Com 90% dos votos apurados, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi reeleito com a preferência de 54,4% dos venezuelanos. Seu principal adversário, Henrique Capriles, tem 44% até o momento. O anúncio foi feito pela presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), Tibisay Lucena, que também informou que mais de 80% da população compareceu às urnas, mesmo sem a obrigatoriedade do voto no país.
Segundo os dados divulgados pelo órgão, o presidente venezuelano recebeu 7,4 milhões de votos em comparação a 6,1 milhões de Capriles. Apesar da ampla vitória, Chávez já recebeu maior apoio dos eleitores em pleitos passados como, por exemplo, em 2006, quando obteve 62% dos votos frente a 36% de seu opositor, Manuel Rosales.
Em Miraflores, o presidente lançou um apelo à oposição para que todos dialoguem e trabalhem em conjunto "pela Venezuela bolivariana". Chávez agradeceu aos "quase 30 milhões de venezuelanos" pelo "dia histórico" e pela "altíssima participação de mais de 80%" nas urnas, em que, segundo ele, não foram registrados incidentes graves.
Ele também felicitou a oposição por ter reconhecido "a verdade, a vitória do povo". "Foi realmente, como vínhamos dizendo nos últimos meses, uma batalha perfeita, democrática. Graças a Deus e à consciencia de nosso povo, não houve nenhum acontecimento hoje para lamentar", disse.
No discurso, Chávez comentou sobre as ligações que recebeu de líderes da América Latina, como Cristina Kirchner, da Argentina, e Raúl Castro, de Cuba. Peço a Deus que me dê saúde para seguir fazendo mais e melhor pelo povo venezuelano", disse. "Vamos ser a cada dia melhores, responder cada vez com mais eficácia aos anseios do povo. Me comprometo com vocês a ser, cada dia, um melhor presidente."
Em sua conta de Twitter, o presidente agradeceu a vitória. "Obrigado, meu amado povo!!! Viva a Venezuela!!!! Viva Bolívar!!!!!". Minutos depois, completou: "Obrigado, meu Deus! Obrigado a todos e a todas!!". A notícia foi recebida com dezenas de fogos de artifício em Caracas e centenas de pessoas se concentraram no Palácio de Miraflores para comemorar no local onde Chávez realizou o discurso à nação.
"O candidato da direita reconheceu a vitória bolivariana", disse ele. "Foi uma batalha perfeita". O presidente parabenizou a todos os venezuelanos pela participação democrática nas eleições e estendeu as "mãos e o coração" para Capriles.
Horas antes, Chávez conversou com seguidores e jornalistas depois de ter votado. Com o dedo mindinho manchado, ele reforçou que sua reeleição significaria uma consolidação do processo revolucionário levado a cabo desde seu primeiro mandato, em 1998.
“Meu sucessor? O povo será meu sucessor”, afirmou, ao ser questionado sobre quem escolheria para lhe suceder em uma eleição futura. “Aqui trabalhamos com outros códigos. Essa revolução não tem a ver com ‘Chávez’, mas o povo. Não pensamos em termos como esses”, sublinhou. O presidente ainda reiterou que seu governo na Venezuela é extremamente democrático e que reconheceria uma possível derrota.
O candidato da oposição reconheceu sua derrota na eleição presidencial em uma coletiva de imprensa poucos minutos depois do anúncio do CNE. “Para saber ganhar, é preciso saber perder”, disse Capriles citado pelo El Pais. “Para mim, o que o povo diz é sagrado”, garantiu. O candidato ainda parabenizou Chávez pela vitória. Ao contrário de eleições passadas, os grupos apoiadores de Capriles não acusaram o governo de fraudar os resultados.
Democracia
Elogiado pelo renomado Centro Carter, comandado pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, o sistema eleitoral venezuelano promete ser blindado contra fraudes e erros, já que passou por duas simulações nacionais, 16 auditorias e está sendo observado por 245 acompanhantes internacionais e cerca de quatro mil observadores nacionais. O chefe da missão de acompanhamento da Unasul (União das Nações Sul-americanas) na Venezuela, Carlos Álvarez, destacou a confiabilidade do sistema. "Em um processo em que se joga com certas notas dramáticas, o importante é contar com um árbitro de confiança", afirmou.
Primeiro, o eleitor apresenta a cédula de identidade e coloca seu polegar direito na máquina para a impressão digital. A urna então é habilitada quando os dados do eleitor aparecem na tela, conferidos com a identidade. Em seguida, o eleitor escolhe na tela tátil seu partido de preferência, entre os atuais 36 que estão habilitados. Aparecerá então em outra tela em frente ao eleitor a foto do candidato, o nome do partido e a opção "votar". A máquina imprimirá um boleto com o voto para que o eleitor verifique-o e deposite-o em uma urna de papelão. O terceiro passo será assinar a ata de presença e colocar outra vez sua impressão digital no caderno. Por último, cada eleitor deverá pintar seu dedo mindinho com uma tinta indelével, também para evitar qualquer tipo de fraude.
O resultado da contagem dos votos das urnas eletrônicas é confirmado com os recibos depositados na urna de papelão. Além de todo esse processo, os principais partidos políticos mobilizaram grandes grupos de fiscais para verificar a votação em cada uma das urnas do país. O PSUV conta com 50.397 fiscais, a MUD (Mesa da Unidade), coligação de Capriles, 52.776 e o candidato Luis Reyes, 830.
Voto facultativo, mas alta presença
Os eleitores compareceram em peso aos colégios eleitorais na Venezuela, totalizando participação de 81%. Desde a madrugada, milhares de eleitores faziam filas nos centros eleitorais e não foram registrados incidentes graves, segundo o CNE e os observadores da organização Comando Venezuela. Devido às extensas filas, o horário de votação foi estendido e quem estava esperando para votar, teve sua oportunidade.
Os venezuelanos também foram em grande número às representações diplomáticas no exterior. Nos Estados Unidos, onde vivem cerca de 750 mil cidadãos do país, os eleitores moradores da Flórida tiveram que votar em Nova Orleans, a 1.350 quilômetros de Miami, após a consulesa venezuelana na cidade ter sido expulsa pelo governo.
Cerca de sete mil venezuelanos fizeram a viagem. Alguns receberam passagens de ônibus e avião como doações de empresários.
Na embaixada em Washington, as filas começaram por volta das 4h30 da manhã. As sessões também ficaram lotadas na Espanha, na embaixada em Madri e no consulado em Barcelona.
Nos territórios palestinos, o representante diplomático venezuelano, Luis Daniel Hernández Lugo, acusou Israel de impedir cerca de 340 eleitores de votar devido a um bloqueio das cédulas pela empresa de correios DHL.
Reportagem de Marina Terra
foto:portugues.rfi.fr
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