05/10/2012

Com popularidade em queda, Cristina Kirchner enfrenta greve de policiais


Policiais da Argentina iniciaram uma greve contra a redução salarial que afetou a categoria e que entrou em vigor neste mês, após um decreto do governo da presidente Cristina Kirchner. A manifestação é vista por analistas como um desafio para o governo argentino, em um momento de queda da popularidade da líder argentina, em que ela enfrenta criticas de diferentes setores da sociedade, por conta do aumento da inflação no país e da política de controle de compra de dólares.
O protesto das forças de segurança começou na terça-feira. As manifestações ganharam força na quarta e prosseguiam nesta quinta-feira. Foram realizadas em ao menos 10 das 23 províncias do país, entre elas a de Buenos Aires, segundo informações da imprensa local.
O chefe de gabinete (o equivalente ao chefe da Casa Civil), Juan Abal Medina, atribuiu a redução salarial a um ''erro administrativo''. ''Suspendemos o decreto, e o salário (deste mês) será o mesmo que o do mês passado (antes dos descontos que provocaram a redução)'', disse Medina.
A seu lado estavam a ministra da Segurança, Nilda Garré, e o ministro da Economia, Hernán Lorenzino, que não fizeram declarações públicas.

Fardas e megafones

Com fardas e megafones, os manifestantes disseram diante das câmeras de TV que queriam a medida ''por escrito''. O governo substituiu a cúpula das forças de segurança afetadas pelo protesto, as chamadas Gendarmería e Prefeitura Naval – setores da Marinha também aderiram à paralisação.
A Gendarmería era originalmente uma polícia de fronteira e a Prefeitura Naval, responsável pela segurança nos rios e mares. Mas nos últimos anos, durante a gestão do Kirchnerismo (iniciada em 2003 com o governo do ex-presidente Néstor Kirchner), elas passaram a atuar igualmente na segurança interna do país, como estradas locais, por exemplo. Ou, no caso da Gendarmería, realizando a patrulha nos bairros com maiores indicadores de insegurança pública de Buenos Aires.
Apesar dos anúncios do governo, a paralisação não havia sido suspensa até o início da madrugada desta quinta-feira. Os agentes continuavam concentrados na entrada dos batalhões esperando ''garantias'', disseram, de que suas demandas seriam atendidas.
''O protesto começou porque os salários foram rebaixados, mas agora existem três outras demandas. Entre elas a de que o salário básico seja de 7 mil pesos (equivalente a cerca de R$ 3.500)'', disse o analista político da emissora de televisão TN (Todo Noticias) Edgardo Alfano.

Apoio crítico

O protesto gerou polêmica e provocou uma série de comunicados de organizações não-governamentais (ONGs), sindicatos e políticos "em defesa da democracia".
A entidade de direitos humanos Avós da Praça de Maio disse que apoia a demanda salarial, mas fez um apelo para que as forças de segurança voltassem ao trabalho. ''Apoiamos a democracia, repudiamos qualquer ato de violência e pedimos às forças de segurança que voltem ao trabalho, já que sua reivindicação inicial já foi atendida''.
O protesto levou congressistas de diferentes partidos a convocarem uma reunião de urgência para pedir o retorno dos agentes armados às suas atividades.
''As queixas são justas. Mas ao mesmo tempo eles devem entender que têm o dever institucional de responder pela segurança e hoje é justamente a segurança uma das principais preocupações dos argentinos'', disse a deputada opositora Victoria Donda, da FAP (Frente Amplo Progressista).
O deputado da oposição e jurista Ricardo Gil Laavedra, da UCR (União Cívica Radical), disse que não há ''ameaça como no passado contra a democracia'' e que as queixas salariais do setor já registram ''vários anos''.
Gil Laavedra disse, porém, que por estarem armados e pelos postos que ocupam, os manifestantes ''não podem fazer protestos como se fossem professores ou enfermeiros''. Segundo os manifestantes e os opositores, os salários do setor em greve variam entre 2,5 mil pesos e 7 mil pesos. Com os descontos, os salários teriam caído, em média, entre 30% e 40%, com o de 7 mil pesos, por exemplo, passando para cerca de 4,5 mil, de acordo com cálculos da oposição.

Cristina em queda

Pesquisas de opinião divulgadas no fim de semana apontaram um declínio na popularidade de Cristina Kirchner. A presidente da Argentina enfrenta uma alta inflacionária e criticas a medidas como o controle da compra de dólares – moeda que, como disse a presidente, ''faz parte da cultura'' dos argentinos na hora de fazer poupança.
''Pela primeira vez, a imagem negativa da presidente é maior que a positiva e o mesmo ocorre em relação à imagem do governo. Entre os assuntos que preocupam os argentinos estão a inflação, a insegurança publica e a corrupção'', disse à BBC Brasil a analista Mariel Fornoni, do instituto Management & Fit.
Para o analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, a decisão dos agentes de segurança de manterem a greve é ''um desafio'' para o governo e ''com um desfecho difícil de prever neste momento''. Ele afirmou que as greves são ''inéditas'' na trajetória da Gendarmería e da Prefeitura Naval, que reúnem mais de 30 mil agentes de segurança em todo o país.


Reportagem de Marcia Carmo
foto:zerohora.clicrbs.com.br

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