Irmãos vivem batendo boca e trocando sopapos desde os tempos de Caim e
Abel. Porém, as brigas e os atritos que costumam ser considerados rivalidade
normal entre irmãos podem não ser sempre tão benignos.
Uma nova pesquisa
sugere que mesmo sem cicatrizes físicas, a agressão entre irmãos pode causar
feridas psicológicas tão prejudiciais quanto as provocadas por intimidações na
escola ou no parquinho. As descobertas oferecem uma visão incomum sobre uma
área da vida familiar que tem sido pouco estudada, em parte porque brigas entre
irmãos são amplamente consideradas como um rito de passagem inofensivo.
Porém, asseguram
especialistas, pequenas brigas pelo controle da TV ou do vídeo game são uma
coisa, já violência verbal ou física crônica, especialmente quando direcionada
a um irmão em especial, é outra bem diferente. Envolvendo milhares de crianças
e adolescentes dos Estados Unidos, o novo estudo constatou que crianças
constantemente atacadas, ameaçadas ou intimidadas por um irmão têm níveis
elevados de depressão, raiva e ansiedade.
Corinna Jenkins
Tucker, principal autora do estudo, publicado na revista
"Pediatrics", declarou que comportamentos entre irmãos que descambam
para a violência merecem atenção.
"Historicamente,
o pensamento geral tem sido o de não ser importante e, às vezes, chega a ser
encarado como algo bom", disse Tucker, professora adjunta de estudos de
família na Universidade de New Hampshire. "Parece existir normas
diferentes de aceitabilidade. Agressão entre colegas é inaceitável, mas com
irmãos é diferente."
Segundo Tucker, o
número crescente de programas e anúncios de serviço público com o intuito de
parar o bullying e a violência nas escolas e outros locais também deveriam
incluir um foco nas relações entre irmãos. "A agressão entre irmãos deve
ser levada tão a sério como entre colegas", ela garantiu.
Dano e humilhação
"Embora
rivalidades normais com irmãos possam incentivar uma competição saudável, a
linha divisória entre relações saudáveis e violência é ultrapassada quando uma
criança sempre é a vítima da outra e a agressão busca infligir dano e
humilhação", disse John V. Caffaro, psicólogo clínico e autor de
"Sibling Abuse Trauma". Pais que não interferem, escolhem favoritos
ou dão aos filhos rótulos que semeiam divisões – como "o inteligente"
e "o atleta" – podem inadvertidamente incentivar o conflito.
De acordo com
Caffaro, a violência entre irmãos é de longe a forma mais comum de violência
familiar nos Estados Unidos, sendo de quatro a cinco vezes mais frequente do
que a voltada contra o cônjuge ou o filho. Segundo estudos, quase metade de
todas as crianças foi socada, chutada ou mordida por um irmão e,
aproximadamente 15% delas foram agredidas repetidas vezes. Contudo, garante o
psicólogo, mesmo os incidentes mais severos são subnotificados porque as
famílias detestam reconhecê-los, encarando tapas e socos como travessuras
pesadas e a intimidação como coisa de menino.
"Nossa sociedade costuma minimizar a violência entre crianças como
um todo. Nós temos a ideia de que ser ferido por uma criança machuca menos do
que por um adulto, mas essa visão não corresponde aos fatos", afirma
Caffaro.
Atos violentos
Para o estudo,
Tucker e colegas avaliaram 3.600 crianças usando dados da Pesquisa Nacional de
Exposição de Crianças à Violência, que coleta informações de crianças e
adolescentes de até 17 anos. Estudos anteriores sobre violência entre irmãos,
que são poucos, costumavam ser pequenos ou se concentrar em formas específicas
de agressão.
Todavia, a nova
pesquisa, realizada por meio de entrevistas com as crianças e seus pais, mediu
o impacto de uma ampla gama de atos violentos. O levantamento analisou
agressões físicas com e sem armas e a destruição ou roubo de propriedade, bem
como ameaças, xingamentos e outros modos de intimidação psicológica.
No total, um terço
das crianças no estudo relatou ter sofrido nas mãos de um irmão no ano
anterior. A pontuação, nesses casos, era mais alta na medição de ansiedade,
depressão e raiva.
Catherine Bradshaw,
especialista em intimidação e subdiretora do Centro para Prevenção da Violência
Juvenil da Universidade Johns Hopkins, declarou que o estudo tinha abrangência
e escala impressionantes, observando que ele demonstrou que todos os tipos de
agressão fraterna, da branda à severa, estavam ligados a uma pior saúde mental.
"Às vezes, os
pais pensam que os filhos podem resolver as coisas no tapa ou que um pouco de
vitimização não faz mal, mas estes achados sugerem que o limiar é muito baixo.
Não se deve ficar de olho apenas nos fatos mais graves."
Segundo Caffaro, os efeitos da violência entre irmãos costumam continuar
na vida adulta. Ao longo dos anos, ele tratou pacientes que lutavam com
questões emocionais e sabotavam as carreiras por conta da humilhação repetida
que vivenciaram nas mãos de irmãos. "Esse tipo de agressão pode corroer a
noção de identidade e autoestima."
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