28/09/2012

Britânicos despontam entre novos investidores no Brasil


Firmas britânicas de todos os portes estão correndo para fincar o pé nos setores mais promissores da economia brasileira - e a visita do primeiro-ministro David Cameron ao Brasil é uma tentativa de dar uma mão nesse processo e reverter o que o governo britânico chamou de século de 'negligência' com o País.
Prova disso é que a Grã-Bretanha foi o segundo país que mais anunciou investimentos em novos negócios no Brasil no ano passado, atrás apenas dos EUA - e por pouco. As informações estão em um relatório recente da consultoria Ernst & Young, que mapeia as expectativas dos empresários britânicos sobre o mercado brasileiro.
Em 2010, os britânicos ocupavam a quinta posição nesse ranking, montado com dados da fDi Intelligence (ligada ao jornal Financial Times) que excluem fusões e aquisições e investimentos em ações.
Segundo a Ernst & Young, em 2011, companhias britânicas anunciaram a inauguração de 45 novos negócios em solo brasileiro, um aumento de 125% em relação a 2010.
Elas injetaram ou pretendiam injetar nessas novas empresas, filiais e projetos US$ 12,2 bilhões, criando 21.040 empregos no Brasil. Os EUA anunciaram investimentos US$ 12,3 bilhões. E os aportes da Espanha, terceira colocada, foram de apenas US$ 4,4 bilhões.
A perspectiva para 2012 e 2013 é que a presença britânica no Brasil aumente substancialmente. "Primeiro, porque a expertise adquirida com a Olimpíada de Londres abriu novas oportunidades de negócios no Brasil para os empresários britânicos", disse à BBC Brasil Ed Hudson, diretor-executivo da Ernst & Young. "Depois, porque empresas como a British Gas (BG) já anunciaram investimentos de peso para os próximos anos, que ainda não foram totalmente contabilizados."

Gás e petróleo

Segundo a agência britânica de comércio e investimentos (UKTI), de 2008 a 2010, o número de empresas britânicas que procuraram ajuda para acessar o mercado brasileiro cresceu 500%. A Ernst & Young entrevistou 50 grandes empresários britânicos para seu relatório. Desses, 28 disseram ter planos para investir no Brasil.
Um dos setores que mais enche os olhos britânicos é o energético, por causa das promessas do pré-sal. Se até meados dos anos 2000, o Brasil estava fora do mapa global de produtores-chave de gás e petróleo, segundo a Ernst & Young, hoje, um terço dos grandes empresários britânicos já veem o País como um "líder" no setor de energia.
Só a BG estaria planejando investir no País até 2025 um total de US$ 30 bilhões - mais que o PIB da Bolívia -, segundo informações de seu vice-presidente de assuntos corporativos, Henrique Rzezinsk, divulgadas pela agência de notícias Reuters.
A BG espera que um terço de sua produção venha do Brasil até 2020. Se confirmados, esses investimentos farão da britânica a empresa estrangeira que mais investe no setor no País.
Outras gigantes britânicas que ampliaram suas operações no Brasil neste setor são a British Petroleum, a Shell e a Rolls Royce que, em 2011, anunciou investimentos de US$ 60 milhões em uma fábrica de turbinas para a indústria de petróleo em Santa Cruz, zona oeste do Rio.
Mas as empresas de menor porte também estão atentas para aproveitar as oportunidades desse mercado e, de quebra, fugir da estagnação das economias europeias.
Com 30 funcionários e sede na cidade de Nottingham, a ILS English, empresa especializada em treinamentos corporativos e cursos de inglês, conquistou seu espaço no Brasil com um pacote voltado justamente para funcionários de companhias de petróleo e gás, embora também trabalhe com empresas de outros setores.
"Fizemos parcerias com firmas locais para que elas nos ajudassem a entender as particularidades do mercado brasileiro", conta Pam Dubois, diretora da ILS.

Negócios esportivos

Um segundo filão explorado pelas britânicas é o dos serviços e projetos ligados à Olimpíada de 2016 e Copa de 2014, no qual elas tentam aproveitar a expertise adquirida com os Jogos deste ano em Londres.
Pelo menos 20 empresas britânicas já garantiram contratos relacionados a esses eventos no Brasil de acordo com a cônsul britânica no Rio, Paula Walsh, entre elas companhias da área de transporte (Steer Davies Gleave), comunicações (VERO), recursos humanos (Odgers Berndtson) e sustentabilidade (Useful Simple).
A filial britânica da AECOM, responsável pelo projeto do Parque Olímpico de Londres, também desenhou o projeto escolhido para o Parque do Rio.
Além disso, Alan Collins, diretor da UKTI, calcula que as companhias do país ainda possam abocanhar, principalmente em parcerias com firmas brasileiras, 1 bilhão de libras (R$ 3,1 bilhão) em contratos.
Foram as perspectivas dessa área que levaram a empresa de design e construção de marcas The Works, com sede em Leeds, a abrir um escritório em São Paulo em julho, segundo seu diretor, Roy Webber.
Especializada em marketing esportivo, a empresa já havia conseguido um contrato importante no Brasil. "No momento, temos seis funcionários na capital paulista, mas ainda vamos precisar de mais gente", diz Roy.

Expansão da classe média

Outra área de negócios que têm chamado a atenção dos britânicos é a educacional. Universidades britânicas veem nos estudantes não-europeus - que pagam mais caro - uma forma de aliviar o aperto financeiro gerado pela crise econômica no país. Hoje, elas amealham 7 bilhões de libras (R$ 23 bilhões) com tais estudantes e a ideia é dobrar esse valor até 2025.
Segundo John Doddrell, Cônsul Geral da Grã-Bretanha em São Paulo e diretor da UKTI no Brasil, essas universidades estão se organizando para recrutar em terras brasileiras. "Temos uma participação cada vez maior em feiras educacionais, por exemplo", diz. Em outubro, 46 instituições de ensino britânicas participarão de uma feira de recrutamento de estudantes no Rio e em São Paulo.
O governo brasileiro também já declarou que pretende financiar 10 mil estudantes na Grã-Bretanha como parte do projeto Ciência sem Fronteiras.
Para Hudson, nessa e em outras áreas, um fator que ajuda a atrair as empresas britânicas é o o crescimento da classe média brasileira - que amplia a base de consumidores para determinados produtos e serviços.
Diversas marcas de roupas e confecções se animaram com o mercado brasileiro nos últimos anos. A Burberry abandonou o sistema de franquias no País em 2008 e tomou fôlego para expandir com lojas próprias.
A Nature’s Purest abriu sua primeira loja brasileira em 2010, a Topshop fez sua estreia em um shopping de luxo recém-inaugurado e a Laura Ashley está produzindo roupas de bebê em Ibitinga, interior de São Paulo.
A produtora de bebidas Diageo, fabricante do whisky Johnnie Walker e da cerveja Guinness, em maio, comprou a cachaça Ypióca, do Ceará, por R$ 900 milhões e quer ampliar as vendas para consumidores brasileiros. De quebra, também espera que a Olimpíada e a Copa aumentem a visibilidade e consumo no exterior do drinque nacional brasileiro.
A próxima festa olímpica pode ser brasileira, mas os britânicos já apostam que vão lucrar com a caipirinha.

Reportagem de Ruth Costas
foto:spliceempreendimentos.com.br



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