10/01/2013

País tem 3,8 milhões de inquéritos sem conclusão


O Brasil tem mais de 3,8 milhões de inquéritos policiais ou notícias criminais sem conclusão. A quantidade equivale a 72% do total de 5,3 milhões de inquéritos recebidos pelas Promotorias e Procuradorias estaduais e federais. É o que revelam os dados do relatório Ministério Público — Um retrato, divulgado em dezembro de 2012, pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Com números inéditos sobre a atuação dos MPs estaduais e da União, a publicação traz o total de inquéritos acumulados até o ano de 2011. O cálculo leva em conta os inquéritos recebidos pelo MP que não foram arquivados nem viraram denúncia.
Para o promotor de Justiça em Minas Gerais André Luís Melo, o número de casos sem conclusão é alto. “A cada 30 dias, a delegacia tem que mandar todos os inquéritos para o fórum. De cada dez inquéritos, sete estão indo e voltando pedindo mais prazo,” diz.
Na avaliação do promotor, o maior problema nos inquéritos é que eles não têm o nome do réu e, assim, não é possível processar. “Por isso, ficam indo e voltando. Só consigo arquivar em caso de prescrição ou quando o fato não é crime ou pelo princípio da insignificância”.
Melo diz também que o número elevado de casos pendentes é reflexo direto de uma interpretação equivocada sobre a ação penal. “É preciso romper com o mito da obrigatoriedade da ação penal. Temos de estabelecer prioridades”, defende. “Com esse volume de ocorrências, não tem como investigar, relatar e apurar autoria em 30 dias. A não ser que seja prisão em flagrante. Os crimes mais complexos acabam parados. Na Europa ou nos EUA, eles investigam só os mais graves.”
Segundo o artigo 10º do Código de Processo Penal, a polícia deve concluir o inquérito em dez dias nos caso de indiciado preso em flagrante, e de 30 dias quanto ele estiver solto. “Tenho inquérito desde 2003 indo e voltando da delegacia para o fórum”, queixa-se o promotor.
De acordo com o promotor de Justiça em São Paulo e membro auxiliar do CNMP Michel Romano, não existe meta para baixar o número total de inquéritos sem conclusão. “O CNMP não publica esses dados para fazer algum tipo de cobrança. A exposição dos números é uma forma de melhor gestão. Cada MP vai analisar seu dado”, afirma.
Ele diz que na metade do ano o CNMP publicará nova edição do MP — Um Retrato, em que os inquéritos estarão separados pelo menos por título penal (crime contra o patrimônio, por exemplo).
Inquéritos
Área CriminalRegião 
Inquéritos Policias / Notícias CriminaisCentro-OesteNordesteNorteSudesteSulTotal
Recebidos544,564368,537359,7913,199,539917,6845,390,115
Arquivados44,90148,81123,701415,095138,655671,163
Denúncias Oferecidas120,713122,35775,306384,615142,913845,904
Pendentes378,950197,369260,7842,399,829636,1163,873,048
Percentual dos pendentes70%54%72%75%69%72%
Fonte: Ministério Público - Um retrato - dados relativos a 2011 
Medidas despenalizadoras
O relatório também traz o número de Transações Penais e de Suspensões Condicionais do Processo. Ambos os benefícios são para crimes de menor potencial ofensivo, e, para ter direito a eles, o acusado deve cumprir alguns requisitos. Segundo os dados, foram contabilizadas, em 2011, um total de 151 mil transações penais e 86,7 mil suspensões de processos. A soma das duas medidas dá 237,7 mil — o equivalente a apenas 4% do total de 5,3 milhões de inquéritos recebidos pelo MP.

O promotor André Luis Melo afirma que há resistência dentro do MP ao uso dessas práticas. “Se não cumprir a transação, o que acontece? A legislação não fala. Isso gera insegurança na sua aplicação. A legislação diz que, se não cumprir, o sujeito é preso, mas o STF julgou a norma inconstitucional, pois não houve processo.”
Outro ponto que dificulta a extensão do benefício a um maior número de casos é seu alcance restrito. “A suspensão só cabe com pena mínima de até 1 ano e sem passagem. Roubo não pode. Tráfico, mesmo privilegiado, não pode. E para furto qualificado também não pode. Não é uma gama tão grande”. Ele diz que, apesar de não estar na estatística, são esses os crimes mais registrados nos MPs estaduais.
Segundo o promotor Michel Romano, membro do CNMP, o número de transações e suspensões deve ser maior, pois muitos dos MPs deixam de fazer os lançamentos de dados de forma sistematizada. 
Conforme a legislação vigente, a suspensão do processo é válida para crimes cuja pena mínima seja de até um ano e deve ser proposta pelo MP ao oferecer a denúncia. Ela só pode ser aplicada para os acusados que não estejam sendo processados e sem condenação. Já a transação penal é cabível no caso de crimes com pena de até dois anos, que pode ser trocada por multa ou restrição de direitos. Nesse caso, o acusado também não pode ter condenação anterior nem ter sido beneficiado com a transação nos últimos cinco anos.
Medidas Despenalizadoras
Inquéritos Policiais/ Notícias CriminaisCentro-OesteNordesteNorteSudesteSulTotal
Recebidos544,564368,537359,7913,199,539917,6845,390,115
Transações Penais13,24223,6116,27992,48515,408151,025
Percentual2.4%6.4%1.7%2.9%1.7%2.8%
Suspensão do Processo2,6108,0552,61745,71627,77286,770
 Percentual0.5%2.2%0.7%1.4%3.0%1.6%
Medidas alternativas (TP +
Sursis processual)
15,85231,6668,896138,20143,180237,795
 Percentual2.9%8.6%2.5%4.3%4.7%4.4%
Fonte: Ministério Público - Um retrato - dados relativos a 2011 
Reportagem de Elton Bezerra
fonte:http://www.conjur.com.br/2013-jan-10/pais-34-milhoes-inqueritos-policiais-conclusao-aponta-cnmp
foto: armabranca.blogspot.com 

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