O Ministério da Educação (MEC) lança, no próximo mês, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, estabelecendo que todos os estudantes devem estar alfabetizados ao fim do 3º ano do ensino fundamental, aos 8 anos de idade. É o que prevê também a 5ª meta do Plano Nacional de Educação (PNE), em tramitação no Congresso. No país todo, 5.182 municípios (93,2%) aderiram ao pacto e receberão material didático e cursos de formação docente. Para especialistas, o compromisso com a alfabetização é importante, mas a idade estipulada para que esse processo se concretize é questionada.
"Oito anos é muito tarde. O país já paga muito caro pelo histórico de falta de atenção à educação. Então, se a ideia é mudar isso, temos de centrar esforços e apostar em metas mais ousadas", afirma Izolda Cela de Arruda Coelho, secretária de Educação do Ceará. Os avanços dos anos iniciais fizeram o estado ser referência em alfabetização, tanto que o programa do MEC foi inspirado no que é desenvolvido pela rede cearense.
Segundo o neurocientista Ivan Izquierdo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a alfabetização tardia é uma questão cultural e mudar esse paradigma exige que as políticas públicas considerem, além do olhar dos pedagogos, a visão de outros cientistas. "Não dá para trabalhar isolado. O cérebro é uma questão da neurociência. Aos 3 anos, a criança já tem condições de dominar e usar a linguagem. Aos 6, já pode estar alfabetizado", ressalta.
O presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Araujo e Oliveira, explica que 6 anos é a idade de alfabetização na maior parte dos países que têm um idioma com complexidade similar à oferecida pela língua portuguesa. "Considerando que a escolarização tem começado aos 4 anos, não dá para conceber que se leve outros quatro para que essa criança leia e escreva", diz Oliveira.
A prova de que é possível realizar a tarefa de forma adequada e no prazo correto são as escolas privadas, diz a consultora educacional Ilona Becskeházy. "Se o aluno do colégio particular aprende a ler e a escrever no primeiro ano, por que a expectativa para quem depende da rede pública é maior?", questiona.
Apesar da capacidade neurológica das crianças, trabalhar com idade limite inferior aos 8 anos é utopia, considera Priscila Fonseca da Cruz, diretora executiva da ONG Todos pela Educação. "Uma meta precisa ser desafiadora, mas factível. É claro que há muitos que conseguirão ler aos 6 ou 7 anos, mas se conseguirmos uma régua que garanta que ninguém chegue aos 9 analfabeto, já é um bom início", diz. Ela lembra que a Prova ABC, aplicada a cerca de 6.000 alunos de escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais do país, mostrou que só metade dos estudantes estava plenamente alfabetizada aos 8 anos.
foto:grupoescolar.com
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