Em manifestação, médicos reivindicam melhores remunerações e “alertam a população" sobre interferência das operadoras nas consultas e pedidos de exames de pacientes.
Os médicos brasileiros vão paralisar nesta quinta-feira (25) o atendimento a pacientes com planos de saúde em 10 Estados do País, o que pode afetar várias das mais de 25 milhões de pessoas que têm assistência médica nessas regiões. Por isso, serão suspensas e remarcadas as consultas agendadas para hoje em Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Piauí, Rio Grande do Sul, Rondônia, Sergipe e São Paulo.
Os profissionais de saúde avisam, no entanto, que vão atender normalmente a procedimentos médicos importantes e de urgência já que a intenção não é afetar a saúde do paciente. O objetivo é reivindicar melhores remunerações e “alertar” a população sobre interferência das operadoras nos trabalhos dos médicos.
O presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), Cid Carvalhaes, explica que há ainda planos de saúde que pagam cerca de R$ 25 por consulta médica. “ (Os planos) são muitos injustos e extremamente carrascos com a população. São 50 milhões de pessoas (com planos de saúde) que estão tendo restrições cada vez maiores. Tem ainda planos que estão pagando R$ 25 por uma consulta. O máximo alcançado (em negociação) foi de R$ 64 reais em alguns planos. Poderíamos fazer uma média, uma estimativa grosseira de R$ 55 por consulta. Nossa referencia mínima tolerável é R$ 90 a consulta”, conta.
De acordo com diretor de Defesa Profissional da Associação Paulista de Medicina (APM), Marun Cury, o “pífio” valor pago pelos planos de saúde aos médicos faz com que os consultórios tenham que atender um número grande de pessoas para conseguirem pagar impostos e custos normais de um consultório. Segundo ele, isso tem afetado a relação médico-paciente.
“O principal é um alerta para população sobre a péssima remuneração paga pelos planos de saúde. A gente tem conversado e procurado esclarecer (para as operadoras) a importância de atender muito bem o usuário. Para conseguir receber hoje uma remuneração digna é preciso aumentar o numero de atendimentos e assim cai a qualidade. Isso fez com que se destruísse a relação médico-paciente. Essa relação ficou totalmente impessoal”, critica Cury.
Outro problema recorrente, ainda segundo Marun Cury, é a interferência dos planos de saúde no trabalho dos médicos por causa dos custos de determinados procedimentos. “Por exemplo, se você solicita uma endoscopia gástrica de uma criança de três anos, o plano de saúde nega alegando para a família que o procedimento tem risco à saúde”, explica.
A falta de condições de trabalho ainda tem feito os médicos abandonarem os consultórios para atuarem em hospitais, muitas vezes das próprias operadas, pois vários planos de saúde têm unidades de saúde próprias. Outros costumam se descredenciar de todos os planos para atenderem apenas pelo sistema de consultar particular, onde os preços podem ser bem mais elevados. Além disso, Cury diz que os médicos “evitam” fazer cirurgias de “grande risco” por causa do baixo valor que recebem.
“A operadora paga R$ 255 em uma cirurgia para retirada de útero. Para tirar um rim, o médico e o auxiliar recebem o valor de R$ 265. São procedimentos que não são fáceis. Então, o que acontece é que os médicos evitam o risco grande porque a remuneração é pífia. Não tem estímulo. Parte da movimentação é para melhorar esses procedimentos”, diz.
Outro lado
Umas das entidades que representa planos de saúde no País, a FenaSaúde justifica, em nota, que tem concedido reajustes acima dos índices de inflação. “As filiadas têm empenhado grande esforço para recompor os honorários dos profissionais de saúde. Para tanto, os reajustes dos valores pagos por cada consulta médica são aplicados com base em índices acima da inflação e, muitas vezes, superiores ao teto fixado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para o reajuste anual dos planos individuais. De julho de 2011 a junho de 2012, operadoras filiadas concederam reajuste de quase 14% no valor das consultas, frente aos 12 meses anteriores – uma expansão considerável e bem acima do IPCA do período, de 6,1%”, diz em comunicado à imprensa.
A associação é formada por 15 grupos dentro de um universo de 1.538 operadoras, mas argumenta que teria de repassar os preços aos pacientes se tiver que pagar mais aos médicos. “Para uma ideia do impacto nas contas, nos 12 meses encerrados em setembro de 2012, as associadas tiveram despesas totais R$ 34,7 bilhões. Somente com consultas, as associadas gastaram R$ 4,6 bilhões. Logo, hipoteticamente, se aplicado um reajuste linear de 10% sobre o valor repassado aos médicos, esta despesa adicional seria de R$ 460 milhões. Esse acréscimo terminará recaindo necessariamente sobre o consumidor, uma vez que cada centavo aplicado na Saúde Suplementar tem como fonte única as mensalidades pagas pelos beneficiários dos planos”, argumenta.
Reportagem de Renan Truffi
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