Levantamento com mais de 3.000 trabalhadores de 45 empresas brasileiras assusta: quase 40% dos entrevistados não veem problemas em aceitar suborno.
Uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria e serviços ICTS, especializada em gestão de riscos nos negócios, revela dados preocupantes: 48% dos profissionais das empresas brasileiras tendem a adotar "atalhos antiéticos" para atingir metas de trabalho. Outros 38% não veem problemas em aceitar suborno para beneficiar um fornecedor, dependendo das circunstâncias. E mais: quase um terço possui tendência a utilizar informações confidenciais da organização em que trabalha para benefício próprio ou de terceiros.
As informações constam no Relatório Bienal 2010/2012 Perfil Ético dos Profissionais das Corporações Brasileiras, que será divulgado na terça-feira. Os resultados foram compilados a partir da visão de 3.211 profissionais de 45 empresas brasileiras. Eles responderam a questionários e passaram por entrevistas individuais. Do total de pesquisados, 56% têm cargos de gestão e 45% possuem remuneração acima de 3.000 reais mensais.
O estudo coloca em discussão a índole dos trabalhadores brasileiros: 80% apresentam potencial para agir de forma antiética. "O estudo é muito surpreendente e, diria mais, assustador. A maioria dos profissionais não entra em uma organização com a intenção de furtar ou roubar algo, mas vai agir conforme os colegas e o ambiente de trabalho, sendo capaz, por exemplo, de aceitar suborno", afirma Renato Santos, organizador do relatório.
Chama a atenção também o fato de que são os gestores — que, em tese, deveriam ser os primeiros a dar bons exemplos — os que mais ignoram limites éticos. No total, 32% dos profissionais com ensino superior e em cargos de chefia já utilizaram ou mostram-se dispostos a aproveitar informações privilegiadas para benefício próprio em detrimento dos interesses da organização.
A aceitação de presentes também foi abordada na pesquisar: 40% dos pesquisados¨não têm objeção em beneficiar um fornecedor em troca de um "brinde". No nível operacional, a taxa sobe para 43%.
Aqueles que responderam que furtariam valores consideráveis da organização somaram-se 18%, índice ainda mais expressivo para homens (21%), de nível operacional (24%) e sem curso de graduação (25%).
Segundo Santos, o estudo aponta para a necessidade de ações efetivas nas empresas em prol da ética organizacional. "Há um mito generalizado de que ética vem de berço. Mas é possível, claro, conscientizar os profissionais", afirma. Para evitar danos causados pela falta de ética, ele sugere que as organizações mantenham um canal de denúncias, criem — e disseminem — um código de ética e conduta interno e invistam em monitoramento contínuo.
Reportagem de Lecticia Maggi
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