07/11/2012

Universitário brasileiro estuda pouco fora da sala de aula


Estudo realizado pelo Ipea mostra que 71,5% dos alunos dedicam, no máximo, 10 horas por semana às tarefas complementares de estudo. Trabalho é o que mais prejudica as atividades.


Os universitários brasileiros dedicam pouco tempo para atividades de estudo extraclasse. A conclusão faz parte dos dados preliminares do Estudo Comparado sobre a Juventude Brasileira e Chinesa divulgado na tarde desta terça-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apenas os dados brasileiros foram divulgados ontem (6). A análise completa só será lançada no segundo semestre de 2013.
De acordo com o estudo, que traçou um perfil dos universitários brasileiros, 71,5% dos alunos estudam até 10 horas por semana fora da sala de aula. Desse total, mais da metade (37,1%) usam menos de 5 horas de seu tempo longe da faculdade para realizar atividades complementares ao estudo em aula.
O maior empecilho para a dedicação aos estudos é o trabalho. Mais da metade (52%) dos jovens entrevistados estuda e trabalha. Entre os que exercem algum tipo de atividade remunerada, 77% dedicam menos de 10 horas semanais ao estudo fora da sala de aula. Mas os números não são diferentes entre os que não trabalham. Do total, 64,9% deles também estudam menos de 10 horas semanais fora da faculdade.
“Os percentuais são significativos também nos outros grupos, já que 34,9% dos que estão procurando emprego utilizam até cinco horas para estudo complementar”, afirma o estudo. Curiosamente, são os jovens que exercem atividades não-remuneradas os que mais estudam. Quase 15% deles estudam mais de 21 horas semanais fora da sala de aula. Grande parte dos universitários (68,1%) utiliza até 24 horas semanais para cumprir o calendário acadêmico.
A pesquisa aponta ainda que os estudantes de instituições públicas declaram destinar mais horas de estudos complementares que os alunos da rede privada de ensino. Quase o dobro dos estudantes que informou estudar mais de 21 horas semanais era da rede pública. Já entre os que estudam menos de 5 horas, a maioria é da rede privada (45%). Na rede pública, o percentual é de aproximadamente 22%.
Satisfação com a carreira
A maioria dos entrevistados se diz satisfeita com a primeira escolha de curso que fizeram. Do total, 74,1% informaram que o curso atual foi a primeira escolha ao ingressarem na universidade. Em toda a amostra, 82,8% afirmaram que não trocariam de curso. “O número de estudantes satisfeitos com a carreira é, pelo menos, cinco vezes maior do que aqueles que gostariam de construir outros perfis profissionais”, mostra o relatório do Ipea.
Outro ponto pesquisado pelo Ipea foi a trajetória familiar nos estudos. De acordo com os dados preliminares, a escolaridade das mães dos universitários é maior que a dos pais. Do total, 15,8% dos pais dos estudantes concluíram até o ensino fundamental apenas. O número de mães na mesma situação é menor em dois pontos percentuais (13,8%). No outro extremo, elas têm mais títulos de pós-graduação: 3,1 pontos percentuais a mais (15,4%).
De modo geral, a maioria dos pais dos universitários não chega à pós-graduação: 74,7% dos entrevistados declarou que nenhum dos pais chegou a essa etapa do ensino superior. Para o Ipea a relação entre a escolaridade dos pais e dos filhos é direta. No entanto, segundo o estudo, o número de jovens cujos pais não têm titulação e são os primeiros da família a chegar à universidade tem aumentado.
“Identifica-se uma relação diretamente proporcional entre o nível de escolaridade do pai e da mãe e o acesso do jovem ao ensino superior já que, aproximadamente, dois terços do total da amostra concentram-se entre aqueles, pai e mãe, que concluíram o ensino médio ou o ensino superior, e não se alcançam 10% daqueles com escolaridade até o ensino fundamental incompleto”, destaca o estudo.
Os pais de 33,8% dos estudantes nunca chegaram ao ensino superior, os de 35,9% chegaram ambos e 28,7%, apenas um deles. “O percentual de jovens brasileiros que estão na universidade, mesmo sendo filhos de pais que não alcançaram este nível de ensino, revela a importância que tem assumido a continuidade de estudos após a educação básica por diferentes camadas da sociedade brasileira”, enfatiza o relatório.
O estudo
A pesquisa realizada foi feita a partir da aplicação de questionários a 4,8 mil universitários de 18 a 24 anos (metade chineses, metade brasileiros) nas cidades de Brasília, São Paulo, Pequim e Xangai. O estudo é fruto de parceria entre o Ipea, a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), o China Youth and Children Research Center – CYCRC (Centro de Pesquisa em Infância e Juventude da China) e a China Youth and Children Research Association – CYCRA (Associação de Pesquisa em Infância e Juventude da China).
O objetivo é orientar a definição de políticas públicas capazes de contribuir para o desenvolvimento de uma melhor compreensão entre os dois países e diminuir preconceitos e estereótipos. “Tanto na academia como nos órgãos governamentais existe pouco conhecimento sobre a China e vice-versa. Em outras palavras, a cooperação internacional é um valor e uma necessidade”, afirma o estudo. Os dados completos e as comparações entre os dois países só serão divulgados no ano que vem.
No segundo semestre de 2013, os órgãos envolvidos lançarão um livro durante seminário a ser realizado no Brasil.

Reportagem de Priscilla Borges
foto:paragrafoprimeiro.net



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