O Paraguai será o único país da América Latina a registrar recessão este ano, segundo dados do Cadep (Centro de Análises e Difusão da Economia Paraguaia), com sede em Assunção. O instituto estima que esta retração do Produto Interno Bruto (PIB) ficaria entre 0,5% e 1,5%. Dados similares foram divulgados pelo Ministério da Fazenda, que prevê uma queda de 0,8% do PIB.
Em junho, a Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) informou que o Paraguai tinha sido o único a ter recessão nos primeiros três meses do ano.
Em 2011, a economia paraguaia cresceu 3,5% e em 2010 foi a que teve maior expansão na América Latina, com 15%, confirmando sua "trajetória de volatilidade", como disse o economista paraguaio Fernando Masi, do Cadep. A expectativa do governo e da iniciativa privada é de que a economia volte a registrar resultados turbinados em 2013, com o aumento do PIB, que ficaria entre 9% e 10%, de acordo com dados de organismos internacionais citados pelo Ministério da Fazenda.
O retrocesso econômico deste ano ocorre no momento em que o Paraguai está politicamente suspenso e isolado do Mercosul e da Unasul - medida tomada, em julho, após a saída de Fernando Lugo da Presidência do país, quando foi substituído por seu vice e atual presidente, Federico Franco. Segundo assessores do governo Franco, analistas e representantes dos produtores rurais ouvidos pela BBC Brasil, a suspensão não teria influenciado neste resultado recessivo.
"Apesar da suspensão, as exportações do Paraguai para o Mercosul cresceram, exceto para a Argentina devido às barreiras comerciais do país para diferentes países. As exportações do Paraguai para o Brasil, seu principal sócio econômico, subiram 10% de janeiro a setembro deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado", disse Masi.
Seca
A queda do PIB é atribuída à seca registrada entre o fim de 2011 e o início de 2012, que provocou caída de cerca de 50% na produção e nas exportações de soja. Outro fator que teria contribuído para a recessão é a suspensão das exportações de carne paraguaia para vários países, como o Chile, por exemplo, após ter sido detectada a febre aftosa no gado local. Nos dois casos, soja e gado, é ampla a presença de produtores brasileiros e brasiguaios, apesar de não existirem dados exatos sobre quanto eles representam no universo estimado de trinta mil produtores rurais no país.
"A presença de brasileiros e filhos de brasileiros é alta na agropecuária. Mas somente depois do censo que está sendo realizado saberemos quantos são exatamente. Em todo caso, brasileiros e paraguaios, todos fomos fortemente afetados pela seca e pelo foco de aftosa no gado", disse o presidente da União de Grêmios da Produção (UGP), Hector Cristaldo.
Sua produção de grãos está no departamento do Alto Paraná, na fronteira com o Brasil, onde é forte a presença dos produtores brasileiros e brasiguaios.
"A nossa expectativa é que o Chile e países europeus reabram seus mercados para nossa carne em breve. Para nossa sorte, Rússia e Israel não suspenderam as compras de carne e com isso os frigoríficos continuaram trabalhando", disse.
Cristaldo afirmou que a seca também castigou a produção em 2009, quando a economia paraguaia registrou recessão, com queda de 3%, em um período de exceção marcado por quase uma década de crescimento. "Não acho que a suspensão do Paraguai pelo Mercosul tenha afetado nossa economia. Acho sim que o fato gerou incertezas. É melhor estar bem com os vizinhos. Mas a recessão foi pela seca", afirmou. Segundo ele, a partir de outubro a produção da soja (principal produto de exportação do país) voltou a se recuperar e espera-se novo recorde da economia em 2013.
Social
A mudança na Presidência do país não teria alterado a política econômica paraguaia, de acordo com os especialistas. Eles observaram ainda que o comportamento da produção e da exportação da soja influencia o resultado do PIB, mas não necessariamente o desenvolvimento econômico e social do país.
"O Paraguai é o quarto exportador mundial de soja e o nono exportador mundial de carne. Mas estes fatos não refletiram da mesma forma na redução da pobreza no país", disse Masi. De acordo com o governo e com o Cadep, o índice de pobreza no Paraguai é de cerca de 30% - em 2002 estava em torno de 40%. Deste total, 18% são extremamente pobres e vivem principalmente na área rural. A concentração de terras, a concentração de renda (estima-se que os 10% mais ricos tenham cerca de metade da renda do país) e a falta de alternativas são alguns dos responsáveis pela economia informal e pobreza no Paraguai, dizem líderes dos movimentos sociais e especialistas.
"Foi por isso que apesar da queda no PIB a pobreza não aumentou. Graças a expansão da construção e dos serviços, o desemprego também não subiu e mantivemos a mesma linha macroeconômica, com a inflação sob controle", disseram assessores do Ministério da Fazenda.
Levantamento mensal do banco Itaú no Paraguai indica que a inflação em 2012 é de 2,6% e de 3,4% nos últimos doze meses, dentro da margem esperada de 5% para este ano.
Brasil
Interlocutores do governo brasileiro, em Brasília, disseram que o Paraguai deverá ser um dos principais temas da reunião do Mercosul, em dezembro, na capital federal. Desde que foi suspenso do bloco, o país não recebe visitas de representantes dos governos da região e vive etapa de "isolamento político", segundo analistas.
"O objetivo da suspensão do bloco foi mostrar que não toleraremos o desrespeito à democracia. Mas também tivemos o cuidado de não prejudicar o país economicamente e todos os acordos e o comércio foram mantidos normalmente", disse um embaixador do Mercosul. O Paraguai realizará eleições presidenciais em abril e o novo presidente deverá ser empossado em agosto do ano que vem, quase quatro meses após o pleito.
Reportagem de Maria Carmo
fonte:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/11/121127_paraguai_recessao_dg.shtml#page-top
foto:quadrodemedalhas.com
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