Muito se fala do frenesi de “50 tons de cinza”, já considerado o maior best seller do mundo – descontado o sucesso perene da Bíblia –, como se a autora, E.L. James, tivesse inventado a chamada literatura erótica. No rastro do livro, que com dois outros títulos compõe uma trilogia publicada no Brasil pela editora Intrínseca, vários escritores de novelas fracas, porém com a língua afiada para o sexo, hoje se veem contando maços de dólares.
A onda da porn lit, pornofamília, literatura new adult– ou como se queira chamar o fenômeno dos relatos sexuais que capturou especialmente as mulheres (leitoras e escritoras) – se dá especialmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas caiu pelo mundo afora. E é essa adesão tão vasta que suscita uma curiosidade: com que sanam seu interesse os ávidos por literatura erótica feita na América Latina?
Para começar, difícil é a tarefa de definir “literatura erótica”. Diz uma fonte popular como o Wikipedia que ela corresponde ao gênero literário que utiliza o erotismo como forma de despertar a libido do leitor ou então instruí-lo sobre práticas sexuais.
Com uma definição tão ampla, exemplos representativos não faltam, ainda que nenhuma obra do mainstream aponte na direção do BDSM (sigla para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo), como no caso de “50 tons”. Sem pretensões, depois de uma breve pesquisa, indico aqui só a ponta do iceberg para quem quiser se aventurar por letras latino-americanas a bordo deste “sex boat”.
Do Peru, vêm dois representantes. Primeiro, o romance “Elogio de la madrasta”, de ninguém menos que o mais famoso escritor peruano, o Nobel Mario Vargas Llosa, publicado em 1988 pela editora Tusquets. O livro narra o ritual sexual de um casal burguês cheio de manias e inclui nuances incestuosas na relação da madrasta com o filho. É parte de uma coleção considerada “mítica”, a “La Sonrisa Vertical”, criada para dar valor a esse tipo de literatura, normalmente deixada de lado pelos críticos.
Depois, “Sexografías”, de Gabriela Wiener, é uma compilação de inspiradoras crônicas de não ficção, em que autora se insere nos mais diferentes ambientes para relatar polêmicas experiências envolvendo sexo. Tem marido poligâmico, visitas íntimas na prisão, pornografia envolvendo gestantes na internet... Mais do que fantasia, oferece um retrato sexual e social de mulheres no Peru, mas é inegável que instrui e até incita, como pede esse tipo de literatura.
Mil palavras para uma imagem
Voltando à ficção, um livro que parece ter circulado pouco, mas que desperta grande interesse, é uma complicação de textos eróticos de autoras latino-americanas, incluindo contos, poemas e trechos de romances. “AMORicalatina - Mi cuerpo, mi continente”, editado e traduzido pela escritora austríaca Erna Pfeiffer, foi publicado em 1991 em Viena e é um abre-bocas para a literatura erótica produzida na região. Contém relatos, por exemplo, da colombiana Carmen Cecilia Suárez, autora de “Un vestido rojo para bailar boleros”, que aparece ao lado da uruguaia Delmira Agustini, a mexicana Carmen Boullosa, a equatoriana Luisa Valenzuela, a porto-riquenha Rosario Ferré, a mexicana Inés Arredondo, a costa-riquenha Ana Istarú e a cubana Daina Chaviano, entre outras. Bom começo para os fãs do assunto.
O que oferece a literatura erótica é, sem dúvida, “mil” palavras orquestradas para suscitar uma boa imagem – e garantir diversão. De passagem, faz um das radiografias mais definidas de uma sociedade, talvez mais reveladoras do que a do idioma ou a da gastronomia. Então por que não investir em 50 tons de sexualidade local?
Para baixar:
Elogio de la madrasta (Mario Vargas Llosa)
http://www.4shared.com/office/OGGch0U6/elogio_de_la_madrastra.html
Reportagem de Camila Moraes
foto:zazzle.com.br
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