhido pelo Movimento Passe Livre - militantes de partidos de esquerda se reuniam em ruas próximas.
Os dois grupos chegaram a marchar em sentido e pistas contrárias da Avenida Paulista - ressaltando a falta de integração. Os manifestantes supostamente espontâneos gritavam "Sem partidos!" e ofendiam os militantes, que portavam bandeiras e distribuíam panfletos.
Agressões
Quando os ativistas políticos se integraram à marcha principal, foram recebidos a socos e pontapés pelos por manifestantes mascarados. Diversos focos de conflito surgiram e desapareceram em meio à marcha.
Pelo menos um homem foi ferido na cabeça e teve que ser socorrido pela Polícia Militar.
Manifestantes mais exaltados tomaram bandeiras dos militantes. Elas foram queimadas e jogadas em chamas sobre os ativistas políticos.
Após cerca de duas horas de hostilidades não era mais possível identificar bandeiras de partidos.
Manifestantes chegaram a deixar a Avenida Paulista e seguir para a Assembleia Legislativa e a Câmara Municipal, mas os episódios de saques e depredação do protesto da terça-feira não se repetiram.





Rio de Janeiro



Em uma noite em que estima-se que 300 mil pessoas saíram às ruas do Rio de Janeiro para se manifestar, conflitos se espalharam por diversos pontos do centro da cidade. A jornada de protestos foi marcada por cenas de depredação e pelo uso de bombas de efeitos moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha pela polícia contra os manifestantes.

De acordo com informações divulgadas pela rádio CBN, pelo menos 40 pessoas ficaram feridas nos conflitos e foram levadas ao Hospital Souza Aguiar, entre eles quatro guardas municipais, um policial militar e manifestantes.
A manifestação teve início por volta de 17h, com a concentração de milhares de pessoas nos arredores da igreja da Candelária. O clima inicialmente era festivo, com manifestantes portando cartazes, faixas e instrumentos musicais e muitos usando as cores da bandeira brasileira.
Por volta de 18h, os integrantes da passeata começaram a se deslocar pela avenida Presidente Vargas, importante via com quatro pistas que liga o centro à zona norte do Rio e que ficou completamente tomada pelos participantes do protesto.
A tensão começou quando um grupo chegou à Prefeitura do Rio de Janeiro, no bairro da Cidade Nova. Em um episódio cujo início ainda não é totalmente claro, a cavalaria da polícia militar agiu contra os manifestantes, que teriam respondido com pedras. Bombas de efeito moral, balas de borracha e gás lacrimogêneo foram usadas contra os participantes da marcha.
'Não vai ter Copa'
A alguns metros dali, no restante da avenida Presidente Vargas, o clima permanecia calmo, mas, lentamente, os manifestantes começaram a caminhar em direção oposta, no sentido da igreja da Candelária. A grande maioria gritava slogans contra o governador Sergio Cabral e contra o prefeito Eduardo Paes. A presidente Dilma Rousseff também era criticada em gritos e cartazes.
Outros participantes do protesto ainda se posicionavam contra a realização da Copa do Mundo do país: "Não vai ter Copa", gritavam.
Por volta de 19h30, a reportagem da BBC Brasil presenciou integrantes do protesto retirando banners de propaganda fixados na grade do sambódromo. Eles foram vaiados por outros participantes do protesto e chamados de vândalos. Um dos que retiravam os cartazes gritava que "vândalos eram os policiais".
Minutos depois, um carro da rede de televisão SBT que estava estacionado próximo à prefeitura foi incendiado, criando um clarão visível a alguns quilômetros de distância.
A polícia utilizou bombas de gás e de efeito moral contra manifestantes em outro pontos da Presidente Vargas e na Avenida Rio Branco. Há relatos de que lojas teriam sido saqueadas.
Pouco antes das 22h, a polícia utilizou bombas de efeito moral contra manifestantes na Cinelândia. Grupos ainda se deslocaram para a Assembleia Legislativa do Rio, nas proximidades, e para o Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, no bairro de Laranjeiras.
Estações de metrô ficaram fechadas e os poucos ônibus que circulavam estavam lotados. Muitos ficaram presos na região à espera de meios para voltar para casa.
Pautas
Um dia depois de o prefeito Eduardo Paes e o governador Sergio Cabral terem anunciado a revogação do aumento das tarifas do transporte público - o estopim dos protestos -, a pluralidade de pautas de reivindicações era ainda mais visível no protesto desta quinta-feira.
Além de críticas ao modo como a Copa do Mundo está sendo organizada e ao uso de verbas públicas em grandes eventos, muitos cartazes usados pelos manifestantes traziam críticas à PEC 37, que limita o poder de investigação do Ministério Público, e ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Marco Feliciano.
Havia ainda faixas contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, contra a corrupção e pedindo a prisão dos condenados pelo escândalo do mensalão, além de cartazes contra o uso de subsídios públicos para baixar as tarifas de ônibus.
Bandeiras de partidos políticos eram menos visíveis que em outras manifestações, quando integrantes de agremiações de esquerda chegaram a ser hostilizados, mas um grupo levantava bandeiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
Comparecendo pela primeira vez a um dos protestos da série que tem tomado o Rio durante as últimas semanas, a atendente de telemarketing Larytzia Soares, de 21 anos, portava um cartaz contra o programa Bolsa Família, do governo federal.
"Quero que a Dilma saia. Não dão oportunidade de trabalho, só bolsa. Quem é honesto não tem benefício", dizia.
Já o camelô Juarez Neves, que vendia bebidas em um isopor no meio do protestos, afirmou que as vendas estavam "boazinhas". A toda hora, precisava explicar que a cerveja já havia acabado. "Trouxe pouca, com medo de apreenderem".
Sobre a manifestação, ele diz ver o movimento com simpatia. "Quem precisava fazer um desses eramos nós, ambulantes, mas a coisa está tão ruim que quando a gente vem é para trabalhar", disse.





Fortaleza


O dia de protesto em Fortaleza (CE) nesta quinta-feira (20) terminou com confronto em frente à sede do governo e ao menos 61 detidos.
Por volta das 20h, após passeata pacífica, um grupo de manifestantes tentou invadir o Palácio da Abolição, sede do governo, onde o governador Cid Gomes (PSB) esteve durante toda a confusão.
O local virou uma praça de guerra, com a polícia atacando com balas de borracha e os manifestantes com pedras e bombas caseiras.
O saldo final foi de 61 detidos --55 adultos e seis adolescentes.
Havia ao menos 3.000 manifestantes em frente ao palácio, mas nem todos participaram dos atos de vandalismo. Os que defendiam um ato pacífico avisaram à polícia que sairiam e foram embora.
Os participantes do protesto tentaram definir uma pauta de reivindicações ao governador Cid Gomes (PSB), mas o movimento estava dividido e não houve consenso.
Parte dos agressores usava máscaras. Por volta das 20h, esse grupo rompeu as cercas de metal armadas para impedir a invasão do palácio e quebraram os vidros da guarita de entrada.
A PM recuou e evitou o confronto.
Os que tentavam invadir chegaram a entrar no perímetro do Palácio da Abolição, mas a PM formou uma barreira e impediu a invasão total.
Os manifestantes recuaram e ficaram, de longe, atirando pedras no palácio. Também jogaram as cercas de metal nos espelhos d'água do imóvel --local que mais cedo servira de banheira para alguns manifestantes.
A PM avançou com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, dispersando o grupo. Também dispersou os manifestantes a golpes de cassetete.
Formou-se um cordão de isolamento na avenida Barão de Studart, na frente do palácio, e ruas laterais foram fechadas.
Em reação, os vândalos atiraram pedras contra prédios, lojas e uma agência da Caixa Econômica Federal nas proximidades. Eles acabaram encurralados e os policiais começaram a prendê-los e revistá-los. Todos foram levados a uma delegacia próxima.
Segundo a Polícia Civil, todos os presos mantiveram confronto com a polícia. Entre as mochilas de alguns, ainda segundo a corporação, havia bombas, canivetes e estilingues com bolas de gude, usadas para quebrar os vidros do palácio.
Policiais infiltrados no movimento e funcionários do governo estadual filmaram e tiraram fotos dos manifestantes, material que será usado para definir responsabilidades. Todos poderão responder por dano qualificado ao patrimônio, incitação à violência, formação de quadrilha e lesão corporal.
Houve dois PMs feridos por pedradas. Não havia balanço de manifestantes feridos na noite desta quinta (20).
Familiares e amigos dos detidos diziam na delegacia que vários deles tinham sido presos já longe da manifestação e não haviam participado de atos de vandalismo.
O protesto na capital cearense começou pacífico, por volta das 16h, na praça Portugal, área nobre de Fortaleza.
Manifestantes marcharam pedindo redução da tarifa de ônibus e a entrega das carteirinhas de estudante de 2013, que está atrasada.
A manifestação havia sido organizada por estudantes do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Universidade Federal do Ceará, que pediam a todo momento que não houvesse vandalismo.
Os estudantes foram até a Assembleia Legislativa. Negociaram com a PM uma reunião com o presidente da Assembleia, Zezinho Albuquerque, e o secretário de Educação da prefeitura, Ivo Gomes, ambos do PSB. De lá, seguiram para o Palácio da Abolição, onde o ato acabou em violência.


Reportagem de Aguirre Talento



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