O jacobinismo pode ter criado uma oportunidade formidável para os epidemiologistas.A tradição centralizadora francesa, representada pela base de dados médico-administrativos da Caixa Nacional de Seguro de Saúde (CNAM), vai fornecer nos próximos anos aos pesquisadores do Centro de Pesquisa em Epidemiologia e Saúde das Populações (Inserm - Universidade de Versalhes) os meios para implantar e observar, sem limite de tempo, o mais amplo grupo epidemiológico já acompanhado na França. O objetivo é buscar os fatores de risco envolvidos no desenvolvimento de doenças ligadas ao envelhecimento ou, ainda, ao ambiente.
O lançamento oficial do projeto, batizado de Constances ("Coorte de Consultores dos Centros de Exames de saúde"), dará o pontapé inicial ao recrutamento de uma amostra de 200 mil pessoas com idades entre 18 e 69 anos, representativas da população francesa e afiliadas ao sistema unificado da Previdência Social.
"Esses voluntários responderão regularmente a questionários sobre sua profissão, modo de vida, alimentação etc. E todas essas informações serão correlacionadas com os dados de reembolso de tratamentos ou internações", explica a epidemiologista Marie Zins (Universidade de Versalhes), coordenadora científica do projeto. O recrutamento, por sorteio, será feito até que se atinja o número almejado de voluntários.
Eles receberão a proposta por e-mail para participar do projeto e, para isso, deverão passar por um primeiro exame médico completo a fim de determinar seu estado de saúde "inicial". "Sabemos que as pessoas que respondem positivamente a esse gênero de pesquisa apresentam comportamentos diferentes daquelas que não respondem", diz Zins. "Então vamos sortear outras 400 mil pessoas, anônimas e também representativas da população, cujas fichas serão comparadas às dos voluntários, para corrigir possíveis "distorções de seleção"".
Além dos questionários que deverão ser preenchidos regularmente, os voluntários serão convidados a passar por um check-up completo de saúde a cada cinco anos. "Foi colocada ênfase em testes muito elaborados para medir da forma mais detalhada possível a evolução das funções cognitivas, da memória etc", afirma o epidemiologista Marcel Goldberg (Universidade de Versalhes), corresponsável pelo projeto. "Para entender o que acontece no desenvolvimento das demências, por exemplo, é preciso detectar os primeiros sinais muito cedo, e até hoje isso nunca foi feito".
Na verdade, um dos objetivos do projeto é não somente identificar as desigualdades socioeconômicas ou, ainda, os riscos ligados ao ambiente profissional, mas também estudar os fatores de risco associados a certas patologias que vêm com a idade --demências (Alzheimer, por exemplo), diabetes, câncer...
Ademais, as informações associadas à cidade de residência ou ao local de trabalho dos voluntários permitirão cruzar os dados de saúde obtidos junto ao grupo com diversos dados geográficos, característicos do ambiente local: poluição atmosférica, implantação de antenas de telefonia móvel, linhas de alta tensão, zonas de grandes cultivos agrícolas.
"Com os exames médicos, amostras como de sangue ou de urina, retiradas dos voluntários, serão conservadas em um "banco biológico" e poderão ser objeto de análises posteriores, para detectar a possível presença de certos contaminantes, pesticidas etc.", explica Goldberg. Esses dados serão anônimos, mas o acesso a eles será limitado à comunidade científica. E somente a determinadas equipes, escolhidas a dedo.
Um conselho científico composto por pesquisadores franceses e estrangeiros em igual proporção avaliará o interesse e a pertinência dos projetos que lhe serão submetidos. Os pesquisadores selecionados terão acesso aos dados desejados e terão liberdade para analisá-los e, depois, publicar seus resultados. Eles também poderão procurar os voluntários e pedir a alguns deles exames complementares, caros demais para serem conduzidos em toda o grupo (ressonância magnética, por exemplo).
Portanto, a coorte Constances terá o status de "infraestrutura nacional em biologia e saúde", um pouco como os grandes instrumentos em física, cujo comitê científico atribui tempo de utilização dependendo do interesse dos projetos submetidos.
"Faremos uma chamada pública para projetos, mas já submeteram cerca de 40 para nós", diz Marie Zins. "É a prova de que existe um forte entusiasmo da comunidade científica". A ambição do projeto tem seu custo: o orçamento total para os oito primeiros anos chega a 158 milhões de euros, cobertos principalmente pela CNAM, que contribui basicamente em espécie, através de exames de saúde. "Para realizar o projeto como pretendemos, ainda precisamos arrumar 20 milhões de euros em oito anos", conclui Goldberg.
Reportagem de Stéphane Foucart
Tradutor: Lana Lim
fonte:http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2013/03/08/franca-lanca-estudo-inedito-sobre-doencas-ligadas-ao-envelhecimento.htm
foto:http://coisadevelho.com.br/?p=4255
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