Para incentivar os portenhos a pedalar e desafogar o trânsito, o governo da cidade de Buenos Aires está estimulando empresas, universidades e ONGs a aderirem a um programa que prevê a distribuição e o empréstimo de bicicletas a funcionários e alunos. Estacionamentos e vestiários com chuveiros para os que chegam suados após a pedalada para o trabalho ou estudos também estão no plano.
Trata-se do programa chamado Mejor en Bici (Melhor de Bicicleta). Segundo dados do governo local, 107 empresas de diferentes setores como tecnologia, petróleo e alimentos, além de 28 ONGs e oito universidades, já foram classificadas como "amigas da movimentação sustentável" porque estão estimulando o uso de bicicletas.
De acordo com o subsecretário de Trânsito e de Transporte, Guillermo Dietrich, em troca, o governo oferece palestras sobre segurança no trânsito e assessoria na área de infraestrutura ligada às ciclovias. As empresas ainda ganham ainda um selo de "socialmente responsável".
O objetivo é que a bicicleta torne-se o principal meio de transporte de muita gente entre a casa e o trabalho – ou pelo menos até a metade do caminho.
Buenos Aires, com três milhões de habitantes, possui 90 quilômetros de ciclovias e um sistema integrado com 22 estações com 850 bicicletas gratuitas. O governo local planeja chegar a 120 quilômetros em três anos e 5 mil bicicletas grátis.
Para efeitos de comparação, em São Paulo, com 19 milhões de habitantes, a malha de ciclovias, incluindo as das áreas de lazer, é de 140 km, de acordo com o site da Prefeitura.
Já o Rio de Janeiro conta, no total, com 235 km de ciclovias, ficando atrás apenas de Bogotá, na Colômbia, entre as cidades sul-americanas, também segundo a Prefeitura.
Gratuitas
Em Buenos Aires, 57 mil pessoas estão registradas nos computadores das estações de bicicletas, segundo dados oficiais.
Na prática, muitos usam a bicicleta do programa para completar a viagem – por exemplo para chegar a estação de trem ou de metrô na ida ou na volta para o trabalho, para a universidade ou órgão público.
O sistema inclui a entrega de capacetes e o usuário deve devolver a bicicleta e o capacete até uma hora depois em outra estação de bicicletas.
"A maioria das viagens (dos que trabalham ou estudam) é de menos de cinco quilômetros e esse percurso pode se fazer facilmente de bicicleta", disse o subsecretário.
O universitário Ignácio Castiglioni, de 26 anos, pega a bicicleta em frente à faculdade de direito, no bairro da Recoleta, e vai até a estação de trem de Retiro, a cerca de 15 minutos dali, onde entrega a bicicleta e segue para casa, no bairro de Villa Devoto.
"É uma forma de fazer exercício e evitar os ônibus. Não sou apoiador deste governo, mas reconheço que esse sistema de ciclovias é bom", disse à BBC Brasil na estação em frente à faculdade.
'Ruas estreitas'
A construção de ciclovias gerou, inicialmente, criticas por parte de muitos motoristas, que reclamaram "das ruas mais estreitas".
"Pensaram que estávamos loucos, mas agora as pessoas começam a perceber a mudança, os resultados positivos", disse o subsecretário.
O psicólogo Federico Pardo adquiriu em Barcelona, na Espanha, onde morou, o hábito de usar a bicicleta como seu meio de transporte e acha que as críticas, em Buenos Aires, são uma questão de "adaptação" dos hábitos da sociedade.
"Aqui em Buenos Aires, vou de casa para o escritório de bicicleta e no fim de semana a coloco no trem para jogar futebol com os amigos em San Isidro", município da Província de Buenos Aires.
Mas há quem prefira não se arriscar com a bicicleta. A bioquímica Vanesa Mares diz que prefere caminhar ou usar o transporte público ou táxi. "Acho que ainda falta a conscientização dos motoristas em relação aos ciclistas", disse ela.
Estações
As estações de bicicletas públicas estão em vários pontos da cidade, como nas calçadas das avenidas Nove de Julio, no centro, ou em pontos da Recoleta e de Palermo. O serviço funciona de segunda a sexta das oito da manhã às oito da noite e sábados das nove da manha às três da tarde.
Quase dois anos após a inauguração das primeiras ciclovias, em dezembro de 2010, o número de viagens em bicicleta já representa 2% dos descolamentos em Buenos Aires. O objetivo das autoridades é ampliar esse percentual para 5%, em três anos.
Atualmente, 60% do transporte de passageiros é feito em ônibus.
Reportagem de Maria Carmo
fonte:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/09/120903_bicicleta_argentina_mc.shtml#page-top
foto:sinelma.com.br
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